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A febre do made in China está passando

Para o presidente mundial da consultoria BCG, a elevação dos custos na maior economia da Ásia está transformando o mapa da indústria mundial

Rich Lesser: “A indústria brasileira vai ter de investir em aumento da produtividade” (Leandro Fonseca/EXAME)

Rich Lesser: “A indústria brasileira vai ter de investir em aumento da produtividade” (Leandro Fonseca/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2014 às 17h18.

São Paulo - Pra o americano Rich Lesser, presidente mundial da consultoria americana Boston Consulting Group (BCG), o mundo já não é mais o mesmo para a indústria. A consultoria acaba de analisar o ambiente de negócios dos 25 maiores exportadores do mundo, entre eles Estados Unidos, China e Brasil.

E a conclusão é a seguinte: embora a China continue a ser o lugar mais barato para se produzir, o mundo se tornou um lugar muito mais homogêneo em termos de custos e de competitividade. Aquela velha ideia de que bastava colocar todas as máquinas em cima de um navio e zarpar em direção a um país mais barato, diz Lesser, hoje, não faz mais sentido.

1) EXAME - O que mudou no mapa da indústria mundial nos últimos dez anos?

Rich Lesser - Existia a ideia simplória de que para uma empresa ir bem era preciso encontrar um país de baixo custo e mudar a produção para lá. Agora, as coisas não são mais assim. O mundo se tornou um lugar mais homogêneo para a indústria,  já que a diferença de custos entre os países diminuiu. 

2) EXAME - O que explica essa transformação? 

Rich Lesser - Houve uma mudança substancial nos padrões de competitividade dos países. Isso fica claro quando são analisados os salários, a produtividade, o câmbio e os custos de energia. Enquanto o custo da energia caiu dramaticamente nos Estados Unidos, os salários e o custo de vida aumentaram muito na China e no Brasil.

3) EXAME - A pesquisa confirma que o Brasil está perdendo competitividade?

Rich Lesser - Sim. O custo para a indústria no Brasil aumentou cerca de 25% em dez anos. As empresas brasileiras são ótimas. Algumas das melhores indústrias do mundo estão aqui. Mas, como os custos subiram, elas terão de fazer investimentos significativos em produtividade se quiserem se diferenciar. 

4) EXAME - Como isso pode ser feito?

Como elas não têm como competir em termos de custos, a prioridade precisa ser produtividade, inovação, qualidade e capacidade de compreender o cliente. Essa é a saída.

5) EXAME - A indústria brasileira tem como reverter a queda de participação no PIB? 

Rich Lesser - O Brasil cumpriu uma longa jornada até se tornar uma economia de renda média — e o setor industrial foi fundamental para isso.

Mas o que a experiência internacional mostra é que no estágio seguinte, quando as economias de renda média se tornam ricas, os serviços passam a desempenhar um papel mais importante. Portanto, a indústria no Brasil  não deve ser tão relevante como era no passado.  

6) EXAME - E a China? Ela deixará de ser a fábrica do mundo?

Rich Lesser - A China continua sendo o país com os menores custos do mundo. Ainda é 10% mais barato produzir na China do que nas outras grandes economias. O que aconteceu é que as diferenças entre a China e os Estados Unidos ficaram menos pronunciadas. Antes havia um abismo. Isso acabou. 

7) EXAME - Quais as consequências disso?

Rich Lesser - Para a indústria, há oportunidades em várias partes do mundo, não apenas na China. Para escolher os fornecedores, os empresários só precisam analisar bem o que há disponível na cadeia global. Deveremos ver uma mudança na maneira como as empresas diversificam seus fornecedores ao redor do mundo.

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