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A moda agora é alugar

Impulsionado por startups, o mercado de aluguel de roupas deverá mais do que quadruplicar daqui a uma década nos EUA — e grandes marcas já estão se mexendo

Loja da Macy’s, nos Estados Unidos: ofertas para quem quer ter sem comprar (Jon Hicks/Getty Images)

Loja da Macy’s, nos Estados Unidos: ofertas para quem quer ter sem comprar (Jon Hicks/Getty Images)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 26 de setembro de 2019 às 05h32.

Última atualização em 26 de setembro de 2019 às 09h59.

economia compartilhada vem mudando o mercado de automóveis, de hospedagem e, mais recentemente, o da moda. Em agosto, as tradicionais redes americanas Urban Outfitters e Banana Republic, ambas pertencentes à Gap, anunciaram serviços de aluguel de roupas. No modelo da Urban Outfitters, sob a marca Nuuly, o cliente pode assinar por 88 dólares uma caixa mensal com seis peças entre as centenas disponíveis no site e, se gostar, comprá-las depois.

Na Banana Republic, o serviço é semelhante, mas a oferta é de três peças mensais, de um cardápio de 100 disponíveis, por 85 dólares. A tendência é que mais serviços como esses sejam lançados em breve. A varejista Macy’s entrou em setembro na disputa de roupas alugadas ao passar a oferecer o serviço em sua rede de luxo Bloomingdale’s.

O aluguel de roupas já existe no mundo físico há muito tempo. O que se vê agora é a proliferação de novas empresas com a oferta de aluguel pela internet. E, de modo inédito, a entrada das principais companhias especializadas no segmento de fast fashion para esse nicho. Elas acompanham o avanço dos consumidores nessa direção. Segundo a consultoria de consumo GlobalData, as receitas do mercado de aluguel de roupas deverão mais que quadruplicar na próxima década nos Estados Unidos — ao chegar a 4 bilhões de dólares (veja quadro ao lado).

Respondendo a uma sondagem feita neste ano pela consultoria de estratégia McKinsey, 44% dos executivos do setor de moda afirmaram que a expansão desse modelo será perceptível já em 2020. Especialistas creditam a tendência à mudança de comportamento do consumidor, que está dando mais valor à sustentabilidade e ao reúso das roupas.

De 2017 para cá, o número médio de peças nos guarda-roupas das mulheres americanas caiu de 164 para 136, segundo a empresa de pesquisa GlobalData. “As pessoas estão dispostas a compartilhar o vestuário, e as marcas que perceberem isso sairão na frente”, diz Eloisa Artuso, diretora educacional da Fashion Revolution, uma ONG que monitora o setor de moda.

Como em outros nichos da economia compartilhada, as startups abriram caminho e as grandes as seguem. Foi assim no caso dos automóveis, em que grandes montadoras, como BMW e Toyota, passaram a aderir ao modelo de compartilhamento à medida que os consumidores demonstravam menos disposição para comprar carros após a ascensão de serviços online de transporte, como o Uber.

Grandes redes de hotéis, como a americana Marriott, uma das maiores do mundo, começaram a fortalecer a oferta de novos serviços online, entre eles a inclusão de outras redes em seus sites, após a ascensão das reservas pela internet e do site de compartilhamento de imóveis Airbnb. No caso do mercado de moda, uma das pioneiras no segmento de compartilhamento de roupas é a americana Rent the Runway, que opera online desde 2009 e permite aluguéis ilimitados pela taxa mensal de 159 dólares. Neste ano, a companhia foi avaliada em 1 bilhão de dólares, depois de uma captação de investimento de 120 milhões de dólares realizada por um fundo.

No Brasil não há dados sobre o tamanho desse mercado — e a oferta ainda se concentra em pequenos empreendedores, que iniciaram as operações nesta década e começam a ampliar os serviços. A paulistana Dress and Go surgiu em 2012 ao oferecer uma plataforma online de aluguel de vestidos de luxo. As fundadoras Barbara Almeida e Mariana Penazzo foram colegas no curso de administração da escola de negócios Insper e trabalhavam no mercado financeiro quando decidiram empreender no segmento.

Com o crescimento do negócio, neste ano a Dress and Go começou a percorrer o Brasil com lojas temporárias e prepara a oferta de uma assinatura de roupas de uso diário. “Há alguns anos as pessoas tinham vergonha de dizer que estavam com uma peça alugada. Hoje elas se mostram orgulhosas em contar que a roupa é de uma loja de aluguéis”, diz Barbara.

Parte dessas startups passou a oferecer a possibilidade de os clientes não apenas alugarem roupas como também colocar para alugar as próprias peças esquecidas no guarda-roupa. É assim na Dress and Go e na BoBags, empresa de aluguel de acessórios de luxo lançada em 2016 pela carioca Isabel Braga. Hoje 40% dos itens da BoBags são de pessoas físicas ou marcas que oferecem acervos no site. Um estudo em parceria com a Faculdade Getulio Vargas de São Paulo estimou que em 2018 a BoBags devolveu 20 milhões de reais para o bolso dos clientes. Nessa conta, entrou tanto o que os clientes levaram com o aluguel de suas peças quanto o que ganharam pelo uso temporário no lugar da compra de um item.

“As pessoas não utilizam metade do que têm no guarda-roupa. Alugar é uma forma eficiente de obter renda e de consumir”, afirma Isabel, fundadora da BoBags. A migração das marcas tradicionais para esse modelo será o grande teste dos limites da mudança de comportamento. E, pelas projeções, não vai demorar muito tempo até ficar claro se a moda pegou.

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