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TikTok batalha para conquistar corações e mentes dos Estados Unidos — será que vai conseguir?

Os bastidores da operação de executivos da rede social TikTok para driblar a desconfiança de autoridades americanas e permanecer no país em meio à tensão com a China

Banir o TikTok nos Estados Unidos pode ser sedutor, mas seria impopular (Kati Szilagyi/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

Banir o TikTok nos Estados Unidos pode ser sedutor, mas seria impopular (Kati Szilagyi/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

Bloomberg Businessweek
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Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.

Em 1o de fevereiro, os principais lobistas do TikTok pensaram que a reunião no Capitólio estava indo bem. Os slides de sua apresentação, que pretendia mostrar quanto o TikTok trabalhou para evitar que os dados gerados nos Estados Unidos acabassem na China, estavam capturando a atenção de seus antagonistas do Congresso — Mike Gallagher, um republicano de Wisconsin, e Raja Krishnamoorthi, um democrata de Illinois.

Esta foi a dupla bipartidária que liderou uma nova comissão da Câmara com foco na China. Eles já tinham patrocinado um projeto de lei que buscava proibir o app sob a suspeita, comumente mantida nos círculos de segurança nacional, de que o Partido Comunista Chinês poderia usar o TikTok para rastrear e manipular americanos, uma vez que o app é propriedade de uma empresa com sede em Pequim, chamada ByteDance.

Krishnamoorthi fez uma pergunta que o TikTok estava esperando: e quanto à lei chinesa que obriga as empresas sediadas no país asiático a cumprir quaisquer pedidos de dados do governo?

Michael Beckerman, o bem treinado chefe de políticas públicas do TikTok nos EUA, assegurou a Krishnamoorthi que os usuários não têm nada com que se preocupar, segundo dois dos participantes da reunião. O TikTok vem tomando medidas extremas para isolar suas operações nos EUA. Beckerman disse que a empresa está abrigando dados com um parceiro americano, a Oracle, e concordou em aceitar a supervisão de um conselho nomeado pelo governo dos EUA, em um plano de US$ 1,5 bilhão chamado Project Texas — tudo explicado em slides no iPad que os legisladores estavam segurando e que os funcionários do Congresso tinham dificuldade para enxergar.

Os representantes estavam a par do plano. Mas também estavam familiarizados com a lealdade que a China exige de suas empresas nacionais. Gallagher perguntou: se a China ordenasse ao TikTok que removesse conteúdo sobre a opressão do governo à minoria uigur no oeste da China, o que o TikTok faria? Beckerman prometeu que o conteúdo não seria censurado, mas ele parecia atrapalhado.

Como o app amado por adolescentes ficou preso num turbilhão geopolítico

E foi esse o tom com o TikTok em Washington, onde criticar a empresa parece ser algo de peso, que republicanos e democratas de fato gostam de fazer juntos. É uma área em que o governo Biden pode encontrar um raro acordo bipartidário. O Congresso está dando ao presidente muitas opções, com quatro projetos de lei, incluindo o de Gallagher, que buscam limitar o poder do TikTok.

Em 7 de março, a Casa Branca declarou seu apoio a um projeto de lei do Senado, apresentado pelo democrata da Virgínia Mark Warner e pelo republicano de Dakota do Sul John Thune, que poderia dar ao presidente a capacidade de avaliar o risco à segurança nacional da tecnologia de propriedade estrangeira e limitar suas operações nos EUA, se necessário. “Ajam rapidamente para enviá-lo à mesa do presidente”, encorajou a Casa Branca. Três dias depois, um ex-funcionário do TikTok disse ao Congresso que acha que o Project Texas é profundamente falho e que os dados dos usuários dos EUA vão continuar em risco, mesmo depois que as proteções prometidas forem implementadas. “Qualquer um que deixasse a empresa em fevereiro de 2022 não teria conhecimento do estado atual do Project Texas”, disse uma porta-voz da TikTok.

A liderança do TikTok está agora considerando medidas mais drásticas para continuar operando nos EUA, incluindo a separação de sua controladora, segundo pessoas a par da situação. Uma alienação ou venda de participação exigiria a aprovação da China, e não está claro se haveria um comprador. Mas as lideranças do TikTok acham que a alternativa — uma proibição total — seria um risco maior para o sucesso financeiro da ByteDance, diz uma das pessoas.

