João Pedro Resende e Mateus Bicalho, fundadores da Hotmart: fundada em 2011, a empresa já soma 1.300 funcionários em 12 escritórios ao redor do mundo (Magê Monteiro/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 30 de março de 2021 às 06h00.
Última atualização em 30 de março de 2021 às 11h11.
A Hotmart, startup conhecida pelos cursos online, anuncia nesta terça-feira, 30, ter recebido um novo aporte de 735 milhões de reais (130 milhões de dólares) em sua rodada de captação série C liderada pelo fundo americano TCV, investidor de companhias como Netflix e Airbnb. A gestora Alkeon Capital também participou da transação, que foi concluída em tempo recorde de duas semanas.
Apesar de não divulgar o valuation, a Hotmart afirma que já superou a marca de 1 bilhão de dólares de valor de mercado desde março de 2020, quando captou investimento para poder comprar a startup americana Teachable e entrar nos Estados Unidos. A empresa, então, faz parte do seleto grupo de unicórnios brasileiros, ainda que não esteja preocupada com o título.
Fundada em 2011 pelos empreendedores João Pedro Resende e Mateus Bicalho, a Hotmart nasceu de uma percepção dos amigos de que os brasileiros iriam, eventualmente, pagar para consumir conteúdo online. A tese pode parecer banal em 2021, mas soava quase utópica dez anos atrás, antes da popularização de plataformas como a Netflix, da melhora da infraestrutura de banda larga e do amplo acesso aos smartphones no país. “A gente apostava que as pessoas iriam precisar ser remuneradas para continuar criando coisas boas na internet”, diz Resende.
No começo, a Hotmart permitia que os criadores de conteúdo pudessem vender arquivos de texto, planilhas e apresentações pela internet. No primeiro mês da plataforma no ar, a empresa faturou míseros 182 reais. O ponto de virada do negócio só começou por volta de 2013, quando o consumo de vídeos online ganhou espaço no país. Desde então, produzir e consumir cursos online ficou mais fácil e prazeroso. Para a startup, isso se converteu em crescimento. Hoje, ela soma mais de 1 bilhão de dólares em vendas na plataforma e mais de 50 milhões de usuários em 185 países.
Seu sucesso no mercado de cursos online chamou a atenção de investidores interessados em participar da chamada "economia da paixão". Nela, em vez de celebridades patrocinadas por grandes marcas, as estrelas são pessoas comuns que monetizam suas habilidades em cursos online: podem ser com dicas para ganhar dinheiro no mercado de ações, aulas de música ou métodos para manter a forma durante a quarentena. A expectativa é que o mercado global de aprendizado online passe de 101 bilhões de dólares em 2019 para 370 bilhões em 2026, segundo o Statista.
“Uma das maiores plataformas para negócios digitais no mercado, a Hotmart é essencial para que criadores ao redor do mundo todo sejam bem-sucedidos, vivendo de suas paixões e compartilhando conhecimento com os consumidores. Estamos muito empolgados para trabalhar com eles para possibilitar que empreendedores do mundo todo realizem seus sonhos”, diz Neil Tolaney, sócio da TCV.
Para a startup, a entrada do TCV é uma oportunidade de continuar trabalhando lado a lado com investidores que conhecem a fundo gigantes do mercado de tecnologia como Netflix, Spotify, Facebook e Linkedin. “Estamos muito contentes com as contribuições dos nossos investidores atuais, incluindo Koolen & Partners, General Atlantic, GIC e Accomplice. Desde que começamos, tivemos a oportunidade de aprender com a experiência e o apoio de parceiros globais. Essa nova transação com a TCV fortalece ainda mais a nossa base de acionistas”, diz Resende.
Com o aporte, a Hotmart pretende continuar a investir em estratégias de crescimento e expansão do negócio. O momento é favorável: com a pandemia impulsionando o consumo de cursos online e o desemprego forçando as pessoas a buscar alternativas para ganhar dinheiro pela internet, a empresa viu o total transacionado na sua plataforma mais que dobrar em relação a 2019.
Para continuar com esse ritmo de crescimento alto, a startup investirá parte dos recursos da rodada no desenvolvimento tecnológico da plataforma. A longo prazo, o objetivo da empresa é ser um espaço digital que consiga atender sozinho a todas as demandas dos criadores de conteúdo, desde os autônomos até as grandes escolas de cursos digitais.
Outra parcela dos recursos da rodada será empregada na estratégia de fusões e aquisições (M&As) da empresa, que só em 2020 comprou três companhias: Wollo, Klickpages e Teachable. A companhia usa os M&As como forma de trazer novas ferramentas para a plataforma e acelerar sua entrada em novos mercados. Apesar disso, Resende afirma que não há uma meta fechada de aquisições para o ano. "Não quero fazer a compra pela compra. Precisamos encontrar empresas que façam sentido", diz o fundador.
A terceira frente de uso do capital captado será a de expansão internacional. Mais do que entrar em novos mercados, a startup brasileira quer se consolidar onde ela já atua. Hoje, a Hotmart mantém sua sede em Amsterdã, na Holanda, e tem outros 11 escritórios espalhados pelo Brasil, Estados Unidos, Espanha, México, Colômbia e França.
Para fortalecer a presença nessas regiões, a empresa investe pesado em educação do mercado. Só no ano passado, foram mais de 250 horas de conteúdo ao vivo para ajudar os empreendedores. “Economia da paixão é um termo novo. Nosso trabalho é mostrar ao mercado local que é possível cobrar por conteúdo digital feito com mais sofisticação e aprofundamento”, diz Resende.