Revista Exame

De Ronaldo a Trajano: 55 personalidades revelam sua visão sobre o futuro

55 personalidades apontam suas prioridades para o Brasil avançar nas próximas décadas

Luiza Trajano:”Não queremos culpados nem heróis, não queremos mágoas” (Germano Lüders/Exame)

Luiza Trajano:”Não queremos culpados nem heróis, não queremos mágoas” (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 18 de agosto de 2022 às 06h00.

Última atualização em 19 de agosto de 2022 às 13h09.

1. Por mais engenheiros e cidadãos

André Esteves, sócio sênior e presidente do conselho de administração do BTG Pactual

“Acredito profundamente no papel transformador da educação. Quando ouvi do maior venture capitalist do mundo que ele gostava do Brasil, mas que não investiria aqui porque faltariam engenheiros da área de tecnologia para as empresas, decidi que deveria dar um passo maior para transformar o país e a vida de milhares de jovens. Assim nasceu o Instituto de Tecnologia e Liderança [Inteli], universidade sem fins lucrativos inspirada nas principais faculdades de ponta do mundo, mas puramente brasileira. 

Reduzir o gap na formação de mão de obra em tecnologia é uma questão nacional urgente. O Brasil forma pouco mais de 50.000 profissionais da área por ano. Ao mesmo tempo, estudos mostram que o mercado deve demandar quase 16 vezes esse montante até 2025. Afora a quantidade, existe uma lacuna de formação além da técnica, que envolve habilidades socioemocionais e comportamentais. 

Mais do que formar engenheiros, acredito na formação de cidadãos que possam liderar e ser exemplo para as gerações futuras. Isso inclui modelos acadêmicos mais disruptivos, basea­dos em projetos, e mais amplos do que o currículo tradicional de engenharia. Para serem os líderes do futuro, nossos jovens precisam desenvolver soft skills, postura colaborativa, comunicação assertiva, pensamento crítico, capacidade de gestão de pessoas e planejamento estratégico. Tudo isso é fundamental para que o Brasil cresça de forma sustentável. É com educação que vamos evoluir como sociedade.”


2. Pelo diálogo

Luiza Helena Trajano é Presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil

“Acredito fortemente no protagonismo desenvolvido pela sociedade civil. Estamos vivendo um momento de crise mundial, aliada à crise econômica e política em nosso país. Não há alternativa senão a união e o alinhamento de entidades, políticos, lideranças, sindicatos, ou seja, toda a sociedade num único propósito, o Brasil, deixando de lado interesses pessoais, setoriais, políticos e partidários. 

Para alguns, pode parecer difícil ou impossível num momento tão polarizado falar em união, mas essa discussão precisa ser colocada. Quem ganhar a eleição terá de governar para todos os brasileiros e atender diferentes grupos, e não apenas quem votou em sua chapa. Mais do que nunca, precisamos reaprender o sentido da coexistência pacífica. Sim, ela é possível e produtiva. É necessário acabar com a divisão e o ódio que rondam nosso país. O que temos visto e presenciado em muitos setores são situações de intolerância e intransigência. O diálogo se desconecta quando cada lado acha que está com a sua verdade. Precisamos do contrário, de um diálogo que conecte. 

Quando fui palestrar em Harvard aprendi com o professor Daniel Shapiro, que também  falou no evento, sobre como encurtar as diferenças entre nós. Ideias são apenas ideias, mas elas se tornam conflito quando aparece o que ele nomeou de ‘efeito das tribos’. Ele tem três características. A primeira é as diferenças entre duas pessoas as tornarem adversárias, gerando conflito. Em segundo lugar, instaurado o efeito, logo vem a presunção: a pessoa acredita que está certa e que o outro está errado segundo aquele ponto de vista. Por último, a pessoa defende sua perspectiva até o fim, sem ouvir o outro. 

Para lidar com esse efeito, Shapiro passou um conselho simples: exercer a apreciação. Isso significa entender a opinião moral ou o juízo que fazemos sobre o outro. Devemos nos perguntar sempre quão compreensivos estamos tentando ser. Apreciar o outro é, primeiro, querer entender seus motivos. Não é necessário concordar, mas escutar o que a pessoa tem a dizer e refletir se faz sentido, sem filtros ou paradigmas. 

Não faltam pontos de convergência para nós, brasileiros. Temos um povo criativo, batalhador e empreendedor, um grande potencial econômico e de consumo de causar inveja à maioria dos países, além de uma natureza generosa. Também temos um exemplo prático, por meio do Movimento Unidos pela Vacina, liderado pelo Grupo Mulheres do Brasil, que provou que é, sim, possível reunir entidades e pessoas diferentes em torno de um bem comum: levar infraestrutura para a vacinação. Defendemos um planejamento de longo prazo para atender as necessidades básicas de educação, saúde, habitação e emprego. Isso só será alcançado com pressão e acompanhamento da sociedade civil organizada. A grande maioria das pessoas quer o bem, às vezes, pensando caminhos diferentes, mas o diálogo fará total diferença. Não queremos culpados nem heróis, não queremos mágoas. Ansiamos por um Brasil unido e trabalhando pela melhoria da vida de nosso povo.”


3. Trabalho e aprendizado conjuntos 

Daniel Castanho, fundador do Ânima Educação

“O modelo de negócios das escolas de hoje está fadado ao fim.” A afirmação de Daniel Castanho, fundador e presidente do conselho de administração da Ânima Educação, pode parecer catastrófica à primeira vista, mas traz indícios dos novos padrões de ensino do futuro. À frente de um grupo educacional com 396.000 alunos e formado por organizações como a Universidade São Judas, Anhembi Morumbi e UniRitter, Castanho é categórico ao concluir que as instituições de ensino, como escolas de educação primária, universidades e empresas voltadas para a formação profissional, devem sofrer certo rebuliço nos próximos anos. Para ele, boa parte disso se deve à democratização da internet — e de novidades como o metaverso. “Se hoje a informação está em todo lugar, a escola assumirá outro papel”, diz. “A escola passará a ser um espaço para mentorias e formação pessoal e de definição das bases de cidadania nos indivíduos”, diz. Com isso, é possível que o statu quo, para empresas do setor, também deva mudar. “Em breve não veremos mais cursos ou conteúdos específicos com duração de quatro anos, como a graduação tradicional, e sim universidades com cursos para diferentes momentos da vida e que poderão ser acessados também a qualquer momento”, diz. Castanho ainda destaca que, com a maior expectativa de vida da população, a necessidade de atualização educacional será incontestável, uma vez que a mão de obra ficará por mais tempo no mercado. Diante disso, empresas também ganharão um lado educacional — uma tendência que tem ganhado força — e as fronteiras entre trabalho e aprendizado estarão cada vez mais borradas. 


4. Democratização bancária sem volta

Roberto Sallouti, CEO do banco BTG Pactual 

“O avanço tecnológico tem causado mudanças profundas na sociedade, na forma como vivemos, trabalhamos e consumimos. No mercado financeiro não poderia ser diferente. A tecnologia tem estimulado e possibilitado cada vez mais a democratização bancária e da indústria de investimentos no Brasil, intensificando o fenômeno que chamamos de financial deepening.

Desde o surgimento da conta digital e a popularização do smartphone, há dez anos, vemos um amadurecimento importante na agenda regulatória brasileira, uma das mais avançadas e pró-mercado do mundo, abrindo espaço para novos players e estimulando a competitividade, ao colocar o consumidor como protagonista de toda essa evolução.

O amadurecimento do Open Banking, com a criação do Pix, seguido do Open Finance, que ainda vai se desdobrar em novas funcionalidades, e, para o futuro, a central de recebíveis de cartão são agendas que vão gerar novos avanços tecnológicos centrados nos clientes como os maiores beneficiários. Nós, dos bancos, temos o desafio de desenvolver produtos cada vez mais personalizados, e ao menor custo. Por isso, estamos focados em oferecer o melhor serviço, fazendo uso da tecnologia para conhecer e entender cada vez mais as necessidades das pes­soas, para oferecer exatamente o que elas precisam, de forma personalizada e exclusiva.

Tenho orgulho do que temos alcançado nesse sentido e de tudo o que ainda vamos realizar. Isso sem esquecer a importância de olhar para iniciativas que tornam o mercado de tecnologia mais diverso e inclusivo. Aqui no BTG, por exemplo, temos o programa BTG Faz Tech, que destaca projetos desenvolvidos por mulheres que trabalham no banco, o Hackathon BTG Faz Tech Open Finance, que tem a premissa de descobrir novos talentos na área, entre outras iniciativas do banco que contribuem para o avanço do tema.”


5. Trabalho com mais equilíbrio

Mariana Dias, da Gupy: “Teremos uma carga horária mais reduzida, que vai favorecer o equilíbrio entre vida pessoal e profissional” (Leandro Fonseca/Exame)

Mariana Dias, CEO e cofundadora da Gupy

Mariana Dias é uma das poucas mulheres a liderar uma startup de destaque no Brasil. Sua empresa, a Gupy, revolucionou o mercado de contratações com dados e tecnologia. À EXAME, ela falou sobre o futuro do trabalho. 

A pandemia mudou para sempre a forma como trabalhamos e também como enxergamos o trabalho em nossa vida. Essas mudanças vieram mesmo para ficar? 

Essas mudanças não apenas vieram para ficar como já são realidade. O que a pandemia nos trouxe foi clareza de que o modelo de trabalho era — e, em alguns casos, ainda é — muito engessado e sem necessidade para tal. O futuro do trabalho é diverso e inclusivo. Viveremos em ambientes cada vez mais plurais, com grande diversidade de pessoas. O ambiente de trabalho será cada vez mais ágil e flexível. As respostas certas deixarão de existir e passaremos a questionar, criticar, usar fatos e dados, e cada vez mais ferramentas para poder mudar de caminho e tomar as melhores decisões. Deixaremos de viver para trabalhar, teremos uma carga horária mais reduzida, que vai favorecer o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Como a Gupy enxerga o movimento da jornada de trabalho de quatro dias? 

