Wizard, bilionário das franquias, ensina a escolher bons negócios
Em entrevista a EXAME.com, o empreendedor fala sobre sua volta ao mundo da educação e sobre como escolher a franquia ideal
Mariana Fonseca
Publicado em 30 de maio de 2017 às 06h00.
Última atualização em 31 de agosto de 2018 às 10h48.
São Paulo – Carlos Wizard é uma referência no mundo das franquias . Ele está por trás de redes nos mais diversos setores – das escolas de futebol Ronaldo Academy aos restaurantes mexicanos do Taco Bell. Neste mês, Wizard voltou para o ramo onde começou sua jornada empreendedora : o ensino de línguas estrangeiras .
O ex-professor de inglês é mais conhecido por ser o fundador da rede de idiomas Wizard – que se tornaria o Grupo Multi Educação. Em 2013, Wizard protagonizou uma das maiores negociações do mundo do ensino: vendeu o grupo para os ingleses da Pearson, por 1,7 bilhão de reais.
Como condição de contrato, Wizard não poderia atuar no setor durante três anos. Nesse intervalo, liderou as redes Mundo Verde, Ronaldo Academy e Taco Bell.
Recentemente, o executivo anunciou sua volta à educação: tornou-se sócio do empreendedor Flavio Augusto na rede de idiomas Wise Up. Por 200 milhões de reais, adquiriu 35% de participação. A Wise Up possui 300 escolas pelo Brasil e pretende chegar a mil delas em 2020.
O empreendedor lança nesta semana um novo negócio, chamado Aloha: uma rede de marketing multinível para venda direta de produtos de beleza natural.
“Focamos no pequeno investidor, em tempos de crise econômica. Pode ser um complemento para quem já tem um trabalho ou uma fonte principal de renda”, afirma Wizard. “Nesse primeiro ano, queremos ter uma rede de dez mil distribuidoras. Hoje, já temos três mil pessoas cadastradas no site.”
De acordo com Wizard, as redes em que ele possui participação gerarão 15 mil de emprego neste ano, sendo que Aloha e Wise Up capitaneiam a abertura de vagas.
O executivo divulgará seu novo livro nesta semana, batizado de “Do Zero ao Milhão – Como Transformar Seu Sonho Em Um Negócio Milionário”. Nele, dá dicas de gestão a empreendedores.
Em entrevista exclusiva a EXAME.com, Carlos Wizard falou mais sobre sua decisão de reinvestir em escolas de idiomas e também sobre as dicas que ele daria para quem busca oportunidades de negócio no mundo das franquias.
Confira, a seguir, os melhores trechos da conversa:
EXAME.com - Por que você decidiu retornar ao mercado de franquias de educação, por meio da Wise Up?
Carlos Wizard – Eu construí uma carreira na área de educação. Foram 25 anos à frente desse setor: comecei dando aulas em casa e fundei a maior rede de cursos do mundo.
Após a venda [em 2013, para a Pearson], eu tinha três anos de não-competição por questão contratual. Mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, voltaria ao setor por três razões importantes.
Primeiro, pela experiência, como eu falei. Segundo, pela paixão que eu tenho pelo setor. Terceiro e último: eu acho que existe um mercado potencial no Brasil para o ensino de idiomas. Apenas de dois a três por cento da população brasileira fala inglês fluentemente. Ao mesmo tempo, nosso país está em um contexto globalizado: se você for viajar ou receber investidores para fazer negócios, precisará falar inglês.
O período de não-competição venceu e, hoje, estou liberado para fazer negócios em qualquer área.
Sua experiência como franqueador em outras áreas, como na Mundo Verde e no Taco Bell, ajuda você neste momento? Teve algum aprendizado que vale para qualquer tipo de franquia?
Carlos Wizard – Eu acredito que, no sistema de franquias, alguns conceitos são os mesmos. Primeiro, você pode estar vendendo esporte, educação ou varejo: em qualquer atividade, o foco sempre está na satisfação do cliente.
Em segundo lugar, o cliente tem uma necessidade e eu preciso ter a habilidade de identificar tal necessidade para atendê-lo. Pense: por que ele escolheu a sua rede?
Em terceiro lugar, é preciso sempre investir em treinamento e qualificação. Eu, particularmente, realizo convenções nacionais de treinamento de franqueados e das equipes desses franqueados todos os anos.
As equipes treinadas irão produzir mais e serão fiéis à marca. Com isso, atenderão melhor o cliente. Antes de fidelizar o consumidor, preciso fidelizar meu colaborador. Se ele estiver feliz na empresa, irá transmitir esse sentimento ao cliente.
Porém, existem algumas particularidades que são da natureza do negócio. Por exemplo, no setor de educação, eu tenho de cuidar muito do treinamento da equipe e dos professores.