Romper com a ByteDance, que o TikTok não disse ao Congresso que está considerando, seria um último recurso. (No final, a ByteDance pode não ter escolha: recentemente, o governo Biden alertou a empresa para desmembrar o TikTok ou enfrentar um banimento, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. “Nem a proibição do TikTok nem a alienação do TikTok da ByteDance fazem qualquer coisa no sentido de resolver as preocupações de segurança nacional sobre transferências de dados”, disse o TikTok em um comunicado, divulgando os benefícios do projeto Texas. Os funcionários de políticas da TikTok e seu CEO, Shou Chew, estão frustrados há meses porque seus maiores oponentes no Congresso parecem indiferentes aos passos caros e abrangentes que a empresa vem dando para proteger os dados dos usuários. O app, amado especialmente por adolescentes e pré-adolescentes americanos, está preso num turbilhão geopolítico em que vem lutando para navegar.

(Kati Szilagyi/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

No dia da reunião com Gallagher e Krishnamoorthi, o noticiário não estava colaborando com o TikTok. Oficiais militares dos EUA estavam debatendo se deveriam abater um balão espião chinês que chamou a atenção do público quando passou muito perto de uma base da Força Aérea dos EUA em Montana. Pânico sobre o balão traduzido facilmente em pânico quanto ao popular app de vídeo. “Um grande balão chinês no céu e milhões de balões chineses do TikTok em nossos telefones”, tuitou o senador republicano de Utah Mitt Romney. “Vamos pôr fim a todos eles.”

Americanos, em média, gastam 56 minutos por dia no TikTok, mais do que no Facebook ou no Instagram, de acordo com o serviço de pesquisas de mercado Insider Intelligence. Os legisladores que dão alertas terríveis sobre a espionagem chinesa dizem que o app também representa uma droga de porta de entrada para a propaganda chinesa — um “fentanil digital”, como Gallagher chamou. Para os usuários, isso não bate com a imagem formada por eles a partir dos vídeos do pug Noodle e de Francis, o fã de trens, populares no app.

Limitar o TikTok, por mais geopoliticamente sedutor que seja, seria internamente impopular e inédito. É mais o tipo de coisa que aconteceria na China, que vem bloqueando o Facebook desde 2009. A secretária de comércio, Gina Raimondo, disse no mês passado à Bloomberg News que a proibição do app “literalmente nos faria perder para sempre todos os eleitores com menos de 35 anos”.

A ByteDance ganhou sua posição nos EUA, começando com jovens usuários da internet que ainda não eram obcecados pelo Instagram e Snapchat. Em 2017, a ByteDance comprou o Musical.ly, app chinês popular entre os pré-adolescentes por compartilhar vídeos de pessoas que sincronizam os lábios ao som de músicas populares, e o transformou no TikTok. As escolas de ensino médio e secundário americanas se tornaram cenários para danças coordenadas engraçadas, conhecidas no app como “desafios”; qualquer pessoa que se tornasse viral compartilhando seu desafio ganhava influência online. Porém, na época, o app ainda jogava numa divisão bem menor.

Como a pandemia catapultou o engajamento do TikTok

E então, a pandemia aconteceu. Escolas passaram a ser inteiramente virtuais, adultos foram trancados com seus filhos e ninguém tinha nada digno de nota para postar em seus painéis do Instagram. O TikTok, que proporcionou humor alegre às pessoas comuns, se tornou uma pomada para a ansiedade e o tédio coletivos da covid-19 da América. Uma tendência popular pode fazer com que uma música chegue ao topo das paradas, sacudindo a indústria da música e dando impulso viral à fama de estrelas como Olivia Rodrigo. Os efeitos na moda e na beleza podem levar a uma corrida de produtos, como foi com o Almost Lipstick in Black Honey (“Quase Batom em Mel Negro”, numa tradução livre do inglês) da Clinique, ou catapultar um programa de TV como o Round 6, da Netflix, para a lista dos mais assistidos.

Central para o sucesso do TikTok é seu algoritmo, que adivinha os interesses dos usuários com base no que eles decidem assistir, atraindo-os para conteúdo de nicho, às vezes estranhamente específicos, que vai de inspetores domésticos compartilhando suas piores descobertas a pessoas dançando ao som de músicas de espera. Essa tecnologia encantadora tende a tirar do sério especialistas em segurança nacional. Se o TikTok conseguir descobrir como entreter usuários individuais dos EUA de modo tão específico e bem-sucedido, e o TikTok for de uma empresa chinesa, o que a China poderia fazer com esse poder?

No auge da pandemia, a covid estava sobrecarregando as relações entre a China e os EUA, com paralisações de fábricas e controles de exportação botando pressão na cadeia de suprimentos de eletrônicos e muito mais. O TikTok era o tipo de exportação chinesa que os EUA não podiam pôr numa lista de inspeção obrigatória. Mas ficou claro que o anti-Tiktokismo vinha ganhando corpo no mundo todo. A Índia proibiu abruptamente o TikTok em junho de 2020 durante uma disputa com a China, citando preocupações sobre sua segurança nacional.