Na Gupy temos o benefício da short friday, ou seja, nosso time inteiro trabalha meio período às sextas-feiras, inclusive eu, e nós incentivamos os nossos colaboradores a aproveitar esse momento para descansar, cuidar da saúde física e mental, e também para se desenvolver. Acredito que muitas empresas estão prontas, sim, para esse novo modelo de trabalho, mas antes de mais nada elas precisam ter em mente que produtividade não é sinônimo de tempo trabalhado, e sim de trabalho realizado e de seu resultado alcançado, sem deixar de lado o bem-estar e a qualidade de vida. 


6. Economia prateada e circular 

José Carlos Semenzato, fundador da SMZTO

Para o empresário José Carlos Semenzato, as tendências para os próximos anos estão dentro de seu portfólio de investimentos. Com 12 redes de franquias e mais de 4.000 lojas pelo Brasil, o fundador da SMZTO aposta no longo prazo em economia prateada e circular. Em 2020, a holding fez um aporte na rede de franquias Terça da Serra, que conta com 36 casas de repouso para idosos. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2021, o Brasil passou a ter 10,2% da população com 65 anos ou mais, o que representa mais de 21,6 milhões de pessoas. “A população brasileira está envelhecendo e casas de repouso serão cada vez mais necessárias. Nossa expectativa é ter 300 em até cinco anos”, diz. Além disso, iniciativas sustentáveis devem ganhar cada vez mais espaço nos negócios. Ele destaca iniciativas como a rede de brechós Peça Rara, marca que fatura 37 milhões de reais com a venda de peças usadas e que tem como sócia a atriz Deborah ­Secco. “A compra e a venda de peças usadas devem se popularizar cada vez mais.” Por fim, o empresário destaca o investimento na HCC Energia Solar e a tendência de franquear o uso de energia solar em residências e empresas. “O investimento é pago em cerca de cinco anos e tem como benefício acabar com a conta de luz.” Hoje com 76 franquias, a HCC faturou 160 milhões de reais no ano passado e projeta fechar o ano com 300 milhões de reais.


7. Mudar o Brasil pela gastronomia

Janaína Rueda, chef e fundadora da Casa do Porco

A Casa do Porco foi apontada como o sétimo melhor restaurante do mundo pela prestigiada premiação The World’s 50 Best Restaurants, com um menu degustação de menos de 40 dólares. A chef e proprietária Janaína Rueda acredita que a gastronomia é e será cada vez mais um fator de identidade nacional. “O que vinha de fora era valorizado. Nossas cozinheiras mulheres se limitavam a tarefas domésticas e a alimentar a família, enquanto os grandes chefs eram homens que vinham da Europa. Caminhamos lentamente para mudar essas questões. Agora vivemos uma luta pelos direitos das mulheres na cozinha e pela valorização do que é genuinamente nosso. É uma evolução para que, daqui a dez anos, não precisemos falar de complexo de vira-lata na gastronomia brasileira. Seremos cada vez mais aprofundados no estudo de nossas raízes. Temos a chance de mudar o país pela gastronomia. Quase não havia restaurantes tailandeses ou peruanos há 20 anos. Só que eles decidiram investir nisso e hoje são conhecidos pela comida. É importante sermos representados pela cultura e pelo que fazemos.”


8. Mais reformas para impulsionar a tecnologia

Laércio Cosentino, fundador da Totvs, maior empresa brasileira de software e tecnologia

“A tecnologia está ao nosso dispor. A inovação contínua nos traz liberdades antes inimagináveis. Carteiras digitalizadas. O uso da biotecnologia e do genoma para reprogramar quem somos. O consumo personalizado e atualizado em tempo real. Para tudo isso continuar, a prioridade para o setor da tecnologia é o investimento em formação e capacitação de mão de obra no Brasil. O déficit atual para preencher 300.000 vagas se multiplicará por seis nos próximos anos se nada for feito, o que criará um gargalo para o crescimento. Assim, criar um ecossistema colaborativo entre a iniciativa privada, o governo e o sistema educacional é condição obrigatória. Um Plano de Educação que inclua a primeira escola com incentivo à área de exatas, os cursos técnicos [EPTs e as universidades é fundamental. Além disso, como a tecnologia é global e de amplo espectro, as reformas estruturais do Brasil não podem mais adormecer no Congresso Nacional sob pena de uma não inserção do país no seleto grupo que dita e desenvolve inovação tecnológica.” 


9. Viajaremos como sempre

Marcelo Cohen, CEO do grupo BeFly

A BeFly é uma holding com mais de 30 empresas voltadas para o segmento de turismo, desde a rede de franquias Vai Voando, que está presente nas favelas e atende as classes C, D e E, até a Queensberry, voltada para as classes A e B e com tíquete médio de 100.000, 150.000 reais. Para o CEO da empresa, Marcelo Cohen, o novo normal “é conversa fiada”. “Muita coisa veio para ficar: pedido de comida por delivery, cardápio no QR Code. Mas as viagens voltarão à rotina”, afirma. “Mesmo viagem corporativa. Eu não devo ter feito uma videoconferência nos últimos 45 dias. Acho que é muito salutar o contato humano.” Da mesma forma, Cohen diz que a previsão de que as pessoas prefeririam destinos de natureza a partir de agora não se concretizou. “Eu estava em Londres no mês passado. Havia filas por todos os lados. É legal ir para o mato; eu nunca tinha ido e fui durante a pandemia. Mas as pessoas continuam querendo ir para a cidade. O mundo é consumista.” O empresário se mostra otimista com o futuro das viagens, mesmo com o recente caos em diversos aeroportos pelo mundo. “Segundo as companhias aéreas, tudo estará normalizado a partir de novembro. Os voos estão lotados, as tarifas estão mais altas. O voo que custava 500 dólares agora está 1.500. Vai continuar assim? Não, mas também não vai voltar ao que era. Talvez custe 750. Muitos aeroportos estão sendo privatizados, as empresas estão correndo para colocar dinheiro no caixa, mais voos, aumentar a oferta. Devemos ter a melhor temporada da história no fim do ano.” 


10. Conveniência ao cliente

Renata Vichi, CEO do grupo CRM

“O cliente está buscando cada vez mais conveniência. As marcas devem estar atentas em antecipar soluções para os consumidores”, diz Renata Vichi, CEO do Grupo CRM, dono das marcas Kopenhagen, Brasil Cacau e Kop Koffee. A executiva acredita na busca por soluções mais ágeis e na maior integração entre lojas físicas e o ambiente digital, além do uso de dados para proporcionar um atendimento personalizado. “Na Kopenhagen, temos uma base de 3 milhões de dados. Conseguimos acompanhar as vendas, a entrega dos produtos e buscamos sempre o menor custo”, diz.


11. Saúde é e será serviço essencial

Carla Sarni, CEO do grupo Salus

Para a empresária Carla Sarni, CEO do Grupo Salus, o setor de saúde é um serviço essencial e um problema mundial. Soluções privadas e acessíveis devem crescer ainda mais nos próximos anos. No Brasil, Sarni acredita que infraestrutura, tecnologia e serviço humanizado vão guiar o setor, em especial o mercado de odontologia, no qual suas marcas já atenderam 6 milhões de pessoas. “No setor de saúde, as mudanças ocorrem de maneira muito rápida. É preciso sempre estar atento às inovações e tendências do mercado”, diz. Outro ponto apontado por ela é a preparação cada vez maior de profissionais da saúde para o empreendedorismo. “Os profissionais precisam saber vender seu trabalho, gerir pessoas e se posicionar no mundo online. A digitalização será cada vez mais importante para a perpetuação de um negócio.”


12. A mudança virá da periferia 

Edu Lyra, da Gerando Falcões: “Ou o Brasil aposta nos pobres, ou será um país pequeno” (Leandro Fonseca/Exame)

Edu Lyra, cofundador e CEO da Gerando Falcões

A favela é a grande startup do país. Há um portal aberto que leva à superação da miséria e da desigualdade, mas só é possível acessá-lo da periferia. Ninguém entende mais de colaboração do que a favela, e é isso que estamos mostrando para o mundo hoje. Mas esse processo só será genuíno se for feito de dentro para fora. Mudanças só se tornam resilientes dessa maneira. Eu posso ter nascido preto e pobre; não por isso sou incapaz de entregar soluções para meus problemas. Nós, favelados, passamos muito tempo sem ser reconhecidos. Agora conquistamos visibilidade e não dependemos mais da elite para construir o futuro. A verdade é que ou o Brasil aposta nos pobres, ou será um país pequeno.


13. O futuro dos carros

Aksel Krieger, CEO do BMW Group Brasil

O que mudou no setor nos últimos anos?

O que vemos agora é uma digitalização acelerada, desde a forma de abordar o cliente até a eletrificação.

E dentro da BMW?

Fomos a primeira marca a trazer um modelo elétrico, com o BMW i3, em 2014. Também fomos os primeiros com atualizações dos carros à distância.

Como enxerga o futuro dos carros?

O ecossistema de IoT [sigla em inglês para “internet das coisas” vai ajudar na comunicação com o meio em volta, desde outros carros até semáforos. O carro como device será uma extensão da casa do cliente. O infotainment crescerá com o 5G. 


