Revista Exame

Boa Vida | A pleno vapor

Esqueça o tradicional banho turco. Os novos hamams, para homens, mulheres e até crianças, mais parecem spas

Torre de Gálata: visita tão obrigatória quanto os novos hamams | Getty Images /

Torre de Gálata: visita tão obrigatória quanto os novos hamams | Getty Images /

DR

Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2019 às 05h22.

Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h13.

Tudo começou com os gregos, sempre eles. entre uma filosofada e um cálculo matemático, alguém teve a lucidez de esquentar umas pedras para aquecer a água e o local do banho. Nascia assim o primeiro banho público (e quente) da história moderna. De Esparta para Roma, a novidade ganhou beleza, glamour, acabamentos em mármore e até um nome: termas.

Por mais de 1000 anos, o ritual foi um dos pilares da cultura romana. Mas foi somente em 330 d.C., quando o Império Romano decidiu mudar sua capital para Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), que os banhos coletivos passaram a ter função religiosa. Segundo os preceitos islâmicos, todo fiel deve estar limpo antes das preces. O wudu, como é chamado, foi o empurrão extra para a popularização do banho turco.

Quase 2000 anos depois, os banhos turcos mantêm o protagonismo na sociedade otomana. Somente em Istambul são mais de 60 estabelecimentos funcionando a pleno vapor. A boa notícia para nós, ocidentais, é que os mais luxuosos são abertos a visitação, tão obrigatória quanto subir a Torre de Gálata.

O mais antigo foi construído em 1556 pelo arquiteto Mimar Sinan, espécie de Niemeyer da Turquia. Faz parte do complexo da mesquita de Ayasofya, a obra mais magnífica da cidade. O hamam (como é conhecido o banho turco por lá), criado a pedido da esposa do sultão Suleyman, o Magnífico, foi construído no mesmo local onde os gregos mantiveram um banho público de 100 a 200 d.C. Não muito longe dali — e também construído por Sinan — está o Çemberlitaş. Operando non-stop desde 1584, esse hamam é o preferido dos turistas. Funciona 365 dias por ano, das 6  da manhã até a meia-noite.

Outra boa opção para quem busca a tradição dos hamams com um twist mais moderno é o Çırağan Palace Kempinski. Há quatro níveis de massagem disponíveis: Pasha, Sherazade, Sultão e VIP. Não precisamos nem reforçar qual delas você deve fazer, não é? O ritual, que dura 80 minutos, começa com esfoliação com sementes de uvas, café, açúcar-mascavo ou cristais de mel. A escolha é sua. Ainda na opção VIP o tratamento inclui massagem na cabeça, nas mãos e nos pés — coisa rara nos hamams mais convencionais. Nunca é demais lembrar que o Çırağan é o único hotel de Istambul acessível de carro, barco e helicóptero.

Mais do que um processo de higiene, os banhos públicos, para os turcos, têm função social. É a padaria do bairro, o boteco da esquina. Homens de um lado, mulheres do outro. Em alguns é possível agendar hora para um casal e até para crianças maiores de 6 anos. “Antigamente as mães iam aos hamams para encontrar a nora ideal”, afirma Deniz Met, diretora do luxuoso Raffles Hotel, que abriga um dos spas mais sofisticados da Turquia. “Podiam ficar conversando longamente, além de identificar as mais bonitas, já que estavam todas nuas.”

Com 3 000 metros quadrados de área, o spa é muito usado por noivas que reúnem as melhores amigas e os familiares para uma espécie de despedida de solteira. Além do ritual e da massagem, uma piscina cinematográfica fica à disposição das convidadas. 

Piscina do spa do hotel Raffles: parte do ritual do moderno banho turco | Divulgação

Foi no Raffles que tive minha primeira experiência num hamam. Depois de trocar minhas roupas por um pestemal, tradicional toalha turca fininha e ultra-absorvente, andei até uma das sete salas aquecidas, todas revestidas de mármore bege e iluminação reduzida. Não chega a ser quente como uma sauna, mas é o suficiente para abrir os poros da pele.

Tradicionalmente, os tellaks (como são chamados os massagistas) são do mesmo sexo do cliente. No meu caso foi diferente: vestida com um maiô preto da Adidas e um pestemal amarrado na cintura, a profissional, que não falava inglês, apenas apontou uma enorme mesa de mármore no centro da sala. Deveria me deitar ali, barriga virada para baixo.

Enquanto a massagista preparava uma emulsão que combina água, óleos essenciais, lavanda orgânica, mel e leite, meu corpo tentava se adaptar ao calor emanado pela pedra — essa, sim, bastante quente. Passados alguns minutos, a tellak arma-se com uma esponja natural para iniciar a esfoliação da pele. Quando perguntarem qual intensidade você prefere — fraca, média ou forte —, jamais escolha a última. Me senti como um peixe sendo descamado na beira da praia por habilidosos pescadores. Fingi que estava tudo bem e segui firme, sem demonstrar minha dor e meu desconforto por quase 30 minutos.

Quando minha pele já estava lisinha e rosada como uma posta de cação, chegou a vez da recompensa. Köpük é o banho de espuma com aquela emulsão preparada no início da sessão. Serve para hidratar a pele esfoliada e (aí, sim) relaxar o cliente. A massagista mergulha uma espécie de fronha no líquido e, em seguida, chacoalha o tecido para que o ar dê uma inflada, como a vela de um barco ao vento. O resultado é uma espuma densa, aromática, tranquilizante.

Nesse momento você se sente mimado. Suas mãos deslizavam em meu corpo com agilidade e precisão. Os 90 minutos da sessão já pareciam insuficientes para essa vida de sultão. Foi quando ela disparou a única palavra em inglês: “Ice?” O tratamento é encerrado com gelo triturado sobre o corpo para ativar a circulação. Opcional, diga-se de passagem. 

Embarque próximo

Em abril deste ano, o novo aeroporto de Istambul foi inaugurado ao custo de US$ 12 bilhões. Projetado para ser o maior do mundo, o aeroporto terá capacidade para atender 200 milhões de passageiros por ano, até 2025. Atualmente o aeroporto de Atlanta, nos EUA, é o mais movimentado de todos: são 107 milhões de passageiros transportados por ano.

É de lá que a Turkish Airlines opera a maior rede aérea do mundo. São 309 destinos em mais de 100 países, incluindo o Brasil. O que pouca gente sabe é que quem pousa em Istambul para conexões superiores a seis horas pode embarcar, gratuitamente, em tours oferecidos pela companhia.

Os passeios duram de 3h30 a 8h30, dependendo do horário e dia da semana. Para os mais preguiçosos, tem tour que não precisa nem sair do ônibus. Há também a clássica caminhada pelos pontos turísticos e até um passeio de barco pelo Bósforo, o estreito que divide a Europa da Ásia, com jantar incluso.

Se você optar pelo tour que percorre a cidade velha, não deixe de espiar os dois hamams mais antigos da cidade que estarão no caminho: Ayasofia e Cemberlitas.

Acompanhe tudo sobre:TurismoTurquiaviagens-pessoais

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025