Revista Exame

A Bridge virou queridinha dos investidores. Mas por que?

Demitido da presidência do banco BNY Mellon no Brasil, Zeca Oliveira montou uma gestora que virou a queridinha dos investidores. Qual é o segredo?

Zeca Oliveira: ele quer ser indenizado pelo BNY Mellon  (Germano Luders/Exame)

Zeca Oliveira: ele quer ser indenizado pelo BNY Mellon (Germano Luders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2015 às 11h21.

São Paulo — Os funcionários do banco americano BNY Mellon no Brasil receberam uma visita surpresa — e nada agradável — em outubro de 2013. Três pes­soas da equipe mundial responsável por avaliar riscos e o cumprimento de normas internas desembarcaram no escritório do Rio de Janeiro para analisar, em detalhes, as decisões que haviam sido tomadas por José Carlos de Oliveira, na época presidente da instituição.

O banco foi auxiliado pelos advo­gados do escritório Veirano, que passaram dois meses checando contratos, ouvindo depoimentos de fornecedores e funcionários e lendo e-mails do executivo. Uma semana depois da chegada dos fiscais do banco, o crachá de Zeca Oliveira, como é mais conhecido, foi bloqueado. Ele não podia entrar no escritório, mas ainda era, formalmente, o presidente do BNY Mellon no país — então despachava de casa.

EXAME teve acesso a alguns dos problemas que os advogados dizem ter encontrado. Sem consultar a matriz, Oliveira concedeu um financiamento a um ex-funcionário que queria abrir uma gestora de recursos — e acabou tendo de devolver o dinheiro. Além disso, presenteou funcionários da Comissão de Valores Mobiliários com ingressos para jogos de futebol no camarote do BNY Mellon no estádio do Engenhão (o que viola as regras internas do banco).

O executivo foi demitido em dezembro de 2013. O mais surpreendente, porém, é a rapidez com que ele voltou ao mercado. Três meses depois da saída, já havia montado uma nova empresa — e, pelo menos por enquanto, não lhe faltam clientes. A nova empresa de Zeca Oliveira é a administradora e gestora de recursos Bridge. Nos últimos 12 meses, foi a instituição não ligada a bancos que mais cresceu em investimentos no país — um total de 4 bilhões de reais.

Com isso, tornou-se uma das maiores do mercado, com um patrimônio de 6,5 bilhões de reais. Só para comparar, a Vinci, fundada pelo ex-sócio do Pactual Gilberto Sayão em 2009, levou cinco anos para chegar ao mesmo patrimônio em gestão. Uma explicação para o rápido crescimento da Bridge é o fato de ela atuar em duas frentes.

Uma delas é a que engloba a gestão de fundos e os serviços de corretagem de ações e títulos de renda fixa. Para crescer nessa área, comprou a empresa de investimentos Gradual no início do ano. Cresceu, mas o desempenho de seus fundos não tem nada de excepcional. Em um ano, o principal fundo de ações rendeu 3% — enquanto o CDI (juros de mercado) ficou em 12% no período.

Mais que o rendimento, o que chama a atenção nos fundos da Bridge é o fato de um deles ser dono de 20% da petroleira PetroRio, novo nome da enrolada HRT (seus executivos foram processados pela CVM por negociar ações com informação privilegiada e fizeram um acordo para encerrar a investigação). Executivos próximos ao empresário Nelson Tanure dizem que as ações da PetroRio são dele, Tanure. (Oliveira e Tanure não comentam.) 

Além da área de fundos e corretagem, a Bridge tem um segmento responsável por administrar recursos, seu principal foco. Trata-se, basicamente, de um trabalho burocrático, que inclui a obrigação de criar os regulamentos e controles de risco dos fundos que são geridos por outras instituições. O administrador também precisa enviar informações aos cotistas e garantir que o gestor cumpra o regulamento.

