hero_Do boom de IPOs ao massacre na Bolsa: quais são as ações heróicas que sobreviveram?

B3: Investidores de 19 a 24 anos respondem por 18% do total da renda variável; 10 anos antes, percentual sequer era contabilizado (Foto: Germano Lüders/Exame)

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Do boom de IPOs ao massacre na Bolsa: quais são as ações heróicas que sobreviveram?

Das mais de 70 empresas que abriram capital desde 2020, duas já não estão mais listadas e 60 estão negociadas abaixo do preço de estreia

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Do boom de IPOs ao massacre na Bolsa: quais são as ações heróicas que sobreviveram?

Das mais de 70 empresas que abriram capital desde 2020, duas já não estão mais listadas e 60 estão negociadas abaixo do preço de estreia

B3: Investidores de 19 a 24 anos respondem por 18% do total da renda variável; 10 anos antes, percentual sequer era contabilizado (Foto: Germano Lüders/Exame)

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Por Raquel Brandão

Publicado em 02/03/2023, às 12:30.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:39.

Abundante entre 2020 e 2021, a fonte de dinheiro secou

Em 2020 e 2021, a corrida pelo dinheiro que parecia "dar sopa" no mercado fez com que 74 companhias abrissem capital da Bolsa de Valores de São Paulo. Isso sem nem contar quem se aventurou no exterior, como o banco digital Nubank, que listou suas ações na Nasdaq. Mas o que aconteceu com quem entrou nessa onda?

Números da B3, que administra a Bolsa, apontam que nesses dois anos, as ofertas públicas iniciais movimentaram nada menos que R$ 109,6 bilhões. Esse montante é quase o mesmo tanto que todas as aberturas de capital de 2008 a 2019 movimentaram: R$ 110 bilhões. 

Em 2020, foram 28 companhias listadas enquanto 46 chegaram em 2021. Asssim, em números de operações, o recorde de IPOs ainda pertence ao ano de 2007, com 60 aberturas, incluindo JBS (JBSS3), MRV (MRVE3), Marisa (AMAR3), BR Malls - que esse ano ano deixou de ser listada após fusão com Aliansce Sonae (ALSO3) - e Amil, que nem mesmo tem ações negociadas no Brasil mais.

Mas em 2022, a euforia das companhias pela abertura de capital deu lugar às incertezas do mercado de ações. Desde 1998, este foi o primeiro ano sem IPO, sigla em inglês para essas operações.

Como estão as ações estreantes de 2020 e 2021?

Os dois anos marcados pela pandemia da covid-19 foram também de movimentação na bolsa. Além dos IPOs, aconteceram 51 operações de ofertas subsequentes, que é quando empresas já listadas ofertam mais ações.

Esses números ajudam a mostrar como havia apetite do mercado ou, pelo menos, muita liquidez, com investidores se permitindo apostar dinheiro sem estabelecer critérios tão rigorosos.

No entanto, um levantamento feito por Einar Rivero, diretor comercial da plataforma TradeMap, mostra que o retrato desse cenário não é tão bonito. Ao menos para quem investiu em quem estava estreando na bolsa.

Das 74 operações de IPO realizadas, 2 já deslistadas (Mosaico e Focus Energia), e 60 tiveram rendimento negativo desde então (considerando até o fechamento do pregão de 28 de fevereiro de 2023). Ou seja, apenas 12 ações estão valendo mais do que quando começaram a ser negociadas.

Entre as quedas existem empresas que quase zeraram o valor de estreia. Tanto as ações da Dotz (DOTZ3), quanto as de Enjoei (ENJU3), Westwing (WEST3) e Espaçolaser (ESPA3) se desvalorizaram mais de 90%.

As razões por trás do massacre

Existem vários motivos e justificativas para essa sangria entre quem listou seus papéis nos últimos três anos, diz João Daronco, analista da Suno Research. Ele tenta, então, dividir em três grandes grupos de motivos:

  • Juros altos:

    A elevação da taxa de juros no país - a Selic passou de 2% no começo de 2021 para os atuais 13,75% - levou a uma queda generalizada dos preços dos ativos financeiros."O juro funciona como uma espécie de gravidade no mercado de capitais. Quanto maior a taxa, menores são os valuations", explica Daronco.

 

  • Setor deteriorado:

    Muitas companhias viram os setores econômicos em que atuavam piorar ao longo desse período, tanto por questões macoreconômicas quanto por caracteríticas próprias. Por exemplo, o setor de tecnologia tem por característica ainda estar em crescimento, o que exige mais capital investido. Com juros elevados em todo o mundo, empresas do setor, das maiores às menores, viram seus negócios ficarem mais pressionados.