O TikTok, sentindo a luta política à frente em seu mercado mais lucrativo, tentou virar o mais americano possível. Encarregados de relações públicas do app começaram a dizer aos jornalistas que o TikTok estava incorporado nas Ilhas Cayman — portanto, não tinha sede em Pequim. A empresa contratou um novo CEO, Kevin Mayer, o conhecido chefe de streaming da Walt Disney, logo após ele liderar o bem-sucedido lançamento do Disney+. Ele foi encarregado de americanizar as fileiras executivas da empresa e de ser um rosto amigável em Washington.

(Kati Szilagyi/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

Os melhores defensores do TikTok eram seus próprios usuários, que estavam dispostos a defender o app sem ser solicitados. Quando o presidente Donald Trump emitiu uma ordem executiva para proibir o TikTok em agosto de 2020, jovens americanos reagiram com vídeos apaixonados sobre a importância do app em sua vida. Uma coleção de usuários do TikTok armou uma peça para Trump se registrando em um de seus comícios, fazendo com que ele esperasse muito mais participantes do que realmente compareceram ao evento — o que o irritou ainda mais.

Após meses de negociações com a Casa Branca para evitar uma proibição, a ByteDance estabeleceu um plano para vender o TikTok à Oracle, empresa que sempre teve fortes laços com o establishment de segurança nacional. O presidente da Oracle, Larry Ellison, ajudou a arrecadar fundos para Trump, tornando a empresa um escudo ideal dos falcões republicanos da China. Um tribunal emitiu uma liminar para bloquear a ordem de Trump. Essa ordem foi abandonada pelo governo Biden e substituída por uma nova, que pedia uma revisão da segurança nacional.

Quem é o CEO do braço americano do TikTok

A essa altura, Mayer já tinha desaparecido há muito tempo. Ele durou só quatro meses, exausto pela natureza política do papel. Desde então, a empresa tem penado para contratar executivos experientes e voltados para o público, dispostos a se colocar na frente de políticos anti-China e a defender os escrúpulos do TikTok, segundo três pessoas familiarizadas com o assunto.

Em maio de 2021, Chew, singapuriano e ex-executivo da fabricante chinesa de celulares Xiaomi, assumiu o cargo de CEO. Desde então, ele passa a maior parte de seu tempo nos EUA e na Europa, tentando mostrar aos reguladores e aos anunciantes do TikTok que o app já está, na prática, desvinculado da China e incorporado à cultura americana. Os funcionários do TikTok raramente veem Chew em seus escritórios em Singapura e brincam que ninguém sabe que altura o executivo tem. Mas Chew estava no Super Bowl, postando vídeos do show de Rihanna no intervalo no TikTok, ao lado de outros executivos americanos de tecnologia e entretenimento.

Chew parece desinteressado em fazer o tipo de pedidos abertos de confiança como os que Mark Zuckerberg cometeria após um escândalo no Facebook. Ele também não gosta de envergonhar seus críticos como Elon Musk faz no Twitter. Em vez disso, ele tem pedido reuniões privadas para navegar na posição do TikTok. O painel com mais poder para determinar o destino do TikTok, argumenta ele, é o Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos. O Cfius (Committee on Foreign Investment in the United States), como é conhecido, é o comitê interinstitucional do governo que determina, por exemplo, se a Huawei pode vender smartphones no país (não pode) e se a Broadcom pode comprar a Qualcomm (também não).

CEO do TiktTok nos Estados Unidos, Shou Chew tem missão árdua à frente (Kati Szilagyi/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

Chew pensou que o TikTok poderia negociar com o Cfius compartilhando detalhes sobre os procedimentos e regras de dados da empresa para os funcionários — e que, com base nesses fatos, o governo ganharia confiança, de acordo com pessoas familiarizadas com seus planos. A Oracle, que o governo já não vinha mais pedindo para comprar o TikTok, continuou a ser seu escudo político e uma grande parte do discurso dele ao Cfius. De acordo com a proposta do Project Texas, a Oracle passaria a abrigar todos os dados de usuários dos EUA e a auditar o código do TikTok. Um painel de três pessoas, aprovado pelo governo, supervisionaria essas operações, e todos os funcionários da nova entidade de segurança de dados dos EUA do TikTok passariam pela mesma verificação ampla de antecedentes que os prestadores de serviços do governo.