No Brasil, esse é um mercado dominado pelos grandes bancos, e uma das principais instituições do setor é o BNY Mellon. Oliveira conseguiu convencer alguns clientes de pequeno porte do banco a migrar para a Bridge. “Tenho condições de oferecer um serviço personalizado, por isso estou sendo procurado pelos clientes da concorrência”, diz Oliveira, que tem como sócio na gestora Alberto Elias, ex-diretor executivo do BNY Mellon, demitido na mesma época.

Processo na CVM

A concorrência da Bridge, claro, não preocupa os executivos do BNY Mellon — nono maior banco dos Estados Unidos, o Mellon tem quase 120 bilhões de reais de patrimônio em administração de recursos no Brasil, ante os 6,5  bilhões da Bridge. Mas o banco está perdendo recursos. Recentemente, a seguradora Icatu, o banco BBM e a gestora Paineiras deixaram o Mellon (as companhias não comentam, mas EXAME apurou que elas passaram a ser atendidas por grandes bancos, como Bradesco e Itaú).

Ao todo, o banco perdeu 17 bilhões de reais nos últimos 12 meses, o maior volume de resgates do mercado. Algumas empresas que pararam de usar os serviços do Mellon dizem que a qualidade piorou com a saída de Oliveira — ponto para ele. Mas há também quem diga não confiar mais no banco, e aí por causa de ações tomadas por Oliveira quando presidente.

Durante sua gestão, o BNY Mellon entrou no imbróglio dos fundos de pensão. A Postalis, fundo dos funcionários dos Correios, abriu um processo contra o banco alegando ter sido mal aconselhada a aplicar em títulos da dívida argentina, que deram prejuízo. Em agosto deste ano, Oliveira também foi multado pela CVM por descumprir o regulamento de um fundo: permitiu que o gestor aplicasse mais do que o limite estabelecido para títulos da dívida de empresas.

O executivo diz não ter recebido uma reclamação formal da Postalis e afirma ainda que vai recorrer da decisão da CVM. “Esse tipo de ação da CVM faz parte da rotina de administradores de recursos”, afirma ele. Em nota, o BNY Mellon disse que a saída de clientes se deve a uma “revisão estratégica” dos produtos do banco. Afirmou ainda que não comentaria assuntos relativos a ex-funcionários.

Jiu-jítsu e canoa

Fanático por esportes — pratica ca­noagem, treinava jiu-jítsu e foi jogador de polo aquático no Fluminense, onde também foi vice-presidente de esportes olímpicos — e obcecado por manter uma alimentação saudável, Oliveira trabalhou 15 anos no banco. Começou em 1998 à frente da Mellon, instituição financeira que foi comprada pelo Bank of New York em 2007, e tornou-se presidente da nova companhia.

A investigação que teve início em 2013 não foi o único problema dele com o banco. No ano anterior, o BNY Mellon chegou a ser envolvido num processo que sua ex-mulher, Mariza Gross, moveu contra ele. Mariza acusava o ex-marido de ter pressionado a diretoria de sua antiga empresa, a gestora de fundos Expresso, a demiti-la sob o risco de ser descredenciada do sistema do Mellon. Os advogados de Oliveira negavam a acusação. O banco acabou conseguindo ser retirado da ação.

Na disputa atual com o BNY Mellon, Oliveira está sendo assessorado pelos advogados do escritório Barbosa, Mussnich e Aragão. Segundo pessoas próximas, ele quer fechar um acordo. Afirma que a instituição nunca apresentou provas contra ele e, por isso, quer receber o pacote de benefícios a que tinha direito ao ser demitido (que inclui os bônus dos últimos três anos) e uma indenização pelo “desgaste moral” da saída. Se o acordo não sair até o fim do ano, Oliveira promete processar o Mellon. Alberto Elias, seu sócio, entrou com uma ação trabalhista contra o banco. O tempo que sobra tem sido usado para captar clientes para a nova empresa.

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