Já no varejo, como é a Mundo Verde, cada loja possui três mil itens na prateleira. Tenho de cuidar do cliente, mas antes tenho de garantir o estoque abastecido. Também preciso fazer boas negociações com fornecedores, respeitar prazos, oferecer preços justos e garantir a qualidade dos produtos. São prioridades diferentes de uma escola, na qual eu estou apenas oferecendo um bom serviço ao meu aluno.
Para quem está começando a procurar boas ideias de negócio, as franquias seriam uma opção melhor? Há um perfil específico para virar franqueado?
Carlos Wizard – Eu sempre vejo a franquia como um canal viável, uma vez que o empreendedor pega uma marca consolidada, uma linha de produtos que já foi aceita no mercado, uma transferência de know how bem-sucedido, uma bagagem de treinamento fundamental para a operação do negócio e – um item que é muito importante – um fundo cooperado nacional de marketing e publicidade. Se ele fosse abrir um negócio isolado, não teria a mínima condição de estar na televisão ou em outros grandes meios de comunicação.
Sobre perfil, interessantemente, uma conhecida veio me perguntar em qual setor de franquia ela se daria melhor. Eu respondi fazendo a pergunta inversa: quais setores que mais dariam certo para você?
Só então ela respondeu que gostava mesmo da parte de bem estar e saúde. Então, se essa é a expertise e a paixão dela, não adianta eu convencê-la a abrir uma loja de fast food e prometer que isso dará muito dinheiro. Ela não se dará bem. Então, a primeira característica é se identificar com o setor em que ele pretende atuar.
Quais outras características são importantes para optar por uma boa oportunidade de negócios?
Carlos Wizard – A pessoa que está em busca de oportunidades deve analisar diversos fatores. Primeiro, o histórico da empresa à qual pretende se associar. Em segundo lugar, ele deve analisar a situação atual da empresa, se é um negócio gerador de caixa. Terceiro, analisar o setor como um todo e ver se é modismo, como as paletas mexicanas foram, ou uma tendência internacional. Por fim, saber o potencial de crescimento do mercado.
Algo que também falo no meu livro é que ninguém jamais fez algo grandioso sozinho. Todos os empreendedores se cercaram de pessoas qualificadas de forma que a empresa se tornou um projeto coletivo. Por isso, é preciso ter uma equipe qualificada e alinhada com seu propósito para fazer o empreendimento acontecer.
Apesar de ter começado no setor da educação, você expandiu para outros ramos ao longo da sua carreira. Você acha que a diversificação de investimentos é um caminho natural?
Carlos Wizard – Vejo um processo de amadurecimento. Quando a pessoa inicia seu primeiro projeto, geralmente tem a ver com sobrevivência. Ela não está mais satisfeita sendo funcionária e busca uma alternativa de permanência do mercado de trabalho, com maior independência financeira. É nesse momento que ela olha para suas paixões.
Em um segundo momento, ela passa a aumentar as unidades que possui no mesmo setor – uma escola ou um restaurante fast food, por exemplo. Ele começa com uma unidade e chega a três, quatro delas. Ganha um certo conforto financeiro, com uma fonte contínua de renda. Aí é que essa pessoa começa a pensar em diversificação, e pode cogitar atuar em um novo setor, se ela assim desejar.
EXAME.com – Você poderia contar uma grande lição que aprendeu ao longo da sua trajetória de empreendedor e franqueador?
Carlos Wizard – Eu aprendi que o Brasil é um país de oportunidades, apesar do momento difícil pelo qual estamos passando. Ainda há gente que vê boas oportunidades de empreender, de fazer negócios, de atender uma necessidade do mercado, de conquistar nichos e de alcançar o êxito empresarial.
Fiz uma palestra para franqueados recentemente e projetei uma frase, logo no começo da apresentação: “Carlos, o que eu faço com a crise?”.
Eu respondi que eu não controlo que passa na cabeça da Presidência, do Congresso Nacional ou da Operação Lava Jato. Então, não irei nem me preocupar com essa situação, que é incontrolável.
O que eu posso controlar? O meu negócio. Os meus produtos. Os meus serviços. A minha qualidade de atendimento. O treinamento dos meus colaboradores. A minha base de custos. Ou seja, toda a minha operação.
Em vez de perder o sono com aquilo que não podemos controlar, vamos prestar atenção em nossos indicadores de sucesso, que estão à mão. Assim, faremos melhor do que a concorrência e conquistaremosmercado.
Porque, afinal, o Brasil não vai parar: esta crise é cíclica, como todas as outras pelas quais já passamos. É preciso ter sempre uma visão de médio e longo prazo.