As autoridades de segurança nacional que conduzem a revisão do projeto Texas não estão convencidas com as proteções prometidas. Funcionários do Departamento do Tesouro tinham optado por dar uma chance à oferta do TikTok, mas funcionários do Departamento de Justiça convenceram outros membros do comitê a rejeitar o plano, segundo pessoas familiarizadas com as discussões. O diretor do FBI, Christopher Wray, disse recentemente ao Congresso que o TikTok “representa preocupações gritantes de segurança nacional”. Além disso, os funcionários do Capitólio suspeitam dos incentivos da Oracle, segundo pessoas a par do assunto. Por causa do incrível crescimento do TikTok, o app está se tornando um dos maiores clientes de nuvem da Oracle. A Oracle não teria muito incentivo para sinalizar quaisquer atividades suspeitas, o que poderia colocar em risco seu lucrativo contrato, dizem eles. A Oracle não respondeu a um pedido de entrevista.

Qual é o limite do lobby do TikTok

Enquanto o Cfius discutia a questão em privado, senadores republicanos, incluindo Josh Hawley, do Missouri, e Marco Rubio, da Flórida, se agarraram a notícias críticas ao TikTok para travar uma campanha na mídia pela proibição do app. As críticas usuais que seguem todos os apps populares de mídia social — de que seu conteúdo é viciante, seus algoritmos afetam de modo negativo a saúde mental dos adolescentes, eles coletam dados de um modo que os usuários não entendem — parecem todas mais sinistras com o envolvimento da China.

Até o final do ano passado, o TikTok ignorava em grande parte o burburinho de legisladores e funcionários que a empresa pensava que estavam mentindo e que não entendiam o negócio, dizem duas pessoas familiarizadas com a estratégia. É óbvio que o não envolvimento foi um erro. Em Washington, a política moldará a narrativa em torno de qualquer empresa que não procure escrevê-la sozinha. O TikTok não relatou nenhum gasto com lobby, mas sua empresa-mãe chinesa relatou. A primeira divulgação de lobby da ByteDance em Washington foi de US$ 120 mil no terceiro trimestre de 2019. No segundo trimestre de 2022, a empresa gastou US$ 2,1 milhões.

Mas há limites para o que o lobby consegue resolver. Quando a revista Forbes publicou um relatório dizendo que era realmente possível que os funcionários da ByteDance na China acessassem os dados de localização dos usuários dos EUA, o que aconteceu em resposta foi pior: funcionários da ByteDance investigaram os endereços de IP dos jornalistas para descobrir quem eram suas fontes. O incidente, que o TikTok admitiu em dezembro, “é um escândalo que lança dúvidas sobre todas as promessas que o TikTok fez sobre a proteção de informações pessoais”, disse o senador democrata Ron Wyden, do Oregon, na ocasião.

O TikTok tenta acabar com o mistério ao redor da empresa (Kati Szilagyi/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

O TikTok vem tentando acabar com o mistério em torno de seu app, construindo em Los Angeles o que chamou de Centro de transparência — um prédio com salas cheias de diagramas explicativos e desenhos animados sobre seus padrões de dados e algoritmos para ajudar legisladores e jornalistas a entender como a empresa protege os dados e como seus algoritmos funcionam. Como disse a chefe global de resposta ao risco da TikTok, Suzy Loftus, na inauguração do centro: “Enfrentamos ventos contrários muito significativos no espaço da confiança”.

A primeira legislação federal anti-TikTok aprovada proibiu o app em dispositivos do governo americano. União Europeia, Bélgica e Canadá fizeram o mesmo. Alguns legisladores estaduais tomaram medidas semelhantes; o TikTok está bloqueado ou proibido em dispositivos de funcionários do governo de 25 estados. Em alguns estados, isso inclui funcionários de escolas públicas e redes Wi-Fi universitárias.

Na Universidade do Texas, em Austin, em janeiro, não demorou muito para os usuários do TikTok no campus descobrirem uma solução alternativa. Grace Featherston, formada em educação teatral, diz que os alunos simplesmente passaram a usar dados de celular ou um sinal Wi-Fi diferente. A proibição, no entanto, a deixou furiosa. Featherston, com 26 mil seguidores, posta sobre teatro musical. Ela comparou a perspectiva de uma proibição ao governo tirar o direito ao aborto no estado.

Se o app for bloqueado nos EUA, seria o mesmo que arrancar “um artefato da cultura jovem”, diz Ioana Literat, professora associada de design de comunicação, mídia e tecnologias de aprendizagem na Universidade de Colúmbia. “Sabendo quão ousados e destemidos eles são na hora de falar quando se trata de algo que eles percebem como uma injustiça — e eles definitivamente perceberiam isso como uma injustiça —, eu esperaria uma reação muito forte”.