14. O futuro é diverso

Danielle Torres, sócia-diretora da KPMG: “Quando eu me aposentar, se não houver outras trans em posições executivas vamos ter falhado em promover a diversidade” (Leandro Fonseca/Exame)

Danielle Torres, sócia-diretora da KPMG

Há sete anos, quando decidiu comunicar à KPMG sobre seu processo de transição de gênero, a executiva Danielle Torres, de 39 anos, estava consciente de que aquele poderia ser o ponto-final em sua carreira. Para sua surpresa, aconteceu o oposto. Torres não só foi acolhida como pouco tempo depois foi promovida a sócia-diretora da companhia, tornando-se a primeira executiva trans do Brasil. De lá para cá, não foi só a vida de Torres que mudou, mas o mundo lá fora também. E a diversidade deixou de ser um tabu dentro das organizações. Ela conta o que esperar dos próximos 55 anos. 

A sociedade vai ser menos preconceituosa no futuro? 

Acredito que vamos viver em uma sociedade híbrida, ou seja, vai existir uma parcela grande de pessoas que compreendem o valor da diversidade. Por outro lado, haverá uma minoria, que ainda assim será representativa, que vai defender algumas visões ultrapassadas. Haverá, também, empresas com graus diferentes de maturidade, mas acho que a maioria delas já verá valor em investir em inclusão. 

Quais foram os principais avanços dos últimos anos? 

O principal foi tornar o assunto amplamente discutido. Falar de diversidade e de inclusão de minorias não é mais exótico. Avançamos na criação de práticas corporativas inclusivas, como a inserção de dependentes homoafetivos no plano de saúde, o uso do nome social, a diversidade nos processos seletivos. 

E o que ainda precisa ser feito? 

É claro que ainda existe a homofobia, o machismo e o racismo estruturais. E, por mais que agora seja comum ver minorias trabalhando em empresas, quando olhamos para a alta liderança ainda é um perfil muito específico que ocupa os cargos. Quando eu me aposentar, se não houver outras trans em posições executivas vamos ter falhado em promover a diversidade. Outra questão é achar que a missão já foi cumprida, que a diversidade deixou de ser uma prioridade quando, na verdade, ela tem de ser integrada à estratégia de ESG de forma mais ampla. 

Você acha que, de fato, as novas gerações são mais inclusivas? 

Existem diversos estudos e pesquisas que mostram que a aceitação da diversidade pelos jovens é muito maior. Há recortes de faixa etária visíveis sobre isso. Ao mesmo tempo, o bichinho do preconceito não escolhe classe social, idade, gênero; ele é estrutural. Acredito que esteja relacionado à formação da pessoa. Conforme vão amadurecendo, os jovens tendem a se tornar mais conservadores. Teremos de acompanhar e ver como essa geração será lá na frente. 

Você tem MBA na área de tecnologia. Como enxerga a ética da diversidade quando falamos de algoritmos e inteligência artificial? 

As ferramentas de IA nada mais são do que modelos estatísticos. E, assim como o ser humano, a inteligência artificial é falha. Os resultados que as ferramentas trazem dependem de uma série de fatores, como a qualidade da base de dados, além da técnica estatística que foi utilizada. E elas têm vieses. O cerne da questão é entender como elas funcionam, suas limitações e adotar uma postura de monitorar e aperfeiçoar as falhas. 


15. O soft power do Brasil será verde

Daniela Campello, professora da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV EBAPE)

“As oportunidades para o Brasil no cenário internacional são enormes. Se o Brasil souber se posicionar, poderá usar o interesse da China e dos Estados Unidos para obter o melhor de ambas as relações. A América Latina também precisa falar de região e encontrar uma agenda, pois assim será capaz de ter um poder de negociação maior em questões relevantes. E o meio ambiente é uma chave determinante. O soft power do Brasil nos próximos anos virá da capacidade de liderar a transição para a economia verde.”


16. A arábia saudita dos alimentos

Ricardo Faria, empresário do setor agrícola, dono da Granja Faria e da Terros

“Se perseguir o caminho da sustentabilidade, o Brasil se transformará na Arábia Saudita dos alimentos, produzindo 600 milhões de toneladas de grãos por ano, gerando empregos de altíssima qualificação e remuneração, mudando o patamar de renda de sua população, gerando um ambiente de investimentos em inovação, infraestrutura de qualidade, preservação de seu meio ambiente e inclusão de sua gente. Com foco no que é ambiental e socialmente sustentável, seremos uma potência de energia limpa e alimentaremos nosso povo e o mundo.”


17. Sonhos e microrrevoluções

Fernanda Ribeiro e Sérgio All, COO e CEO da Conta Black

“Gostaríamos de começar parafraseando Martin Luther King, que discursou ‘I have a dream’ e bradou ao mundo o seu sonho. E, embora estejamos em um país com algumas problemáticas que por muitas vezes nos impedem de sonhar, 55 anos é um tempo bom para projetar nossos desejos às próximas gerações, pois sabemos que somos resultado dos sonhos e da luta de nossos antepassados.

Sonhamos com um empreendedorismo que exerça a sua vocação natural, de resolver problemas da população como um todo, ao contrário do que acontece hoje, quando muitas vezes empreender é uma forma de lutar para a correção de problemas sociais que nem sequer deveriam existir. Que o ato de empreender seja cada vez mais voluntário, e não resultado de um sistema que gera desemprego, onde empreender se torna uma ferramenta de sobrevivência.

Queremos um Brasil com economia forte, sustentável, sem corrupção e com oportunidades igualitárias. Sabemos o quão impossível é ver essa realização sem uma execução que começa no hoje. Planejamento é o caminho, e a educação precisa ser o destino, com todas as suas amplitudes e vertentes. As escolas precisam ser cada vez mais o palco para transformar os brasileiros em pensadores, questionadores, inconformados e protagonistas. Dessa forma garantiremos (e permitiremos) que todos tenham oportunidade de avançar e se sintam seguros para fazer parte da construção do futuro que desejam. 

Finalizamos desejando a todos os brasileiros coragem para seguirmos transformando nossos sonhos em realidade por meio das microrrevoluções que geramos em nosso entorno­ — e que foram responsáveis pelas grandes transformações nesse pouco mais de meio século e nos próximos 55 anos que temos pela frente.”


18. A rota da redução da pegada de carbono

Rubens Ometto, controlador do Grupo Cosan (Rumo, Raízen, Compass Gás e Energia e Moove)

“Houve um tempo em que investir em infraestrutura era apenas o melhor caminho para a ampliação da cadeia produtiva do país. Isso continua válido, porém hoje tais investimentos ganharam uma nova importância, que é a redução da pegada de carbono global. Nesse sentido, posso citar os trens de 120 vagões da Rumo, em substituição aos de 80 vagões; a planta da Raízen Geo Biogás, que produz biogás de subprodutos do etanol; e a distribuição de gás natural renovável, que gera 90% menos gases de efeito estufa e está prevista no aditivo contratual da Comgás. Os bons exemplos e as práticas estão em toda parte. Esses da Cosan são só alguns. Temos muitos outros. O Brasil possui enorme potencial nessa área.”


19. Tecnologia contra o gap educacional

Rodrigo Galindo, Chairman da Cogna Educação

“Ao compararmos os índices educacionais no Brasil de 55 anos atrás — quando a EXAME nasceu — aos de hoje, é notório perceber quanto progredimos para derrubar barreiras estruturais aos avanços na educação — como superar o analfabetismo, por exemplo. Nos anos 1960, 39,6% da população era analfabeta. Reduzimos esse número para 6,6%.

 Mas ainda temos muito por fazer. Na educação infantil, estamos próximos de vencer o desafio da universalização do acesso, mas temos pela frente a meta de melhorar a qualidade. No ensino médio, nossa tarefa é reduzir a evasão escolar e aumentar o percentual de alunos que concluem essa etapa de formação. E, quando olhamos para o ensino superior, precisamos encarar o desafio do acesso e da permanência. Hoje, pouco mais de 20% da população possui ensino superior. 

 Precisamos de um setor que atue com velocidade e eficiência para desenvolver soluções que levem educação a cada vez mais brasileiros. Precisamos investir mais fortemente nas formações ligadas à tecnologia, à saúde e ao meio ambiente — essenciais para um futuro mais promissor. Nesse contexto, o uso da tecnologia na jornada de aprendizado de qualquer estudante hoje é um caminho sem volta. E precisamos trilhar esse caminho na educação, promovendo e fortalecendo a diversidade e a inclusão. Sem zelar por esses aspectos, jamais seremos uma sociedade mais equitativa e capaz de transformar pessoas para um mundo melhor.”


20. O desafio dos alimentos e do clima

Gilberto Tomazoni, da JBS: o caminho para frear o aquecimento global é reduzir as emissões de carbono (Leandro Fonseca/Exame)

Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS

“A humanidade enfrenta duas emergências: a de frear as mudanças climáticas e a de garantir a segurança alimentar da crescente população mundial. Os eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, já estão ao nosso redor. A fome também é uma realidade, pois uma em cada três pessoas não tem acesso à alimentação suficiente. Com a expectativa de chegarmos a 10 bilhões de pes­soas até 2050, a tendência é que o quadro se agrave.

O caminho para conter o aquecimento global a 2 oC acima dos níveis pré-industriais, preferencialmente abaixo de ­­­­­­­­­­1,5 oC,­­ é descarbonizar a economia mundial. É por isso que empresas, cidades e países estão assumindo compromissos de se tornarem Net Zero, ou seja, de zerarem o balanço líquido de suas emissões de gases de efeito estufa. Essa transição é um dos maiores desafios já enfrentados, pois exige nada menos do que uma transformação completa na forma como produzimos, consumimos e nos movimentamos.

Ao longo dessa jornada, é crucial produzir mais alimentos. As soluções para isso já existem. Aqui no Brasil, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta permite ampliar a produção em até 40% e capturar gases de efeito estufa. Outro exemplo é a recuperação de pastagens degradadas, que pode aumentar em dez vezes a produtividade e impulsionar o sequestro de carbono. Temos de alavancar essas soluções e investir em ciência para superar os desafios persistentes.

