Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2017 às 05h15.
Última atualização em 10 de agosto de 2017 às 05h15.
A área de biotecnologia é a que mais cresce na indústria farmacêutica. Com foco em tratamentos mais personalizados, é um segmento mais rentável do que o de medicamentos distribuídos em farmácias. É nesse mercado que o laboratório suíço Roche finca cada vez mais os pés.
A companhia trouxe recentemente ao Brasil o serviço de análise do genoma para tratamento de câncer, estratégico para pesquisa e desenvolvimento de novas terapias contra a doença. “Essa unidade complementa as divisões de diagnósticos e de fármacos”, diz Rolf Hoenger, presidente da Roche no Brasil. A análise de mais de 300 genes permite entender o perfil do tumor e as alterações moleculares que estão contribuindo para seu avanço. Os dados são comparados com mais de 100.000 casos da doença em todo o mundo, disponíveis num banco de dados da empresa.
Esse tipo de estudo é fundamental porque as terapias contra o câncer já respondem por 65% do faturamento da Roche no Brasil, pautando também boa parte de seus lançamentos. Em 2016, a empresa lançou quatro medicamentos e prevê mais três para este ano, entre eles um para o câncer de pulmão. “Lançar medicamentos é parte crucial da estratégia e do sucesso de nosso negócio”, diz Hoenger.
Desde a revolução que os genéricos causaram na indústria farmacêutica brasileira, algumas empresas foram deixando o segmento de remédios mais simples e distribuídos em farmácias e migraram para o de fármacos mais complexos. Foi o caso, além da Roche, de suas concorrentes Novartis (também suíça) e Sanofi (francesa). “Esses produtos têm preços e margens mais altas e são vendidos ao governo”, diz Lourival Stange, consultor da área farmacêutica.
Nesse setor, inovação é essencial. A Roche destinou 120 milhões de reais no ano passado para pesquisas clínicas no Brasil e pretende gastar um valor similar neste ano. O investimento contínuo em pesquisa tem rendido bons resultados, mas em 2016 alguns indicadores foram mais modestos devido à crise econômica. O faturamento, por exemplo, teve queda de 5% em relação a 2015, somando 955 milhões de dólares. A última linha do balanço, porém, continuou forte, com lucro de 115 milhões de dólares e uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido de 22%.
O principal impacto negativo nas vendas veio do setor público. Grande cliente, o Sistema Único de Saúde mudou o tratamento de hepatite C, passando a importar um novo medicamento em substituição a um produzido pela Roche. Além disso, o governo reduziu os estoques de segurança de outros dois medicamentos fabricados pela empresa. Parte da queda na demanda foi compensada pela regionalização das vendas para o setor público, ampliando a negociação com os serviços de saúde estaduais. Uma iniciativa para diminuir a dependência da economia local é o aumento das exportações. De 2015 a 2020, a Roche pretende investir 300 milhões de reais na modernização de sua fábrica no Rio de Janeiro. “O plano é tornar o Brasil um centro de exportação para a América Latina”, afirma Hoenger.