Uma consulta a pesquisadores do coronavírus, feita pela revista científica Nature, revelou que cerca de 90% deles acreditam ser improvável que a doença seja erradicada (Leonardo Yorka/Exame)
A vacinação, que já chegou ao momento de uma terceira dose, a queda nos números de casos e mortes por covid-19 e até a possibilidade de deixar a máscara de lado criam, aos poucos, a sensação de que o coronavírus está perto de sumir. Mas a cena a seguir não é exatamente essa. O que se inicia agora é a transição para uma endemia, o nome para o estágio em que uma doença contagiosa está sempre presente, acontece com determinada frequência, e seu espalhamento se torna previsível.
Há quase um consenso sobre isso. Uma consulta a pesquisadores do coronavírus, feita pela revista científica Nature, revelou que cerca de 90% deles acreditam ser improvável que a doença seja erradicada. Dado isso, o mundo deverá encarar a covid-19 como faz com o vírus da influenza, que mata, em média, 650.000 pessoas por ano e requer vacinação a cada temporada. Com o acréscimo de que a presença cíclica da doença deverá, por consequência, gerar a aceitação de sua letalidade.
“Imagino que a covid será eliminada em alguns países, mas com um contínuo e talvez sazonal risco de reintrodução de outros lugares onde a cobertura vacinal e as medidas de saúde pública não forem boas o suficiente”, afirmou o epidemiologista Christopher Dye, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, à Nature.
A nova conjuntura acaba também por encerrar a ideia de imunidade coletiva (ou de rebanho), que se especulou por um tempo e era vista como capaz de dar fim à covid-19. Isso se dá pelo surgimento de novas variantes, como a ômicron, junto com o conhecimento de que as defesas imunológicas contra o coronavírus não duram para sempre e variam de pessoa para pessoa.
Com o cenário endêmico à vista, especialistas defendem mudanças para amortecer o impacto da covid-19. As medidas, além da vacinação, dão conta da adoção do isolamento social nos próximos picos da doença. Um sinal de adaptação a esse protocolo é o home office, que em grandes empresas já é visto como chamariz para atrair novos funcionários. Uma pesquisa da seguradora Prudential indicou que 42% dos americanos procurariam outro emprego se fossem forçados a voltar ao escritório. O lazer deve passar por certificado de vacinação e testagem em shows, festas e cinemas.
Para a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Institute, nos Estados Unidos, a endemia deve ocorrer mais à frente, devido a novos ciclos de infecção. “É preciso cautela para uma classificação de fase que torne o convívio com o vírus mais banalizado. Precisamos manter comportamentos que garantam alívio e a percepção de que a pandemia acabou.”