Estou certo de que, colaborativamente, poderemos vencer o desafio da humanidade de alimentar a crescente população mundial de maneira mais sustentável.”


21. Ressignificar o contato com o cliente

Mario Leão, presidente do Santander Brasil

“O desenho do setor financeiro do futuro começa pelo reconhecimento de que um banco é essencialmente uma empresa de consumo, na qual os clientes buscam ser servidos com a mesma atenção — na venda e no pós-venda — que recebem das demais empresas de varejo, físicas, digitais ou omnicanais. Como empresas de varejo e de consumo, os bancos terão de ressignificar cada vez mais seus canais de contato com o cliente, adicionando tecnologia e inovação em cada aspecto da experiência de consumo dos clientes e, por meio do fator humano, trazer uma diferenciação adicional, cada vez mais técnica e especializada. Com isso, atenderemos cada vez mais e melhor nossos clientes, na forma, no local e no momento em que eles quiserem ser atendidos, aumentando sua vinculação e satisfação.” 


22. Um país mais diverso

Lilia Schwarcz, historiadora

Como historiadora, Lilia Schwarcz se diz “não partidária do futurismo”, mas pressupõe como estará a pauta racial daqui para a frente. “Se adotarmos uma política de cotas abrangente, com afirmação positiva, teremos ainda mais lideranças ocupando postos estratégicos nas empresas, nas universidades e nas instituições públicas. Com isso, o panorama brasileiro poderá mudar”, afirma. Já para um futuro mais próximo, a pesquisadora espera que a cultura volte a ser um elemento fundamental na pauta do governo. “Almejo que a cultura seja plural e inclusiva”, diz Schwarcz. 


23. Craque da gestão

Ronaldo Nazário: “Não existe mais espaço para gestão amadora em negócios de nenhum segmento” (Buda Mendes/Getty Images)

Ronaldo Nazário, ex-jogador e empresário esportivo

Ex-craque da Seleção Brasileira de Futebol e de clubes como Real Madrid e Inter de Milão, Ronaldo hoje dirige a R9, uma startup de gestão patrimonial para jogadores. Também assumiu o controle do Real Valladolid, clube da Espanha, e mais recentemente do Cruzeiro.

Que modelo de gestão os clubes de futebol devem adotar?

O futebol, ainda que seja movido pela paixão do torcedor e pelos resultados desportivos, é um negócio e deve ser encarado como tal. Modelos sem processos, governança, profissionalismo e responsabilidade tendem a fracassar. Não existe mais espaço para gestão amadora em negócios de nenhum segmento. 

Sua experiência pode inspirar outros empresários a investir na gestão dos clubes de futebol?

Acredito que sim. Minha experiência no Brasil é pioneira: compramos a primeira SAF de um gigante como o Cruzeiro. Abrimos as portas aqui para um novo modelo de negócios e, naturalmente, outros empresários passam a enxergar as SAFs como uma opção segura e atraente de investimento.

Você acredita em uma nova liga em substituição ao atual campeonato brasileiro?

Não só acredito como considero fundamental para o crescimento do nosso futebol. O modelo atual é insustentável. E a ideia de uma nova liga não é mais utopia, é o caminho. Os clubes já chegaram ao consenso de que ela deve acontecer, e agora o momento é de união para encontrar o melhor formato com responsabilidade e governança.


24. Influência 3.0

Camila Coutinho, influenciadora e dona da marca GE Beauty

“Enxergo a influência digital em três momentos muito claros. Quando eu comecei com o blog Garotas Estúpidas, 16 anos atrás, era uma fase de brincadeira, de descoberta das possibilidades desse modo de comunicação. Uma nova forma de falar na primeira pessoa, direto ao público. Era muito no tato, ninguém sabia o que estava fazendo. Era um momento muito amador, muito girl next door.

Quando as pessoas começaram a pensar em possibilidades, viram que aquilo eventualmente poderia trazer dinheiro, começaram a ficar inebriadas com a eventualidade de virar celebridade em um mundo onde a fama era verticalizada. Tornou-se algo muito aspiracional, uma edição do cotidiano, a tentativa de transmitir uma perfeição natural. Como se a vida só tivesse a parte boa. Essa foi a fase 2.

E aí vem a fase 3, o início de onde estou agora. Comecei a perceber o que realmente me faz única. Passei a explorar as coisas que me fazem ser quem eu sou, os assuntos que me tornam diferente. Deixei de abordar moda e passei a me arriscar mais. As pessoas começaram a me reconhecer como expert em outras coisas, a me ver como uma pessoa que dominava outros assuntos, que merecia receber atenção e ser escutada.

Estamos numa bifurcação no mundo da influência. Podemos entregar a vida para o algoritmo e fazer tudo o que der audiência. Seguir tendências e perder a espontaneidade. Ou podemos olhar para outro lado e começar a criar, cuidar da nossa comunidade, com interesses mais alinhados aos nossos. O que não necessariamente vai gerar um meganúmero. Isto é claro: quanto mais você quer abraçar o mundo, mais genérico você tem de ser.

A conversa com a comunidade traz uma responsabilidade maior. O jogo muda. Precisamos ter consciência do nosso papel de influenciador. Se estamos direcionando nossa vida a isso, nosso negócio merece dedicação. Desde o começo do Garotas Estúpidas eu resolvi que aquilo seria o meu negócio. Sempre olhei para o blog da maneira mais profissional que eu podia. De uns tempos para cá, e principalmente neste ano, tenho me dedicado a estudar o mercado da influência das marcas no geral, onde entra todo o meu negócio de conteúdo: a Camila como personalidade, o Garotas Estúpidas como veículo, o GE Beauty como marca e o GE Formando Líderes como projeto social, que tem pouco mais de um ano.

Já houve uma época de bonança, em que bastava colocar dinheiro e era venda na certa. Muitas marcas DNVB surgiram nessa época, quatro, cinco anos atrás. Hoje não funciona mais assim porque o mercado está saturado. O CAC está altíssimo, as pessoas falam cada vez mais sobre retenção, assinatura, flywheel. Tudo para manter a fidelidade do consumidor. Mas só se consegue isso oferecendo produtos de qualidade, informação de qualidade.

Começou uma nova era também para as marcas. Hoje existem métricas, maneiras de medir o retorno. São dados que todo mundo vê, comentários, engajamento. Mas e aquelas pessoas que não engajam, mas compram? O consumidor maduro, que compra, gasta, ouve, troca. O trabalho de um influenciador tem de ir além de cuspir a publi, pegar o dinheiro e ir para casa. As marcas não devem desperdiçar o cérebro criativo dos influenciadores. Não se trata de obrigar a pessoa a replicar um briefing, e sim de usufruir do trabalho de um estrategista que pode ajudar você a falar com seu público. Vão se dar melhor nesse mercado os influenciadores que se dedicarem a profissionalizar os seus negócios e as marcas que entenderem o valor da parceria e da criação em conjunto.”


25. 5G: adoção mais rápida já vista 

Luiz Tonisi, presidente da Qualcomm Latam

Com o início da operação das redes móveis de 5G em 2022, o Brasil vai começar a viver o aprofundamento de uma intensa revolução digital. Mas o que é visto no presente é só o primeiro ato de um futuro hiperconectado, aponta Luiz Tonisi, CEO da Qualcomm, uma das principais fornecedoras globais de infraestrutura de redes móveis. Para o executivo, o 5G no Brasil é mais do que a chave para uma nova economia. “Aos consumidores, no futuro, ofereceremos uma infinidade de experiências diferentes. A realidade aumentada e os dados servirão para criar tudo que imaginamos hoje, mas não conseguimos operar.” Com tamanhas mudanças, a internet das coisas, enfim, será uma realidade. “Os carros autônomos estarão nas ruas, e até as empresas terão um tipo de consciência artificial para negociar entre si, antecipando suas necessidades de crescimento através de previsões coletadas de inúmeros dispositivos”, afirma Tonisi.

Ainda segundo o líder da Qualcomm, a escala de adoção desse advento será a mais rápida já vista. “Se olharmos para o Brasil em 2028, a cobertura da conexão de nova geração será maior que a 4G em 2022. O número de usuários absolutos deverá ser ultrapassado em menos da metade do tempo que levou entre o 3G e o 4G.” O resultado deverá ir além das telecomunicações, alcançando também a Indústria 4.0, telemedicina, agronegócio, educação e outros segmentos. Um cenário, segundo defende Tonisi, que deverá ajudar o Brasil a ganhar competitividade em áreas nas quais foi sempre deficitário. 


26. Bancos são “epicentro ESG”

Sérgio Rial, chairman do Santander Brasil e da Vibra Energia e conselheiro da Marfrig

“Os países que entenderam o papel transformador de seu sistema financeiro, os Estados Unidos sendo um bom exemplo disso, estão sendo capazes de alavancar a revolução tecnológica. Democratizaram a informação como nunca antes visto, deram saltos exponenciais na interação com o consumidor, hoje mais exigente, plural e carente de empresas que sintetizem o relevante a partir do ruído informacional. Os sistemas financeiros se tornaram o epicentro de toda essa transformação, abraçando hoje a nova fase de construção de economias de baixo carbono e de sistemas educacionais capazes de produzir uma maior equidade socioeconômica, tão necessária neste novo século. Isso só se dá com inovação, crescimento e liderança de ponta.”


