Revista Exame

A fonte do nosso atraso

Com o poder público produzindo controles insanos 24 horas por dia, e mantendo a infraestrutura pouco além da idade da pedra, não há como o Brasil ser mais competitivo e sair de onde está

Plantação de soja em mato grosso: até no agronegócio o Brasil já deixou de ter vantagem competitiva (Ricardo Teles/Pulsar Imagens)

Plantação de soja em mato grosso: até no agronegócio o Brasil já deixou de ter vantagem competitiva (Ricardo Teles/Pulsar Imagens)

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Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2011 às 14h16.

São Paulo - OBrasil se acostumou, nos últimos anos, a ouvir, falar e discutir a palavra “competição”, ou sua forma mais alongada, “competitividade”. Não só o Brasil. Na maioria dos países com ambições de crescer, ou de defender sua posição econômica atual, medidas para melhorar a infraestrutura, simplificar o sistema legal e apoiar a atividade produtiva, com o objetivo de enfrentar a competição internacional, passaram a ser um objetivo estratégico de governos, partidos políticos, empresas e até de sindicatos.

Uns fazem tal trabalho com mais competência. Outros com menos. Alguns não fazem nada — ou fazem tão pouco, tão devagar e tão mal que acaba dando na mesma. Para todos, porém, vale a mesma lei: os resultados de cada um, medidos em termos de desempenho econômico, estão diretamente ligados à sua capacidade de competir.

Quem faz o que deve ser feito vai adiante. Quem não faz fica parado — ou vai para trás. O Brasil, para surpresa de ninguém, está nessa segunda turma.

No período de 20 anos terminado em 2008, a produtividade da economia brasileira variou em torno de 0%; não é preciso dizer muito mais para constatar o estrago que essa estagnação está trazendo para a competitividade do Brasil, sobretudo quando se considera que outros países experimentaram, no mesmo espaço de tempo, avanços na casa dos 40% ou dos 50%. 

À primeira vista, parece mais uma dessas contas que vivem sendo produzidas por alguma organização internacional de vigilância econômica, e que costumam, contra todas as evidências visíveis, dar ao Brasil as notas mais infames em qualquer índice de desempenho que estejam medindo.

Como a produtividade brasileira poderia ter tido um crescimento zero nestes 20 anos se houve tantos progressos, comprovados e importantes, em tantos setores da economia nacional? Pensando com um pouco mais de atenção, entretanto, logo se vê que a coisa vai mal.

Sim, houve ganhos de produtividade notáveis, mas sempre confinados a algum setor específico da atividade econômica; a agricultura é provavelmente o melhor exemplo desse avanço. No cômputo geral da economia brasileira, porém, a ineficiência acaba por anular os progressos obtidos nas áreas mais dinâmicas.


Na verdade, até o agronegócio, atual­mente, vem perdendo competitividade; por força de custos irracionais colocados em cima da produção, como mostrou uma recente reportagem de EXAME, o Brasil já deixou de competir com vantagem em atividades essenciais, como soja, açúcar, carnes ou celulose. Deficiências calamitosas na infraestrutura, sobretudo no item transporte, são as principais responsáveis por esse retrocesso.

As dificuldades que a economia brasileira tem para competir não são resultado de condições naturais ou adversidades impossíveis de controlar; derivam, maciçamente, de opções tomadas por quem está em posição de decidir.

Empresas cujo modelo de negócios se resume a descobrir qual o maior preço que podem cobrar por seus produtos ou serviços certamente não contribuem em nada para a competitividade. Mas é o poder público, mais que qualquer outro fator, o grande culpado pela situação — funciona, na prática, como uma usina que produz atraso 24 horas por dia.

Por um lado, mantém de pé um conjunto insano de leis, controles e regulamentos que geram efeito exatamente oposto ao pretendido: em vez de proteger a população e o interesse publico, só servem para aumentar custos e produzir preços  mais altos para tudo.

Ao mesmo tempo, mantém a infraestrutura do país pouco além da idade da pedra, com a imutável desculpa de que os responsáveis são os governos anteriores.

Capacidade de competir não é um assunto de economistas e empresários. É um instrumento decisivo para o progresso so­cial, por influir diretamente na criação de renda, empregos, in­ves­timento e tudo mais que pode haver de positivo para a eco­no­mia de um país. Enquanto o mundo político continuar ig­norando essa realidade, o Brasil não vai sair de onde está.

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