Carnatal, em Natal (RN): as queixas no Colab.re ajudaram a prefeitura a identificar lâmpadas danificadas (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 16 de fevereiro de 2016 às 13h01.
São Paulo — Tornou-se um hábito para Jonas Donizette, prefeito de Campinas, no interior paulista, receber em seu celular queixas de moradores sobre problemas na cidade. As reclamações vêm por meio do Colab.re, aplicativo em que os cidadãos denunciam o que consideram estar errado na cidade.
É uma espécie de rede social de queixas urbanas: ali, os cidadãos tiram fotos, usam GPS para identificar onde está o problema e podem curtir as denúncias dos conterrâneos. Como numa publicação do Facebook, os interessados recebem alertas sobre o andamento do caso.
Desde junho de 2015, foram 1.500 ocorrências em Campinas — as mais comuns são de buracos nas vias, carros estacionados em locais proibidos e lixo na rua. Para o gestor público, a vantagem da ferramenta é mostrar quem na prefeitura está cuidando do caso, porque isso agiliza a cobrança do que empacou nos meandros da burocracia.
“Em algumas secretarias, a solução dos problemas ficou três vezes mais rápida”, afirma Donizette. Criado em 2013 por quatro profissionais pernambucanos com experiência em campanhas políticas, o Colab.re atende a um desafio crescente para os prefeitos: a popularização de smartphones tornou praticamente impossível esconder as mazelas decorrentes da má prestação dos serviços públicos.
As reclamações, que antes ficavam restritas ao telefone ou aos guichês de atendimento, hoje ganham eco nas redes sociais. “Para o gestor público, é melhor estar lá e mostrar disposição de diálogo”, diz o publicitário Gustavo Maia, sócio do Colab.re.
Atualmente, o aplicativo recebe 3.000 queixas mensais, enviadas por moradores de 97 cidades cujas prefeituras mantêm convênios para usar a tecnologia, que custa de 30.000 a 250.000 reais por ano. Em algumas das cidades que usam o Colab.re, a patrulha digital passou a orientar as práticas da administração pública.
Em Porto Alegre, em maio do ano passado, a guarda de trânsito começou a montar blitzes frequentes nas regiões com mais queixas pelo aplicativo sobre carros estacionados em locais proibidos. Em dois meses, as multas cresceram 10%, mas as ações educaram os motoristas e houve depois uma diminuição no número de notificações.
Em Natal, a prefeitura fez mutirões de eletricistas nos bairros com mais registros de iluminação danificada. As centenas de denúncias de pontos de focos do mosquito da dengue no Colab.re permitiram à administração de Teresina montar mapas das regiões críticas da epidemia.
“Os dados estão servindo de base para a atuação de 160 militares que estarão na cidade até fevereiro para erradicar o mosquito”, diz o prefeito de Teresina, Firmino Filho. O emprego da tecnologia nas 21 secretarias municipais de Santos, no litoral paulista, permitiu à administração criar metas para o atendimento das demandas — casos simples, como buracos de rua, devem ser resolvidos em três dias.
Segundo a ouvidoria da prefeitura local, 71% das ocorrências registradas no Colab.re cumprem o prazo. Em 19 de janeiro, EXAME testou o aplicativo em Santos e encaminhou quatro queixas para a prefeitura da cidade. Uma delas foi referente a um buraco em uma via do bairro do Gonzaga. Até o fechamento da edição, em 25 de janeiro, o problema continuava por lá.
No exterior, o uso de tecnologia para cobrar a melhoria dos serviços públicos não é novidade. Uma das referências é o americano SeeClickFix, aplicativo utilizado por 25.000 cidades e que já ajudou a resolver 1,8 milhão de reclamações desde sua criação, em 2008.
“Os cidadãos já se acostumaram com a ideia de que a tecnologia é uma aliada”, diz o economista Edward Glaeser, da Universidade Harvard, um dos mais reputados estudiosos de questões urbanas. No Brasil, um bom sinal disso é o surgimento de concorrentes ao Colab.re.
O Instituto TIM lançou, em 2015, o ZUP, ferramenta já implantada em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e em Boa Vista, Roraima.
A catarinense Softplan, desenvolvedora de softwares de gestão, investiu 380.000 reais no aplicativo Cidadanize e prevê chegar a 30 órgãos públicos até 2017. Com o uso de recursos digitais a serviço do cidadão, os prefeitos terão cada vez mais com o que se ocupar nas telas dos celulares.