27. A digitalização  é um processo sem volta

Cristina Junqueira, do Nubank: virada de chave para profissões em breve (Vtao Takayama/Divulgação)

Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank

“Eu sempre digo que o talento é um dos principais meios para alcançar o sucesso profissional, seja qual for a área. Não acredito muito nessas coisas de seguir sua paixão, porque não necessariamente escolhas nesse sentido significam sucesso e chance de ser feliz. Sobre futuro, não tenho dúvidas de que o potencial das tecnologias de quebrar paradigmas significa um impacto nas profissões. E recomendo perseguir novas fontes de conhecimento e acompanhar a evolução do mercado. Estamos num mundo em que a digitalização é um processo sem volta. Por isso, os próximos anos serão uma virada de chave definitiva na área de profissões porque o mercado tecnológico busca mão de obra qualificada.”


28. Brasil, uma agricultura movida a ciência

Celso Moretti, presidente da Embrapa

Graças à ciência e à tecnologia, a agricultura brasileira mudou para muito melhor. A evolução começou nos anos 1970 com a transformação de solos ácidos e pobres em terras férteis. Animais e plantas de outros continentes foram adaptados às condições dos trópicos. De importadores de alimentos, passamos a ser um dos maiores exportadores de alimentos, fibras e bioenergia, com redução de 45% no preço da cesta básica. 

Foi uma transformação sem paralelos no mundo, viabilizada por um sistema nacional de pesquisa liderado pela Embrapa, empresa pública com 43 centros de pesquisa, e contando com o empreendedorismo do produtor rural brasileiro. 

Por meio da ciência, o Brasil desenvolveu uma plataforma de produção competitiva e sustentável. Com o uso de genética, da Embrapa, e irrigação, foi possível atingir 9,6 toneladas de produtividade por hectare, um recorde mundial, numa região antes considerada imprópria. 

E seguimos abrindo caminhos. Os esforços passam pela agricultura e pecuária de precisão, com ferramentas digitais capazes de reduzir custos de produção. A rastreabilidade via blockchain e a comercialização de créditos de carbono no setor sucroenergético e de biocombustíveis são exemplos de avanços recentes.  

Apenas a Embrapa desenvolve hoje mais de 1.000 projetos nas mais diferentes áreas, buscando ajudar a agricultura brasileira a produzir mais e melhor. Agora dominamos a edição gênica, técnica revolucionária que viabilizará o surgimento de novos produtos, como variedades adaptadas às mudanças climáticas e à realidade de cada região. Neste momento estão sendo desenvolvidas cultivares de trigo, algodão, milho e arroz — convencionais e editadas geneticamente — capazes de tolerar estiagens. O zoneamento agrícola de risco climático está sendo ampliado para permitir a mitigação de perdas relacionadas a extremos climáticos atípicos. Novos compostos enriquecidos com fontes de fósforo e potássio estão em desenvolvimento, assim como biopesticidas para o controle das principais pragas e doenças que atacam culturas como milho, soja e cana-de-açúcar. O agro brasileiro é parte da solução para a alimentação do planeta e para a redução do impacto das mudanças climáticas. 


29. Vídeo viral vira venda

Daniel Mazini, presidente da Amazon no Brasil

O varejo digital passou por diferentes curvas de inovação até chegar ao patamar atual. Para as próximas décadas, serão exigidas de gigantes do e-commerce a atenção à experiência do cliente, a infraestrutura de apoio aos pequenos lojistas online, além da incorporação de tecnologias de ponta, como realidade virtual. Para Daniel Mazini, presidente da Amazon no Brasil, a pulverização do e-commerce já começou. “A demanda dos consumidores nos últimos anos vem se encaminhando para o específico, não o comum”, diz. “Isso cria um sem-fim de marcas e produtos, cuja demanda surge de tendências criadas a partir de um vídeo que viraliza na mídia social, e não de um planejamento estratégico,  de pesquisas e de marketing do fabricante. É muito difícil para um único player conseguir carregar um estoque disponível de todos esses produtos e possibilidades infinitas.” 

O executivo destaca duas tendências norteadoras dos rumos do varejo digital. A primeira é a transformação da jornada do cliente, agora mais centralizada e dinâmica, passando por canais digitais e físicos numa única compra — o tal do omnicanal. “A jornada de compra começará em todo lugar, onde o cliente estiver e onde ele passar o tempo”, afirma. 

A segunda é o foco na experiência de quem lota os carrinhos digitais. Vão se diferenciar empresas que puderem transformar o ato de comprar pela internet muito mais completo do que pela própria loja física. Aí, a tecnologia poderá ajudar. “Essa experiência digital vai permitir entender mais sobre o produto, o que outros clientes como você acharam dele, simular seu uso, ver vídeos, experiências 3D ou em realidade virtual e conhecer muito mais detalhes do que um vendedor de loja poderia dar.”


30. Por mais metas climáticas

Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU Brasil

“Estamos entrando num momento anticíclico grande, com inflação em alta, fragilização do tecido social, pobreza aumentando. E agora há a questão dos alimentos, por causa da guerra na Ucrânia, uma grande produtora de grãos. O cenário é de bastante preocupação. Por isso precisamos, cada vez mais, que as empresas assumam compromissos e metas. E, muito mais do que metas financeiras, precisamos ter metas em temas como clima, direitos humanos, água, anticorrupção, saúde mental. Ouvimos muito falar de ESG, mas precisamos ser ESG de fato.”


31. O potencial das favelas

Celso Athayde, CEO da Favela Holding

“Favela não é carência, é potência. De onde eu venho empreender é sinônimo de ‘se virar’. Falamos em ‘dar nossos pulos, fazer nosso corre’. Desde que me conheço por gente, eu empreendo. Somos 17 milhões de potências. O dobro de pessoas da Suíça, país-sede do Fórum Econômico Mundial. Somos um grande e potente país chamado favela, com PIB acima de 120 bilhões de reais. Mas o mundo precisa decidir: ou divide com as favelas a riqueza que ela sempre produziu ou continua­remos dividindo as consequên­cias da miséria que as elites mundiais sempre produziram.” 


32. Medicina personalizada

Pedro Bueno, CEO da Dasa

À frente de um dos maiores grupos de saúde do país, Pedro Bueno, CEO da Dasa, vê um futuro em que os serviços de saúde serão mais personalizados, preditivos e acessíveis.

O que esperar do setor de saúde nas próximas décadas?

Hoje o setor é fragmentado, muito reativo e caro. O que é caro no setor é tratar a doença. Se direcionasse os recursos para manter as pessoas saudáveis, o setor poderia ser mais barato, mais acessível e eficiente. Entre as tendências, o que vemos é um aumento da capacidade computacional associado a uma maior coleta de dados. E a aplicação disso no indivíduo, numa medicina mais personalizada e preditiva. O futuro da saúde vai ser muito mais preditivo, com o uso assertivo e inteligente dos dados para prever quem tem risco de desenvolver cada doença, antes de ela se desenvolver. Cada vez mais vamos descobrir na hora certa que a pessoa tem risco. Hoje a experiência na saúde é muito ruim e exige muita disposição, tempo e dinheiro da pessoa. Isso vai mudar. Vamos empoderar o médico e o paciente para estarem em contato de forma contínua e inteligente. Isso deve reduzir muito o custo do sistema, entregando uma proposta de valor muito melhor. 

Nesse futuro, a saúde de qualidade será mais acessível?

Hoje, só 25% da população tem plano de saúde. O número poderia ser muito maior, o que também desoneraria o SUS. Espero que a gente diminua a desigualdade na saúde. O setor privado tem uma medicina comparável à dos países mais desenvolvidos, mas, quando vamos para algumas regiões do SUS, o sistema carece de investimentos e recursos. A tecnologia, se bem aplicada, poderá endereçar esse grande problema.

Como será essa medicina mais personalizada?

Teremos coisas futuristas, como a edição genética e a genômica. Seremos mais assertivos em como conseguiremos editar nosso genoma, e também o de bactérias ou vírus, para combater doenças como o câncer. Há uma discussão ética de até onde a edição genética poderá ser usada. Vai ser interessante ver a evolução disso daqui para a frente.

 Que obstáculos precisamos vencer no meio do caminho?

A saúde é muito complexa. São muitas empresas diferentes. Coordenar esses agentes para grandes transformações é muito difícil. Há uma barreira cultural — tanto a cultura dos agentes de saúde quanto a dos pacientes. A gente precisa migrar do modelo reativo para o preventivo. Isso já está acontecendo, mas precisa avançar mais. Outro ponto é o financiamento, principalmente para o setor público.

Qual é a urgência disso tudo?

O mundo em 2050 vai ser um mundo velho. E o custo da saúde para o idoso é muito maior do que para o jovem, quando não é feita a prevenção e uma saúde mais inteligente. Então nós temos uma janela, e precisamos avançar rapidamente. Isso porque, se a gente não conseguir mudar o sistema, em 2040 o setor implodirá. Vai ficar insustentável. Isso aumenta o nosso senso de urgência. 


33. Prevenção a novas pandemias

Nísia Trindade Lima, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

“A lição da pandemia dependerá de como a sociedade e os governos vão lidar com o balanço dessa traumática experiência. No caso do Brasil, será imprescindível, desde já, definir e dar sustentabilidade a ações de ciência, tecnologia e inovação [CT&I e ao Sistema Único de Saúde [SUS. Investimentos contínuos em CT&I são essenciais para a construção de uma base permanente de respostas para problemas recorrentes de saúde coletiva e para prováveis novas emergências sanitárias. É possível gerar produtos de alta tecnologia em saúde no Brasil por meio do Ceis e contribuir para um esforço global de descentralização da produção de medicamentos, testes, vacinas e insumos farmacêuticos ativos, como mostraram o Acordo de Transferência Tecnológica com a farmacêutica AstraZeneca e as mais de 200 milhões de vacinas contra a covid-19 produzidas pela Fiocruz. Uma agenda que articule os direitos sociais, o acesso à saúde, à ciência e à inovação talvez seja a grande opção estratégica que permitirá sair da falsa separação entre economia, direitos e sustentabilidade.” 


