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Egito, Nigéria e África do Sul disputam posto de maior economia da África

Alternância entre os 3 países na posição de maior PIB mostra os problemas que o continente ainda precisa resolver

A África do Sul deve atingir um PIB de 401 bilhões de dólares e se tornar a maior economia africana em 2024 (Jack Smith/Getty Images)

A África do Sul deve atingir um PIB de 401 bilhões de dólares e se tornar a maior economia africana em 2024 (Jack Smith/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 06h00.

Última atualização em 23 de fevereiro de 2024 às 14h21.

Há mais de uma década, Egito, Nigéria e África do Sul vivem em uma gangorra pelo posto de maior PIB do continente. A Nigéria tomou o posto da África do Sul em 2012 e subiu nos anos seguintes, segundo dados do Banco Mundial, enquanto a África do Sul perdeu impulso. Correndo por fora, o Egito embalou nos últimos anos e chegou ao topo em 2022, mas por pouco tempo.

Em 2024, deverá ocorrer nova reviravolta: a África do Sul deve atingir um PIB de 401 bilhões de dólares e se tornar a maior economia africana, mas perder o posto no ano seguinte para a Nigéria, prevê o FMI. A troca de posições é fruto de crises geradas por debilidades de longa data, como a fragilidade diante de choques externos e dependência da exportação de commodities. 

A queda no preço de produtos minerais nos últimos anos, como petróleo e cobalto, e a alta dos alimentos após a guerra na Ucrânia exerceram fortes choques a economias que tinham ainda muitas questões internas. A Nigéria, por exemplo, teve crescimento contínuo de 2000 a 2014. No entanto, as coisas esfriaram por causa da queda na produção petrolífera, do desequilíbrio fiscal e de problemas cambiais. A inflação disparou e chegou a 25,8% ao ano em agosto de 2023.

No ano passado, o presidente Bola Tinubu tomou posse e iniciou reformas para cortar subsídios, especialmente da gasolina, rever o sistema de câmbio e aumentar a arrecadação.

O FMI e o Banco Mundial projetam que o plano dará resultado e o país voltará a crescer.  “O Banco Central tem aumentado as taxas de juros de forma significativa. Nossa perspectiva é que baixar a inflação é forte prioridade”, apontou Daniel Leigh, chefe de pesquisas do FMI, em entrevista coletiva em janeiro. Isso levou o FMI a baixar a previsão de inflação para 23% neste ano e para 15,5% em 2025.

No Egito, o impacto externo foi mais severo. O país vinha em uma boa série de crescimento, mas importava comida da Rússia e da Ucrânia. O início da guerra, em 2022, fez o custo da comida disparar e puxou a inflação, que chegou a 34% ao ano em 2023. Outra crise estourou mais perto: o conflito na Faixa de Gaza, na fronteira egípcia, afastou turistas e teve reflexos nas rotas marítimas pelo Canal de Suez.

Para lidar com a situação, o governo do presidente Mohamed Al-Sisi, no cargo há 11 anos, desvalorizou a lira egípcia em 50% desde 2022 e negociou outro empréstimo com o FMI. O país é hoje o segundo maior devedor do fundo. Mesmo assim, o governo continua tocando megaprojetos, como a construção de uma nova capital, nos arredores do Cairo.

Já na África do Sul, literalmente falta energia. Desde 2007, o país passou a ter cortes programados, que chegaram a 9 horas diá­rias em 2022. Isso dificultou a vida em quase todos os setores, que tiveram de adotar geradores para manter os negócios. Para complicar as coisas, houve queda na produção da mineração, um dos principais componentes do PIB, além de dificuldades logísticas, causadas por fatores como a alta da criminalidade. 

Para Carlos Lopes, professor na Nelson Mandela School of Public Governance, da Universidade Cape Town, na África do Sul, os dados das maiores potências africanas escondem uma mudança. “Dada a sua dimensão no conjunto africano, esses três países influenciam as médias e escondem um retrato que poderia ser bem mais positivo: dez das 20 economias que mais vão crescer em 2024 são africanas”, aponta.

Ele destaca que vários países têm avançado em diversificar a economia e depender menos da exportação de itens primários. “Ao processar matérias-primas internamente, os países podem criar empregos e aumentar receitas de exportação. A África tem exemplos de que as medidas de política econômica funcionam quando existe consistência e determinação, como demonstram países como Etiópia, Togo, Benin, Costa do Marfim ou Namíbia”, afirma.  Se tudo der certo, a próxima geração de potências africanas poderá chegar ao topo de forma bem mais sólida.

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