Os 20 mil entusiastas da inovação

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Quatro pontos para entender o South Summit Brazil 2023

De discussões de gênero ao futuro do venture capital no Brasil, veja as principais tendências do evento de inovação de Porto Alegre

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Quatro pontos para entender o South Summit Brazil 2023

De discussões de gênero ao futuro do venture capital no Brasil, veja as principais tendências do evento de inovação de Porto Alegre

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Por Maria Clara Dias e Leo Branco

Publicado em 31/03/2023, às 16:07.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:30.

Os 20 mil entusiastas da inovação

Os últimos três dias foram motivo de orgulho para os gaúchos. Em evento frequentado por mais de 20.000 pessoas na cidade de Porto Alegre, o ânimo foi compartilhado por executivos, representantes do poder público e empreendedores à frente de startups fundadas ou com atuação no estado.

Trata-se do South Summit, festival originário da Espanha e que há um ano desembarcou oficilamente em solo brasileiro com um formato mais amigável às discussões relacionadas aos altos e baixos do ecossistema empreendedor e tendências que tenham a ver com as especificidades das pequenas empresas de tecnologia do Brasil.

No segundo dia do festival, que aconteceu entre os dias 29 e 31 de março, circularam algo como 11.000 pessoas, de acordo com a organização do evento. A circulação de um público digno de grandes festivais de música impactou bem além das filas de bilheterias: a rede de hotelaria da cidade teve ocupação máxima, e o trânsito em torno do Cais Mauá — onde aconteceu o evento — trouxe dor de cabeça e atrasos a muitos participantes que pretendiam acompanhar as primeiras palestras da manhã (incluindo os palestrantes).

South Summit Brazil 2023

Os grandes números do evento

O South Summit está sendo realizado no Cais Mauá, uma porção de armazéns de um porto desativado a poucos metros do centro da capital gaúcha. Mas nem mesmo a lotação foi capaz de afunguentar o público.

Entre as atrações, mais de 380 palestras com lideranças empreendedores do Brasil e de fora e uma feira apelidada de "Marketplace" em que startups e patrocinadores têm um lugar para expor produtos e serviços, foram responsáveis por atrair um número considerável de visitantes. Um evento paralelo, o South Summit Next Gen, reuniu 3000 alunos e professores da rede municipal de educação.

Nas contas dos organizadores do evento, 100 fundos de venture capital estiveram presentes.

Em 2022, o South Summit reuniu 20.000 pessoas, 3.000 startups e 500 fundos de venture capital, sendo mais de 100 internacionais. No ano passado, na primeira edição do evento, 175 aeronaves executivas pousaram em Porto Alegre nos três dias de evento.

Já na edição atual, mais de 22.000 pessoas de 50 países, 3.000 startups, 900 speakers, 150 patrocinadores e 700 jornalistas nacionais e internacionais circularam pelo espaço de 22.000 metros quadrados. A pujança financeira também chamou a atenção: os mais de 100 fundos e 600 investidores presentes no evento somam 19 bilhões de dólares para investimento disponíveis para a América Latina.

A agenda capaz de fazer muito executivo bater ponto no South Summit foi um verdadeiro mix de tendências envolvendo temas como diversidade de gênero, venture capital e adoção de critérios ESG. EXAME esteve presente nos três dias de evento, e compilou as principais tendências apontadas por investidores e entusiastas da inovação. Veja abaixo:

1. O capital mais caro atrapalha a inovação?

As consequências do aumento no custo de capital ao redor do mundo, como a redução dos valuations e do número de aportes em startups, permearam boa parte das discussões no South Summit Brazil.

Para muitos fundos, a hora agora é de foco nos investimentos já realizados. Em 2022 o fundo de private equity Treecorp Investimentos investiu 100 milhões de reais na marca de decoração de alto padrão Tânia Bulhões. De lá para cá, o olhar é para dentro. 

"Acredito que vai levar mais dois anos para a situação no venture capital se normalizar. Para nós, o foco agora está em cuidar do crescimento e sustentabilidade das empresas que já estão no portfólio”, disse Luís Filipe Lomonaco, sócio do Treecorp.

Há quem considere o momento como de ressaca após tempos de bonança. Lidar com esse novo momento do mercado — que demanda operações mais enxutas — segundo os CEOs, depende da oferta de serviços ainda melhores aos clientes, agora mais exigentes. “As pessoas querem serviços mais baratos, mais rápidos e melhores. Isso nunca muda”, disse Sergio Furio, fundador da Creditas.

O cenário desafiador tem servido para comprovar modelos de negócios de empresas naturalmente resilientes e, na ponta, tem favorecido o crescimento de empresas novatas. É a visão de João Kepler, fundador do fundo early stage Bossanova.

"Essas empresas já cuidavam do caixa, queimavam pouco capital e tinham uma governança estruturada, e isso fez a diferença", disse.

O contexto mundial de 2023 está influenciado por duas grandes rupturas: uma econômica, com destaque para a alta dos juros global, e uma geopolítica, com a guerra da Ucrânia e distanciamento crescente entre Estados Unidos e China.

Apesar de o cenário instável encarecer o capital mundo afora, a instabilidade não deve alterar substancialmente o rumo da inovação e as oportunidades para empreendedores — sobretudo no Brasil — disse André Esteves, chairman do banco BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) na palestra de abertura do South Summit Brazil.

O maior custo de capital levará a um ajuste natural do mercado, cada vez mais dedicado a projetos de inovação com retornos financeiros claros.