34. Música indígena

Alok: “Não é preciso entender a língua dos Yawanawá para sentir o que eles têm a dizer” (Leandro Fonseca/Exame)

Alok, DJ e empresário

“Quero que as pessoas vivenciem experiências singulares e inéditas por meio da música que produzo”, diz Alok, eleito um dos cinco melhores DJs do mundo. Em breve o músico fará um álbum em conjunto com indígenas. “Você não precisa entender a língua dos Yawanawá para sentir o que eles têm a dizer.” 


35. O envelhecimento, a previdência e o SUS

Pedro Fernando Nery, doutor em economia e professor no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP)

“Com o envelhecimento da população, estamos vendo cada vez mais idosos e uma redução forte no número de nascimentos. Isso provoca mudanças enormes na sociedade. A Previdência é a área mais evidente, mas ainda vamos falar muito dos efeitos no Sistema Único de Saúde, nos planos de saúde e até na segurança pública.” 


36. O modelo twin peaks

Marcelo Trindade, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e advogado societário

“O desenho da supervisão do nosso mercado de capitais é das décadas de 1960 e 1970 do século passado. Houve avanços de lá para cá — como mandatos para os diretores da CVM e, recentemente, do Banco Central. Mas continuamos com muitos reguladores (além daqueles, ­Susep e Previc), segregados pelos produtos oferecidos no mercado, e não pela natureza de sua missão. Boa parte do mundo — com a relevante exceção do maior dos mercados — migrou para apenas dois reguladores: o modelo twin peaks. Um, prudencial, cuida de liquidez e solvência. Outro, de condutas, da informação e da proteção dos investidores. É hora de discutir esse assunto por aqui. Mesmo que nada mude, seremos obrigados a pensar em independência e financiamento adequado dos reguladores — algo que, em qualquer estrutura, é urgente garantir, para estimular a poupança dos brasileiros.”


37. Futuro mais igualitário

Adriana Barbosa, da PretaHub:”Hora de revisitar o passado e reelaborar os significados em torno da relevância de pessoas negras e indígenas” (Germano Lüders/Exame)

Adriana Barbosa, CEO da PretaHub e fundadora da Feira Preta

“Muitas mudanças estão acontecendo de forma simultânea em muitas áreas, mas daqui a 55 anos eu desejo que as questões raciais estejam mais avançadas e que pessoas pretas, indígenas e periféricas estejam ocupando diferentes setores da sociedade com poder de voz e decisão, partindo da lógica da descentralização do poder e do capital.

Pensar num futuro passa obrigatoriamente por revisitar o passado e reelaborar os significados em torno da relevância das pessoas negras e indígenas no nosso país, por isso a importância e a urgência de criarmos e construirmos hoje um futuro mais igualitário e possível, principalmente para essas comunidades.

Tenho a convicção de que muito já foi feito, mas que o futuro pode ser ainda mais promissor, a partir da inventividade preta. É preciso entender que o futuro não se constrói sozinho e que podemos projetá-lo juntos. Acredito no poder de trabalhar em conjunto. Portanto, a partir de uma gestão compartilhada entre sociedade civil, governos e iniciativas privadas, é possível construir o futuro que queremos.”


38. Convergência de tech e clima

Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente

“O século 21 é a convergência da era digital e tecnológica com a era climática, que traz à tona inúmeros desafios. Isso deveria colocar o Brasil em um processo de reflexão mais estratégico, mas não é o que acontece quando se observa o setor público. Há um desconhecimento enorme sobre o assunto. Já no setor privado, na sociedade civil e no setor financeiro, há segmentos que já entenderam essas mudanças e procuram saber como essa nova realidade vai se impor nos próximos anos. Quem tem preocupação com essa agenda sabe que é preciso ter uma boa regulação, regras claras e bons dados.”


39. Para ir mais longe na educação

Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação

Como presidente do Todos pela Educação, Priscila Cruz acompanha de perto os desafios da educação brasileira — acentuados pela pandemia e pela situa­ção econômica difícil enfrentada pelos alunos mais pobres. À EXAME, ela relembra o que avançou nas últimas décadas e o que o Brasil precisa priorizar daqui para a frente. Veja os principais trechos.

A EXAME foi fundada quando o Brasil estava em situação muito diferente na educação. O que mudou de lá para cá?

Houve um amadurecimento das políticas educacionais. Desde a Constituição de 1988, principalmente, uma série de políticas foi implementada: obrigatoriedade de matrícula, programas de livro didático, de merenda, de transporte escolar, avaliações educacionais, o Inep, que é referência mundial. Temos um sistema de financiamento redistributivo como o Fundeb, que, independentemente da arrecadação do estado ou município, equaliza os investimentos.

Por que ainda estamos tão atrás apesar dessas políticas?

O Brasil começou há 30 anos uma corrida que países da OCDE começaram 200 anos atrás. A escola era para poucos. Tínhamos nos anos 1970 metade das crianças fora da escola, e hoje temos quase 100% na escola. A aprendizagem de português saiu de menos de 30% para 70% em 2019 [antes da pandemia. Mais do que dobramos o número de alunos com aprendizagem adequada. O Brasil teve, sim, resultado. Agora, significa que conseguimos cumprir toda a nossa missão educacional e civilizacional? Não.

Que lições podemos tirar e onde falta avançar?

É seguro dizer que hoje deixamos de olhar só para Finlândia, Canadá, Austrália. Passamos a olhar os exemplos aqui do Brasil. Ceará no ensino fundamental, Pernambuco no ensino médio. Agora Alagoas é o estado que mais vem crescendo no fundamental, entre outros. E o que isso significa? Que o peso agora recai sobre a liderança política. A população brasileira se acostumou com esse discurso de que escola pública é um fracasso, de que não adianta investir porque nunca vai dar certo. E os gestores ficam escondidos atrás desse discurso derrotista. O Brasil hoje tem condições para em dez anos mudar radicalmente o patamar da qualidade. Os alicerces foram colocados e aguentam uma construção muito mais alta agora.

Como lidar com o atraso da pandemia?

Não existe bala de prata. A escola não pode carregar nas costas todas as dificuldades de um país e das famílias. Áreas como assistência social, saúde, cultura e esporte têm de se articular com a educação e usar bem as políticas que podem se encontrar na escola, como merenda escolar. Precisamos de prioridade à saúde mental, com contratação de psicólogos e profissionais da saúde para alunos e professores. E, por fim, na aprendizagem, não podemos deixar que o atraso se arraste. São dois caminhos: busca ativa para trazer alunos de volta e recomposição da aprendizagem. Ampliar o turno será essencial. O Brasil ainda tem lugares com 2% de ensino integral. Não precisa ter 100%, mas teríamos de estar perto dos 70%. 


40. O maior desafio do Brasil é ter vontade de progredir

Celso Toledo, diretor da E2

“Nos últimos 55 anos, o poder de compra do brasileiro como proporção do americano praticamente não mudou. Em 1967 a fatia era de 20%. Em 2021 passou para 23%. O fato de termos acompanhado o líder por mais de meio século não chega a ser uma tragédia, mas também não foi uma façanha. A manutenção de um nível comparativamente baixo de renda por tanto tempo deveria incomodar porque, supostamente, o progresso é uma tarefa simples às nações que podem se dar ao luxo de copiar o que dá certo no mundo desenvolvido. O Brasil chegou a diminuir a distância até 1980, quando a nossa renda chegou a 36% da de um estadunidense — o que hoje é o Chile. Depois foi ladeira abaixo.

As evidências mostram que o setor privado investe quando tem os incentivos corretos, fontes de financiamento confiáveis e segurança de que não será expropriado. Ao setor público cabe elaborar e fazer valer regras que alinhem bem os incentivos, protejam os mais fracos e garantam ajuda aos que, por quaisquer razões, não sejam bem-sucedidos. 

O Brasil faz tudo do avesso. O Estado paquidérmico suga a poupança para servir a si e a parceiros, encarecendo o capital. O diagnóstico sobre o que fazer é conhecido de cor e salteado. A receita para elevar a produtividade, alavancar o crescimento e melhorar de forma sustentável o padrão de vida da população é conhecida. O desafio é encontrar políticos capazes e dispostos a convencer o eleitor mediano a apoiar reformas cujos benefícios são distantes e difusos e que confrontam interesses de cupins organizados. Como fazer isso em um ambiente polarizado, marcado por desconfiança, oportunismo e ignorância? Quem sabe nos próximos 55 anos.”


41. Menos desperdício

Fábio Rodas, CEO e cofundador da Shopper

“O futuro precisa de um comércio com menos desperdício. É o que buscamos na Shopper. Cem por cento dos itens perecíveis que vendemos [frutas, legumes e verduras são comprados dos produtores só após termos confirmado os pedidos dos nossos clientes. Ou seja, compramos apenas aquilo que já vendemos. É o oposto da lógica do supermercado tradicional, que compra antes de vender e pode não vender tudo o que comprou, gerando desperdício. Em 2015, nós escolhemos criar esse modelo exatamente por ser mais eficiente do que os outros formatos online. Uma das formas de uma empresa impactar positivamente a sociedade é sendo eficiente, entregando um serviço de qualidade superior a um preço menor. Com o nosso modelo temos feito isso, entregando dezenas de milhões de reais em economia a nossos clientes — recursos esses que podem ser usados para qualquer outra coisa, melhorando a qualidade de vida. Conforme as empresas melhorarem seus serviços [no e-commerce, a venda online deve ganhar espaço e as lojas físicas devem se tornar cada vez mais locais para a experimentação de novos produtos e para compras em ocasiões especiais ou atípicas de consumo, que fogem da rotina de reabastecimento. Essa é nossa visão para o longo prazo.”


