Airbus A320 da IndiGO: voos lotados com fórmula de sucesso que combina serviço de qualidade e custos baixos (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h40.
Há seis anos, o empresário Rahul Bhatia era apenas mais um entre as dezenas de donos de agências de viagens bem sucedidos na Índia. Cansado de trabalhar como intermediário, Bhatia espantou o mundo ao encomendar, em 2005, 100 aviões para fundar a IndiGo, companhia aérea que hoje, com menos de cinco anos de existência, é a que mais cresce no país. Não é só.
Nos últimos dois anos fiscais, a IndiGo foi a empresa do setor que registrou o maior lucro. Ela voltou a chamar a atenção agora, quando anunciou a maior encomenda da história da aviação civil: 180 aeronaves da francesa Airbus, a ser entregues entre 2015 e 2025. “É uma história impressionante em todos os sentidos”, diz Kapil Kaul, presidente da consultoria Centre for Asia Pacific Aviation India. “Diferentemente da Jet Airways e da Kingfisher, as duas maiores empresas indianas, a IndiGo nasceu e cresceu em meio a uma competição feroz.”
A IndiGo fez seu primeiro voo em 2006, quando o mercado de aviação indiano não só já contava com todas as concorrentes atuais como estava em fase de consolidação — entre 2004 e 2007, quatro companhias menores foram compradas pelas gigantes Kingfisher e Jet Airways. Para conquistar espaço em meio à concorrência já estabelecida, a IndiGo investiu num modelo de negócios simples, mas aplicado com efetividade ímpar no país: passagens de baixo custo e serviços de alta qualidade.
Segundo pesquisas do Directorate General of Civil Aviation, agência reguladora da aviação civil indiana, o conforto dos assentos e a comida servida pela IndiGo são os melhores do mercado. A novata conta ainda com a vantagem de ter uma frota nova e homogênea — a encomenda recorde de 180 aviões foi do modelo A320neo, que consome 15% menos combustível. Os 34 aviões da empresa que já estão operando, todos A320-200 com 180 lugares, são os que mantêm a maior taxa de ocupação do país — 91% em 2010.
A IndiGo prospera num dos mercados de aviação que mais evoluíram em todo o mundo. Até 1994, a aviação civil doméstica era restrita à empresa estatal Air India. Naquela época, viajar de avião na Índia era um ato de coragem. Os poucos aeroportos viviam em frangalhos e os voos eram privilégio de uma pequena elite. O restante da população usava o trem para se locomover (ainda hoje, é o meio de transporte mais usado no país).
Durante a primeira onda de liberalização econômica dos anos 90, o setor começou a renascer, diretamente beneficiado pela economia local. Nos últimos dez anos, o PIB indiano cresceu a uma taxa média anual de 7,2%. Num intervalo de poucos anos, o mercado de aviação da Índia foi um dos que mais evoluíram no mundo. Segundo o governo, o número de voos em aeroportos indianos passou de pouco mais de 600 000, em 2002, para cerca de 1 milhão, em 2006. A estimativa é que tenha alcançado a marca de 1,4 milhão no último ano. Foram abertos ou expandidos 35 aeroportos de 2000 até hoje — destaque para o terceiro terminal do Indira Gandhi International Airport, inaugurado em junho, transformando o aeroporto de Nova Délhi no sexto maiordo mundo. Outros 35 devem ficar prontos em cidades médias até 2020.
Mesmo com todo avanço recente, ainda há espaço para expansão. Em 2010, as companhias indianas transportaram 52 milhões de passageiros domésticos — no mesmo período, no Brasil, com menos de um quinto da população, o movimento doméstico chegou a 138,4 milhões, segundo a Infraero. Somadas, as companhias indianas têm 400 aviões de grande porte, ante quase 900 das brasileiras. Estimativas da Boeing mostram que a Índia vai precisar aumentar sua frota em 1 000 aeronaves nos próximos 20 anos. “Existe uma relação direta entre a expansão do PIB per capita e o mercado de aviação, e na Índia os dois estão em alta”, diz John Siddharth, analista de indústria aeroespacial da consultoria americana Frost & Sullivan.
Expansão internacional
Nos próximos meses, a IndiGo se prepara para dar o salto de companhia regional, com 23 destinos na Índia, para voar para cidades do Oriente Médio, sul e sudeste da Ásia. Conseguir manter os aviões cheios em sua internacionalização não vai ser fácil. Isso porque, além de enfrentar outras empresas indianas menores, como a GoAir e a Spice Jet, que também vão lançar rotas para o exterior, a IndiGo terá de lidar com a concorrência das agressivas empresas do Oriente Médio, que contam com privilégios como combustível barato. “Lá o custo do querosene de aviação é até um décimo do preço na Índia”, diz Richard Aboulafia, vice-presidente da consultoria americana Teal Group.
Para bancar essa briga, a companhia revelou no ano passado que está trabalhando com alguns bancos para abrir o capital ainda em 2011, com vistas a levantar 320 milhões de dólares para seus projetos de expansão. Um combustível a mais para a IndiGo continuar em seu céu de brigadeiro, longe das turbulências vividas por seus rivais.