Fazenda de laranja na Flórida, nos EUA: a produção no estado americano despencou recentemente, e o setor da citricultura quer diminuir barreiras comerciais ao suco de laranja brasileiro (Joe Raedle/Getty Images)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 22 de março de 2024 às 06h00.
Última atualização em 2 de abril de 2024 às 11h27.
Washington - A Flórida tem o apelido de Orange State, o “estado da laranja”, tamanha a importância da fruta em sua história. Mas sua produção teve uma queda brutal em 2023 e recuou aos níveis dos anos 1920. Com isso, produtores brasileiros veem uma oportunidade para ampliar suas exportações de suco de laranja para os Estados Unidos, mercado em que o Brasil é líder mundial.
No entanto, para isso é preciso que os Estados Unidos revejam barreiras comerciais. Há uma taxa de 415 dólares por tonelada de suco concentrado exportado do Brasil. “Essa tarifa nasceu com o objetivo de proteger o produtor da Flórida, o que fazia muito sentido nas décadas de 1980 e 1990 porque o Brasil, com sua competitividade, colocou muita pressão no mercado americano”, diz Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, entidade que reúne produtores de suco. “Com a produção da Flórida caindo a níveis quase inexpressivos, essa tarifa deixou de fazer sentido.”
Assim, o setor de produção de suco de laranja tem pedido ao governo brasileiro que avance nas conversas com as autoridades americanas para reduzir ou remover essas tarifas. Esse foi um dos temas debatidos durante um evento organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) no começo de março, que reuniu empresários, adidos agrícolas e outras autoridades diplomáticas em Washington. O presidente da Apex, Jorge Viana, teve reuniões com autoridades americanas no Congresso e no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Ibiapaba afirma que a redução ou o fim da tarifa ajudaria o Brasil a ganhar espaço no mercado de suco de laranja nos Estados Unidos, que movimenta em torno de 700 milhões de dólares por ano. Como a Flórida é o principal produtor do item no país, sua queda na produção gerou desabastecimento e alta de preços, com o galão de suco sendo vendido acima de 10 dólares. Em seu auge, nos anos 1990, o estado americano produzia algo em torno de 250 milhões de caixas de laranja por ano. No entanto, na temporada 2023-2024, a expectativa é que esse volume fique em 20,5 milhões, segundo projeção do USDA, patamar similar ao dos anos da Grande Depressão.
A queda se deveu a dois fatores. Primeiro, dois furacões atingiram áreas de laranjais no ano passado. O segundo foi a doença greening. Uma bactéria faz com que a planta não amadureça de forma adequada e caia do pé antes da hora. Se a planta ficar infectada de forma contínua, deve morrer em até cinco anos, o que pode fazer com que grandes áreas parem de produzir. O problema também atingiu o Brasil, mas o país foi mais ágil em conter os efeitos da praga, graças ao trabalho de cientistas, parte deles mantida pelos produtores e indústrias do suco no país. O Brasil produz 34% das laranjas do mundo, e 60% do total de suco de laranja industrializado. Além disso, representa 75% do comércio internacional da bebida, apontam dados do CitrusBR. A abertura de mercado ajudaria os consumidores americanos e os produtores brasileiros.
O jornalista viajou a convite da Apex