42. Hora de ações afirmativas

Maurício Rodrigues, da Bayer: reparação das desigualdades e avanços de ações afirmativas (Leandro Fonseca/Exame)

Maurício Rodrigues, presidente da Bayer Crop Science na América Latina

Presidente da Bayer Crop Science na América Latina desde 2021, Maurício Rodrigues se considera uma exceção — no Colégio Bandeirantes, em São Paulo, onde estudou; na escola de inglês; na Universidade de São Paulo, onde cursou engenharia civil; e na pós-graduação. No comando da farmacêutica, selecionou 500 estagiários para a empresa (15% LGBTQIA+, 45% negros e 55% mulheres). “Sociedade e empresas têm caminhado para ampliar o debate, entendendo que também é necessário reparar desigualdades históricas. Mas precisamos avançar cada vez mais com essas ações afirmativas”, diz o executivo. 


43. Uma moda mais circular

Alexandre Birman, da Arezzo&Co: “A economia circular é uma realidade e com projeções de movimentar 77 bilhões de dólares até 2025” (Leandro Fonseca/Exame)

Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co

Cinquentenário, o grupo Arezzo&Co, detentor de diferentes marcas de vestuário, calçados e acessórios, está diante de um dilema que circunda a indústria da moda: a desaceleração do conceito de fast fashion. O crescimento populacional põe em xeque o modus operandi com base na produção em escala de itens rotativos e de menor durabilidade, ao passo que abre precedente para a ascensão de modelos que priozirem a sustentabilidade e a economia circular — ambos conceitos já adotados pelo grupo. O CEO da Arezzo&Co, Alexandre Birman, analisa as principais tendências do setor para as próximas décadas. 

Quais são, na sua opinião, as tendências mais proeminentes da indústria da moda para os próximos 55 anos?

Pensamos nosso negócio para perpetuar, atravessar gerações, sempre com visão de longo prazo, consistência, estratégia e conexão com o espírito do tempo. A moda reflete o comportamento de sua era. Nesse contexto, vejo a moda cada vez mais consciente, comprometida com a sustentabilidade, a diversidade e a inclusão, o crescimento da cultura de segunda mão mais forte, a moda como expressão da identidade e do estilo de vida. Sob o ponto de vista da experiência, a total integração de canais, o fim das fronteiras entre o mundo físico e o virtual, a tecnologia e a inovação nos processos, a valorização do trabalho manual. 

O que podemos esperar do fast fashion nas próximas décadas? 

As marcas estão reinventando seus conceitos e práticas, novas formas de criar, produzir, distribuir e se conectar com o cliente. A economia circular é uma realidade e com projeção de movimentar cerca de 77 bilhões de dólares até 2025. No Brasil, a cultura tem ganhado força com a desmistificação da ideia dos brechós que vendiam roupas velhas. Temos players relevantes no mercado nacional que estão mudando essa mentalidade, mostrando um trabalho fantástico de curadoria de peças e experiência de compra, como é o caso da Troc, que desde 2020 integra o grupo Arezzo&Co, com uma experiência incrível para sellers e clientes. 

Diante do aumento populacional, produzir mais, mas de forma melhor e com menor impacto, continuará sendo um desafio para a indústria da moda? 

A questão da produção versus demanda populacional é um desafio para todas as indústrias, não só a da moda. Temos um grande time, além de parcerias e convênios com startups e meio acadêmico dedicados às frentes de tecnologia, inovação e sustentabilidade, para criar soluções e ferramentas a fim de aprimorar nossos processos. Nosso pilar de ESG tem metas que visam o uso de matérias-primas de baixo impacto socioambiental, além da missão de atingir a neutralidade de carbono [Net Zero até 2050. Queremos certificar 100% de nossos fornecedores diretos até o final deste ano e rastrear toda a nossa cadeia até 2024.


44. A saúde precisa ser repensada

Paulo Chapchap, presidente do conselho do Todos pela Saúde

“Precisamos repensar a saúde pública em três pilares para aprimorar a qualidade do serviço. Hoje, o país dedica cerca de 4% do PIB à saúde, enquanto em países desenvolvidos esse percentual é o dobro. Então precisamos reorganizar o financiamento da saúde no Brasil. Além disso, hoje os municípios, alguns muito pequenos, são responsáveis pela gestão de hospitais, o que na prática não funciona e precisa ser mudado. Também é necessário realizar uma grande coleta e análise de dados dos pacientes para melhorar a atenção primária.”


45. Papel como porta para a economia sustentável

Cristiano Teixeira, presidente da Klabin (Leandro Fonseca/Exame)

Cristiano Teixeira, presidente da Klabin

“Não tem como falar em prioridade para o futuro sem falar de sustentabilidade. O tema precisa estar no centro das decisões das grandes organizações e, na Klabin, que é uma empresa de base florestal, a sustentabilidade é um pilar estratégico e faz parte do nosso dia a dia. Enxergamos, no papel, a porta de entrada para uma economia mais sustentável e investimos em pesquisa e desenvolvimento voltado para a melhoria de nossos produtos, tornando-os ainda mais eficientes e em linha com as demandas atuais de consumo, além de buscarmos novas aplicações que ampliem de maneira significativa o potencial de nossas florestas. Produtos biodegradáveis, recicláveis e derivados de fontes renováveis, como o papel, contribuem, definitivamente, para uma economia sustentável.” 


46. Carreira em Lego

Sofia Esteves, do Grupo Cia de Talentos: “No futuro, se tornará cada vez mais comum lidar com pessoas e equipes diversas, que se reúnem e se separam por projetos” (Leandro Fonseca/Exame)

Sofia Esteves, fundadora e presidente do conselho do Grupo Cia de Talentos, professora e pesquisadora de gestão de pessoas

Há 35 anos, quando Sofia Esteves fundou a Companhia de Talentos, que viria se tornar uma das maiores consultorias de recursos humanos do Brasil, o mundo do trabalho era bem diferente. Gestão de pessoas ainda se chamava departamento pessoal, e temas como diversidade e transformação digital não estavam na pauta dos executivos. Esteves viu esse mundo mudar de perto e, a convite da ­EXAME, contou o que espera para os próximos 55 anos. 

Como será a relação entre empresa e profissional no futuro? 

Eu acredito que as pessoas vão trabalhar de maneira fluida, atuando em vários formatos de trabalho e áreas diferentes ao mesmo tempo. Com isso haverá, claro, um aumento dos trabalhos por projetos. Porém, os vínculos integrais não vão desaparecer. Eles ainda serão importantes para áreas que atuam com informações mais sensíveis e exigem mais sigilo, como indústria farmacêutica e segurança da informação, por exemplo. 

A ideia de entrar na faculdade aos 18 anos e seguir a mesma carreira para o resto da vida continuará existindo? 

Definitivamente, não. Hoje as pessoas ficam quatro, cinco anos na universidade estudando temas que, na maior parte das vezes, não têm correlação com o mercado de trabalho. No futuro, haverá o que eu chamo de carreira em Lego. Teremos cursos básicos, e o profissional estará sempre estudando e construindo um currículo de acordo com as experiências de que ele precisa. 

Nesse cenário, quais são as habilidades que se tornarão mais importantes? 

A adaptabilidade e a resiliência, com certeza, vão ser essenciais. No futuro, se tornará cada vez mais comum lidar com pessoas e equipes diversas, que se reúnem e se separam de acordo com os projetos. Isso vai exigir que as pessoas saibam entender e se adaptar a diferentes públicos.

Haverá emprego para todos?

Com esse trabalho mais fluido haverá uma reconfiguração dos grandes centros. As pessoas vão tender a usar mais espaços compartilhados, não só coworkings, mas acho que residências também. Ao mesmo tempo que haverá uma volta ao campo. Algo que deve impulsionar outras ocupações que deixaram de ser valorizadas. O cultivo de alimentos orgânicos, por exemplo. Esse tipo de atividade manual, que será, claro, mais automatizado, poderá crescer e gerar novas oportunidades. 


47. Fim das limitações geográficas 

Milton Beck, diretor-geral do Linkedin para a América Latina

“Daqui a 55 anos, a ideia de ficar muitos anos em uma mesma empresa vai deixar de existir por completo. As pessoas vão trabalhar por projetos ao mesmo tempo que haverá o fim das limitações geográficas. Por muito tempo, as empresas estavam limitadas em termos de contratação, por dificuldades relacionadas ao idioma. No futuro, haverá mecanismos de tradução simultânea que resolverão essas questões. Enquanto tecnologias para reuniões em vídeo vão evoluir, se tornando quase realidade virtual. Também não estaremos restritos só à Terra, teremos vagas em estações espaciais, quem sabe na Lua ou em Marte. A nossa visão enquanto empresa, em meio a isso, é ser uma plataforma para gerar oportunidades econômicas para todos os profissionais. Algumas maneiras de criar essas conexões nem sabemos ainda.”


48. Contato cada vez mais personalizado

Artur Grynbaum, VP do conselho de administração do Grupo Boticário

O futuro terá um contato cada vez mais personalizado entre empresas e clientes, seja na forma como esse contato acontece, seja nos produtos oferecidos. Essa é a visão de Artur Grynbaum, vice-presidente do conselho de administração do Grupo Boticário, maior rede de franquias do país e um gigante do setor de beleza. A tendência deverá ser impulsionada pelo envelhecimento da população e pela maior valorização do autocuidado, algo que veio com a pandemia e deverá se perpetuar.

 Segundo Grynbaum, nas próximas décadas o setor de beleza terá condições de atender às necessidades do consumidor de forma muita mais assertiva e individualizada, tanto nos produtos para a pele quanto para o cabelo. Para isso, conta com o avanço da ciência. “Poderemos fazer um produto específico para atender à sua necessidade, da mesma maneira que uma dermatologista receita um medicamento manipulado. É algo que já iniciamos no passado e que deverá ficar mais fácil com o avanço da tecnologia”, diz.

