Supermercado no Rio de janeiro: as garrafas de guaraná Antarctica agora são 100% verdes (André Valentim/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 28 de novembro de 2012 às 14h25.
São Paulo - Quando o assunto é reciclagem no Brasil, não há disputa em relação a um fato: a latinha de alumínio é a estrela. Mais de 98% do que se consome dela no país volta para a indústria. Um feito que é impulsionado, sobretudo, por seu valor: 1 tonelada de alumínio prensado vale hoje 3 100 reais.
Outros materiais, porém, não têm o mesmo status. Um exemplo são as embalagens de plástico PET. Seu índice de reciclagem é de 57%. Por esse motivo, um volume enorme do material ainda vai parar em lixões ou é simplesmente descartado em terrenos baldios e rios.
No início de novembro, no entanto, a Ambev, maior fabricante de bebidas do país e também uma das maiores consumidoras de PET, deu um passo com a intenção de conferir ao plástico, no médio prazo, a mesma atratividade que atualmente tem a lata de alumínio. A empresa começou a introduzir no mercado o guaraná Antarctica de 2 litros em uma garrafa de PET que é 100% reciclado.
Ou seja, se até então essas garrafas de guaraná já eram verdes na cor, agora elas ficaram verdes mesmo, porque serão feitas de embalagens de PET descartadas.
A corrida da Ambev para lançar a garrafa PET 100% reciclado começou em 2009, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), depois de oito anos de discussões, permitiu que o PET reciclado fosse usado em embalagens de alimentos e de bebidas. A Coca-Cola, sua principal concorrente, conseguiu fazer barulho primeiro ao lançar, em 2011, uma embalagem produzida com 20% de PET pós-consumo.
A Ambev demorou mais tempo para encontrar fornecedores aptos a dar conta do desafio. Até o final deste ano, 12% das embalagens PET de 2 litros do guaraná Antarctica serão 100% recicláveis. Para 2013, a meta é chegar a 20%.
Isso significa reintroduzir no mercado 66 milhões de garrafas PET descartadas — ou sete piscinas olímpicas do material prensado que poderia ser destinado a aterros. “Com isso, vamos aumentar a demanda pelo PET e estimular a reciclagem desse material”, diz Ricardo Moreira, vice-presidente de refrigerantes e não alcoólicos da Ambev.
Não há questionamentos no mercado quanto ao mérito ambiental da nova embalagem da Ambev. Além de contribuir para uma geração menor de lixo, a fabricação de uma garrafa PET reciclada demanda 70% menos energia e 20% menos água do que a de uma garrafa feita de material virgem.
As dúvidas pairam sobre quanto a iniciativa pode realmente influenciar a cadeia de reciclagem do material. Afinal, diante do volume total de PET consumido atualmente no país — foram 514 000 toneladas no ano passado —, as sete piscinas olímpicas da Ambev perdem impacto.
Para Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), a empresa terá de usar um volume bem maior de PET reciclado se quiser realmente fazer a diferença no setor. Além disso, há o fato de que, hoje, o gargalo na cadeia de reciclagem do plástico não está na falta de destinos para o material pós-consumo, ainda que a descoberta de mais um deles seja vista com bons olhos.
A indústria têxtil, por exemplo, é responsável por 39% do volume reciclado. “O problema da reciclagem do PET é a falta de coleta seletiva”, afirma Marçon. “Por causa disso, em algumas épocas do ano, as recicladoras chegam a ficar com ociosidade de 30%.”
A direção da Ambev afirma que a estratégia de criar uma nova demanda para o PET pós-consumo vai ajudar a elevar o preço desse material no mercado e estimular a coleta. Atualmente, a tonelada da resina PET vale cerca de 1 600 reais.
Moreira também não teme que a empresa sofra com a falta do material, uma vez que espera receber parte importante do volume necessário diretamente das 134 cooperativas de catadores que apoia.
Quando o assunto é o aumento nos percentuais do material pós-consumo usado depois de 2013, porém, as declarações do executivo são vagas. “Queremos expandir a garrafa PET reciclada para todo o portfólio de guaraná Antarctica até 2014”, diz ele. A Ambev é uma empresa conhecida por ter metas agressivas para absolutamente tudo e por se esmerar em cumpri-las. Espera-se que a regra valha também para a PET verde.