Além disso, a falta de vínculo com temas geopolíticos, o ambiente favorável a negócios com múltiplas regiões e a matriz energética limpa favorecem a inovação no país. “Todos os novos critérios colocam o Brasil numa posição privilegiada. Esse momento é oportunidade para o Brasil”.

"O maior custo do dinheiro não impede a era privilegiada que a gente tem em inovação"André Esteves, chairman do BTG Pactual

André Esteves no Arena Stage do South Summit Brazil

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2. Momento de ouro para o early stage

O cenário nunca esteve tão favorável a startups em estágio inicial. Em tempos de juros altos e investidores com certa aversão ao risco, empresas nascentes se tornam mais atraentes a fundos que não pretendem deixar de investir tão cedo.

O bom momento do early stage — que descreve rodadas que compreendem fases mais iniciais da vida de pequenas empresas — porém, desafia empresas a estruturarem modelos de negócios "à prova de crises".

Em painel sobre os caminhos do investimento-anjo, João Kepler, fundador do fundo Bossanova, afirmou que a ressaca do venture capital em fases mais avançadas pode ser uma oportunidade para empresas iniciantes que comprovarem sua eficiência e que sejam capazes de sobreviver longe dos "cheques de R$ 100 milhões".

Jeff Clavier,  fundador da Uncork Capital, fundo do Vale do Silício que direciona cheques para empresas nas fases de captação seed, corrobora com a ideia. Para o investidor gringo— que há mais de duas décadas se dedica aos cheques de menor porte —  o atual momento é de oportunidade a fundos early stage, a depender da maneira como essas firmas pretendem companhar os valuations inflados em determinadas rodadas.

A crise do Silicon Valley Bank, por exemplo, reforça a tese do investidor de que empresas dependentes de capital em estágios mais avançados podem colocar tudo a perder em questão de tempo. "Essa história foi a prova de que tudo pode acontecer em questão de apenas dois dias", disse.

Há um consenso, porém, entre os investidores presentes no festival: ainda que o early stage seja favorecido com a derrocada global do venture capital, a festa das startups acabou.

“É o fim da ideia de que fundar uma startups é a maneira mais ágil e fácil de se conseguir dinheiro rápido”, afirmou Rodrigo Baer, managing partner na Upload Ventures, ao avaliar o entusiasmo de fundadores favorecidos pela abundância de capital em painel sobre o futuro do venture capital.

“Agora, só vão restar as empresas com padrões muito eficientes e com mais do que uma boa ideia”.

Jeff Clavier, fundador da Uncork Capital, em painel durante o South Summit Brazil 2023

3. Mais mulheres no VC

A urgência em tratar a diversidade de gênero no mercado de tecnologia e de investimentos em startups pautou boa parte dos painéis com alguma representação feminina durante o South Summit. O protagonismo feminino em indústrias tradicionais serviu de insumo para discussões em múltiplas palestras ao longo dos três dias de programação.

“Se a gente quer falar de inovação, precisamos de diversidade não só de gênero, mas de raça. Gente igual pensa igual”, disse Maria Rita Spina Bueno, fundadora da Anjos do Brasil, uma das primeiras a fincar os pés em um mercado dominado por homens, em painel sobre a presença feminina no setor financeiro.

O destaque para o tema também esteve em conversas envolvendo lideranças de fundos de venture capital nacionais e fundadoras de startups mundo afora. Entre elas Connie Ansaldi CEO da Carnaval Art, marketplace que usa blockchain para a venda de obras de arte via NFT.

“É preciso forçar as mudanças, pois elas não acontecerão naturalmente”, afirmou Ansaldi, sobre equidade de gênero no ecossistema de inovação.

4. ChatGPT: aliado ou vilão?

Em tempos da inteligência artificial ChatGPT, Tânia Cosentino, presidente da Microsoft no Brasil, prefere afirmar que o papel das grandes empresas é o de viabilizar a adoção de práticas sustentáveis nas pequenas empresas.

Na visão da executiva, a despeito das pressões por aderir a todo novo software ou ferramenta promissora, companhias precisam manter os pés no chão e focar na implementação de práticas sustentáveis e de bem-estar social para alcançarem o sucesso no longo prazo.

“É minha obrigação, como grande empresa, pegar pela mão as pequenas empresas que estão em torno dos nossos negócios e ajudá-las a cumprir com regulações, algo que é mais simples para as grandes”, afirmou a executiva, sobre a importância de auxiliar companhias de pequeno porte na implementação de ações sustentáveis.

O uso de recursos como inteligência artificial, segundo ele, pode ajudar a dar mais eficiência a startups e outros negócios emergentes.

"Muitas tarefas em serviços para clientes, como interpretar contratos, vão desaparecer. Não sei se o ChatGPT é o futuro ou não. Mas não imagino em cinco anos fazermos as coisas no backend do mesmo jeito de hoje", disse Sergio Furio, da Creditas.

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Créditos

Maria Clara Dias

Maria Clara Dias

Repórter de Negócios e PME

Graduada em Jornalismo e pós-graduada em Marketing pela ESPM. Trabalhou na Autoesporte, Época e Gazeta do Povo. Desde 2020 cobre startups e PME na EXAME. É vencedora do Prêmio de Destaque em Franchising na categoria de Jornalismo de Revista

Leo Branco

Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Formado pela UFSC e pós-graduado em planejamento urbano pela Poli-USP e em jornalismo econômico pela FAAP. Trabalhou como repórter na Veja, Sou Mais Eu, PME e O Globo, escrevendo sobre empreendedorismo, negócios e gestão pública

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