 A interação das empresas com o consumidor também deverá ficar mais próxima, com pontos de contato para além do momento da venda. “A grande busca das marcas será por poder servir o consumidor, seja no momento que for. Quanto mais contato tivermos com o cliente, mais assertivos poderemos ser ao fazer a oferta de um produto”, diz. O empresário também prevê que as empresas estarão mais atuantes na sociedade. “Vejo cada vez mais que pontes precisam ser construídas para termos um bom resultado para todos, e isso passa pelo ambiental, pelo social e pela governança. O papel de uma grande marca também é ajudar a sociedade a evoluir.”


49. Smartphone no centro da vida

Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser 

Para o futuro, o equivalente ao que foi o iPhone não acontecerá se não for levado em conta o impacto ambiental, diz Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser, empresa voltada para o segmento de eletroeletrônicos. “Se compararmos o Brasil de 2002 com o de 2022, o smartphone é claramente o principal agente de transformação desse período. Ele se tornou o centro da vida moderna, o centro da economia. Criou um Brasil empreendedor e digital. No meio disso, a contribuição da Multi do futuro será continuar mirando o acesso democrático a produtos que gerem impacto. Um deles é a eletrificação de motocicletas, justamente por entender que o futuro reserva o desafio da sustentabilidade. A tecnologia precisará conviver melhor com o meio ambiente.” 


50. Uma moda de longa duração

Sandra Chayo, da Hope: “Não cabe mais uma moda descartável, em material e em estilo de vida” (Leandro Fonseca/Exame)

Sandra Chayo, sócia e diretora de estilo e marketing da Hope

Qual é a importância da moda íntima para a mulher?

A roupa íntima é a primeira peça que nós colocamos quando acordamos e quando vamos dormir. A primeira peça de roupa que está em contato direto com nosso corpo, inclusive com a nossa intimidade. A moda íntima é a nossa verdade, porque não nos vestimos para ninguém; nos vestimos para nós mesmas, para nos sentirmos mais bonitas, gostosas, confiantes e empoderadas.

Como tem evoluído a relação entre a mulher e a moda nos últimos anos?

Nos últimos anos eu vejo que a mulher tem se preocupado muito mais com o conforto do que com a estética ou em obedecer a um padrão. A moda íntima é o contexto em que aparece o primeiro reflexo desse movimento, porque, se você não está confortável na própria pele, confortável com o próprio corpo, você nunca vai expressar a sua verdadeira imagem, o que você quer passar.

O que uma roupa diz sobre uma mulher?

Ela diz muito sobre as suas características mais pessoais e íntimas. É o recurso que a gente usa para se expressar para o mundo. Vai muito além da questão estética, é muito mais do que uma imagem de uma personalidade que a gente quer passar.

Como você enxerga o futuro da moda feminina?

Eu enxergo uma moda muito mais consciente, tanto em relação à estética quanto ao conforto e à qualidade, mas preocupada com o meio ambiente, com a sociedade e com todas as questões ESG. Não cabe mais uma moda descartável, não só em termos de material mas também em termos de estilo de vida. 


51. Empreendedores empreenderão

Ana Luiza McLaren, do Enjoei: por mais histórias de empreendedores brilhantes no Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

Ana Luiza McLaren, cofundadora do Enjoei

“O empreender tem natureza transgressora, rompe com o que está posto e propõe uma nova maneira. Para que o empreendedorismo no Brasil se desenvolva formalmente, é necessário que haja políticas públicas incentivando quem se dispõe a trabalhar em qualquer empreitada que gere empregos, fomentando a economia do país. Mas o ponto é que empreendedores empreenderão, com ou sem políticas públicas. E, quanto mais histórias de sucesso, quanto mais forem os exemplos de que é, sim, possível empreender no Brasil, mais empreendedores brilhantes veremos despontar neste país tão diverso e criativo.”


52. Ataques hackers em alta

Alexandre Maioral, CEO da Oracle Brasil

O CEO da Oracle Brasil tem confiança no quão importante a nuvem será para o futuro da humanidade. O temor, no entanto, é sobre como protegê-la. “A Oracle nasceu em 1977 de uma licitação do governo americano para fornecer ao Pentágono o banco de dados mais seguro do mundo. Conseguimos e hoje somos líderes desse segmento que avança também em automação, inteligência artificial e proteção de dados. Neste último é onde tememos mais pelo futuro. Ataques hackers não vão diminuir, pelo contrário. Nos próximos 20 anos, quase todos os negócios, à medida que se unirem com a internet das coisas [IoT e com o metaverso, precisarão de players capacitados que olhem para todo esse universo de dados.” 


53. Inovação com impacto

Fabio Coelho, presidente do Google Brasil

No comando da operação brasileira do Google, o executivo vê avanços em inteligência artificial e computação quântica e diz que é fundamental garantir que tecnologias tragam impacto positivo — e não o contrário.

O que o Google acredita ser o maior avanço tecnológico?

Um dos valores do Google é “respeitar a oportunidade”, e parte disso é gerar impacto positivo por meio de nossas plataformas. Como já mencionei, nossos esforços estão concentrados em criar produtos que sejam úteis para nossa comunidade de usuários, que inclui cidadãos, empresas de todos os tamanhos, criadores, jornalistas, entre outros. Mais do que desenvolver tecnologia, porém, nosso foco está em entender problemas e solucioná-los da melhor maneira, usando o melhor da tecnologia que desenvolvemos. Globalmente, temos avançado significativamente em inteligência artificial, machine learning e computação quântica, que também nos ajudam a continuar evoluindo na forma de materializar nossa missão, que é organizar as informações.

Há alguma problemática mais urgente a ser resolvida?

Durante processos de transformação a partir da introdução de novas tecnologias, é natural que haja apreensão e até mesmo certa resistência em aceitar o novo. Foi assim durante a Revolução Industrial no século 18 e vem sendo assim com cada grande movimento de disrupção sobre modelos de trabalho e atividades econômicas. No entanto, o que é fundamental é garantir que a inovação seja feita de forma responsável, direcionada a causar impacto positivo na sociedade, e que haja um esforço para ajudar as pessoas a se adequarem ao novo cenário. Nesse sentido, a capacitação em habilidades digitais seguirá sendo essencial nos próximos anos. Temos o compromisso de contribuir para essa inclusão por meio de programas como o Cresça com o Google, que em cinco anos já capacitou mais de 2,4 milhões de brasileiros. 

Que legado a pandemia deixa para o futuro da tecnologia?

Em qualquer cenário, no entanto, nós continuamos acreditando no poder transformador que o acesso à informação útil e relevante pode ter para melhorar a vida das pessoas e alavancar o desenvolvimento econômico. Foi assim durante o desafio global de maior impacto das últimas décadas: a pandemia de covid-19. O digital foi fundamental para que bilhões de pessoas fossem informadas sobre o desenvolvimento de vacinas e os cuidados necessários para evitar uma disseminação ainda maior do vírus. Também foi o digital que permitiu que milhões de empresas, no Brasil e no mundo, sobrevivessem nesse período de extrema turbulência econômica, alcançando seus públicos por meio da internet. Essa digitalização acelerada deixou inúmeros legados, como a redefinição dos modelos de colaboração, que seguirão sendo sentidos ao longo das próximas décadas. A evolução tecnológica terá de ser acompanhada de investimentos em ferramentas de segurança e privacidade. Cuidar da privacidade e da segurança das pessoas que confiam em nossos produtos e serviços é nossa prioridade.


54. Sem descuido no combate à pobreza

Daniel Balaban, representante do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil e diretor do Centro de Excelência contra a Fome

“O Brasil ao longo dos últimos 50 anos teve muitos avanços não só no combate à fome mas na sua principal causa, que é a pobreza extrema. Muitas políticas públicas tiveram sucesso e são exemplo para as Nações Unidas. O programa de alimentação escolar é tido como um dos melhores do mundo, assim como o Bolsa Família, que virou exemplo para vários países. 

O Brasil não é igual a muitos países africanos com os quais nós trabalhamos, que têm desastres naturais, conflitos. Em um país como o Brasil, é inaceitável que tenhamos pessoas passando fome. Combater a fome exige um planejamento sistêmico e intersetorial, na economia, na educação, na agricultura, na assistência social. Temos de ter uma união nacional, com planejamento, metas e objetivos suprapartidários, com políticas perenes, independentemente do governo de plantão. 

O capitalismo é um sistema de ciclos — bons e ruins. Nos ruins, é preciso políticas públicas do Estado para harmonizar as condições às populações desassistidas. O combate à fome e à extrema pobreza é um processo contínuo, ele não tem fim. Não existe a história de que a fome acabou. Não se pode descuidar um único dia. Um país só será realmente desenvolvido se não tiver uma única pessoa passando fome.”


55. Brasil, potência no cinema 

Lázaro Ramos, agora também diretor de cinema: “Novas tecnologias colocarão o Brasil novamente em lugar de destaque” (Leandro Fonseca/Exame)

Lázaro Ramos, artista

Transitando entre o cinema, o teatro e a literatura, Lázaro Ramos fez sua estreia como diretor no início do ano com o longa Medida Provisória. Pensando no futuro, Ramos prevê vozes diversas e triunfo no audiovisual nacional. “Daqui a 55 anos colheremos uma nova fase de compreensão do audiovisual brasileiro, com muitas histórias que não foram contadas. Mas é preciso ter uma estratégia para produzir uma indústria cultural forte, desde Hollywood até Nollywood, pois nós temos material e potencial humanos. Tenho a fé de que as novas tecnologias que estão surgindo colocarão o Brasil novamente em um lugar de destaque.”  

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