 

  • Teses ruins de investimento:

    Houve, ainda, quem entrou no "trem" dos IPOs mas que não deveria ser passageiro. Muitas companhias conseguiram se listar, mas "eram teses que não paravam em pé", diz o analista. Ou seja, empresas que não tinham bons fundamentos, como um perfil de dívida adequado e ou uma geração de caixa sustentável.
Dotz estreia na Bolsa

Lanterninha: Dotz estreou na B3 em 31 de maio. Ação começou negociada a R$ 13,20 e hoje vale R$ 0,86, a mais desvalorizada entre as novatas Foto: Cauê Diniz/Exame

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Quais são as ações vitoriosas nessa batalha?

Se de 72 papéis que restaram na bolsa desde a estreia em 2020, 60 estão negociando no campo negativo, 12 delas estão contrariando a estatística. E diante dessa esmagadora maioria em maus-lençóis, 83% está pior do que quando entrou na B3, quem está se valorizando pode ser vista como uma ação "heróica".

A campeã de valorização é a rede de atacarejo Assaí (ASAI3), cuja ação  se valorizou 546,25%. Completando o top 5 estão Vamos (VAMO3), PetroReconcâvo (RECV3), 3R Petróleo (RRRP3) e Intelbras (INTB3).

Assaí e Vamos, spin-off e sucesso na bolsa

Tanto Assaí (ASAI3) quanto Vamos (VAMO3), é bem verdade, têm a vantagem de não serem "um IPO puro". As duas companhias eram negócios de outras empresas de capital aberto, o que facilita do ponto de vista de conhecimento por parte dos investidores sobre os fundamentos do negócio. Mas as duas companhias têm seus méritos.
O Assaí, que pertencia ao GPA (PCAR3), dono do Pão de Açúcar, têm demonstrado a capacidade de crescimento do segmento de atacarejo no varejo alimentar. Durante 2022, a empresa apostou na expansão física, com abertura de 60 lojas. O lucro líquido totalizou R$ 1,2 bilhão em estabilidade com 2021, enquanto a receita da companhia somou R$ 54,5 bilhões, um aumento de 31%, com as vendas em mesmas lojas aumentando 10% e a expansão física vindo com forte contribuição.

Já a Vamos (VAMO3), empresa de compra, venda, troca e aluguel de caminhões, máquinas agrícolas e linha amarela (máquinas do setor de construção civil), pertence à Simpar (
SIMH3), holding que controla várias companhias listadas como Movida e JSL. Em 2023, a expectativa de Gustavo Couto, CEO da companhia, é repetir os bons números de 2022, quando bateu recordes. O lucro líquido somou R$ 668,6 milhões, 66% mais que em 2021.
"Vivemos num momento como se fosse anticícilico. Nosso negócio é único e sustentável e é algo econômico quando as empresas estão cortando custos"Gustavo Couto, CEO da Vamos

Intelbras: olho em novos mercados

Conhecida inicialmente por telefones e interfones, a fabricantes de produtos tecnológicos Intelbras, de Santa Catarina, consolidou em 2022 uma transformação de seu portfólio. O faturamento da companhia cresceu 37% no ano, para R$ 4,2 bilhões, e o lucro avançou 31,8%, para R$ 479 mil.
Agora a empresa também olha para outros mercados em ascensão, como o de mobilidade elétrica. Anunciou em fevereiro deste ano a estreia no mercado de carregadores para automóveis. Começará com 6 produtos, voltados para o consumidor final, e importados da China. A meta é no médio prazo passar a fabricar os equipamentos no Brasil.
Essa visão ajuda a explicar o desempenho da companhia na bolsa. Desde sua estreia, em fevereiro de 2021, a ação se valorizou mais de 80%, para R$ 28,33.
Assaí

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Enquanto os juros seguirem altos, novos IPOs ficam distantes

O fator decisivo para o sucesso da retomada das ofertas, em especial para quem quer estrear na bolsa, é o desempenho da taxa de juros. “A questão de como a taxa de juros tanto no Brasil quanto lá fora vai se comportar”, disse Roderick Greenlees, diretor global do banco de investimentos do Itaú BBA, em entrevista à EXAME Invest no fim de 2022, o ano de "inverno" de IPOs  

Até agora, o Banco Central tem mantido a Selic em 13,75%. O último Boletim Focus, em que instituiçoes financeiras fazem suas projeções para o ano e à frente, aponta que a Selic deve terminar em 12,75% em 2023, enquanto a de 2024 ficar em 10%. Ou seja, mesmo com a expectativa de queda, essa desaceleração dos juros básicos pode levar mais tempo do que se previa anteriormente. 

Ainda assim, mesmo faturando temas de curva de juros, o responsável pela área de banco de investimentos do Santander Brasil,  Gustavo Miranda, diz que a bolsa está "muito barata". O que faltam, ainda, é a clareza de que há ventos favoráveis para as ações começarem a se valorizar, explica ele.

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Créditos

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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