Qual é o poder eleitoral dos tiktokers

Os tiktokers podem ser um grupo de eleitores particularmente perigoso para se desprezar. Os eleitores com menos de 30 anos foram a única faixa etária nas eleições de meio de mandato de 2022 nos EUA em que a maioria favoreceu os democratas, por uma impressionante diferença de 28 pontos, segundo a Universidade Tufts. O Comitê Nacional Democrata sabe disso — ele tem uma conta no TikTok com mais de 320 mil seguidores. Biden recebeu influenciadores do TikTok na Casa Branca antes das eleições de meio de mandato do ano passado. Os estrategistas democratas dizem que o TikTok é útil não só para atrair jovens eleitores que pendem para o azul como também para mobilizá-los a doar e se voluntariar para campanhas.

A maioria dos republicanos ignora essas preocupações, pelo menos em público. O deputado Tim Burchett, republicano do Tennessee no Comitê de Relações Exteriores da Câmara, diz que “não dá a mínima” para o revés político causado pela proibição do TikTok. Contudo, falando em particular, alguns funcionários que trabalham na questão reconhecem que pode ser tarde demais para proibir um app que se tornou tão popular, segundo um assessor republicano sênior que se recusou a ser identificado compartilhando discussões privadas.

Essa é uma das razões pelas quais a solução da alienação tem se tornado tão atraente para ambas as partes. Mas, se isso acontecesse, o governo chinês teria de rever e assinar a concessão da operação, uma vez que a tecnologia do TikTok é protegida pelos controles de exportação do país asiático. Em agosto de 2020, os reguladores de tecnologia da China atualizaram uma lista de produtos que exigem aprovação antes de serem vendidos no exterior para incluir os algoritmos que a ByteDance usa no TikTok. Se os reguladores da China têm algum incentivo para dizer sim a uma venda, é porque isso ajudaria Pequim a parecer pró-indústria após três anos sujeitando o setor privado da China a restrições rígidas ligadas à covid e à repressão regulatória, diz Xiaomeng Lu, diretor de geotecnologia do Eurasia Group.

Vender, proibir ou limitar o TikTok pode levar meses ou anos. (Uma venda seria mais provável que uma oferta pública inicial, que não é financeiramente necessária no TikTok e provavelmente manteria a ByteDance como um grande investidor, segundo pessoas a par da operação.) Para os críticos do Cfius e do TikTok no Congresso, não está claro quanto da empresa a ByteDance teria de vender para não ser mais considerada no controle. O TikTok teria preferido manter seu plano do Project Texas do que apoiar um processo prolongado de desinvestimento. A tensão política com a China tem levado Chew a brincar que os balões de espionagem foram enviados para ele, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Para onde vai a rede social

Enquanto isso, Chew parece ter mudado para uma estratégia de comunicação mais pública por pura urgência, segundo pessoas a par da questão. Ele foi chamado para depor no Congresso em 23 de março sobre as práticas de privacidade e a segurança de dados da empresa, sua relação com o Partido Comunista Chinês e o impacto do app em crianças. Antes de sua chegada, o TikTok inundou Washington com anúncios divulgando as políticas de confiança e de segurança da empresa.

Chew tem se reunido com banqueiros em Nova York e Miami, para o caso de acabar navegando em uma grande transação. Enquanto isso, sua equipe o prepara para interrogatórios acalorados no Parlamento, segundo fontes a par do assunto. Ele foi aconselhado a se fortalecer e a permanecer calmo, mesmo se confrontado com acusações inflamatórias ou falsas, dizem essas pessoas. Não seja combativo, mas não seja excessivamente defensivo. Deixe os fatos falarem por si sós.

Se essa abordagem não der certo no depoimento, contudo, o TikTok pode ir para a ofensiva para lutar pela sobrevivência, equiparando os limites à existência do app a censura, ou mesmo ao racismo antiasiático, e levando sua luta para fora de Washington e para o público, dizem duas pessoas a par da situação. Em 14 de março, no TikTok, os líderes seniores da empresa discutiram a próxima audiência com a equipe. Uma pessoa próxima ao TikTok a compara aos interrogatórios no Congresso de líderes de tecnologia americanos como Zuckerberg. “É um rito de passagem para uma empresa em nosso setor”, diz a pessoa, que se recusou a ser identificada discutindo questões internas. “É a nossa vez”.

* Colaboraram Zheping Huang, Sarah Zheng, Olivia Carville, Daniel Flatley, Manuel Baigorri e Brody Ford. Tradução de Fabrício Calado Moreira.

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