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Um algoritmo para a saúde

Michele Loureiro Depois de trabalharem na SpaceX, empresa americana de transporte espacial comandada pelo bilionário Elon Musk, um grupo de cinco engenheiros de São Francisco, nos Estados Unidos, está ajudando a criar algoritmos capazes de diagnosticar pela internet doenças crônicas. A equipe trabalha em parceria com engenheiros alocados no Brasil e foi contratada pela dr.consulta, […]

THOMAZ SROUGI, DA DR. CONSULTA: "Infelizmente, o sistema público do Brasil está quebrado", disse o presidente (Germano Lüders/Exame)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2017 às 15h45.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h34.

Michele Loureiro

Depois de trabalharem na SpaceX, empresa americana de transporte espacial comandada pelo bilionário Elon Musk, um grupo de cinco engenheiros de São Francisco, nos Estados Unidos, está ajudando a criar algoritmos capazes de diagnosticar pela internet doenças crônicas. A equipe trabalha em parceria com engenheiros alocados no Brasil e foi contratada pela dr.consulta, maior rede de clínicas médicas populares do país. “A ideia é deixar os algoritmos fazerem o papel dos médicos em um primeiro momento”, diz Thomaz Srougi, fundador da rede dr.consulta.

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O novo sistema será implantado em julho deste ano. Segundo Srougi, por meio do site da rede, os pacientes poderão inserir dados pessoais e de saúde e o sistema será capaz de diagnosticar doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade. “Os algoritmos são capazes de avaliar as condições dos indivíduos e prever se há riscos de uma doença crônica. Para quem já for diagnosticado, haverá recomendações de tratamentos para neutralizar o avanço das doenças”, afirma.

Além dos engenheiros, o desenvolvimento do sistema é feito por uma equipe multidisciplinar composta por médicos de inúmeras especialidades. “Tudo está calcado na inteligência artificial. Os pacientes poderão ter os diagnósticos em casa, pelo computador, ou podem usar o sistema a partir de uma de nossas clínicas”, diz Srougi. “É evidente que a presença do médico não será totalmente substituída, mas pode ser abreviada com o uso de dados”, afirma. As doenças crônicas, que atingem quase 60 milhões de brasileiros, são apenas a porta de entrada para o uso de algoritmos e a rede pretende ampliar a tecnologia para diagnósticos de outras enfermidades.

Toda essa comodidade, é claro, tem um custo e deve ajudar a rede a ampliar seus ganhos. “A partir de julho deixaremos de ser apenas uma rede de clínicas populares e passaremos a ser uma empresa de gestão de saúde e tecnologia”, afirma. Com essas e outras iniciativas, a dr.consulta planeja triplicar o faturamento este ano, em relação a 2016.

Além dos ganhos com a tecnologia, a rede vai dobrar de tamanho passando das atuais 28 unidades para 55 até dezembro de 2017, todas na Grande São Paulo. Atualmente, a dr.consulta atende cerca de 1,5 milhão de pacientes por ano, em consultas que custam de 60 reais a 140 reais, aproximadamente um quarto do que cobram os consultórios particulares, de acordo com a Associação Médica Brasileira. “Nós estamos livres da burocracia dos planos de saúde e nossa receita vem do volume de pacientes”, diz Srougi.

O mesmo cenário favorável ao crescimento da dr.consulta também acena para os concorrentes. Nos últimos anos houve uma explosão de empresas prestando serviços médicos a preços populares e a fatia está cada vez mais dividida. Nomes como GlobalMed, Dr. Agora, Doktor’s e Clínica Fares também têm planos de expansão.

Todas essas empresas navegam em um cenário em que a crise econômica e a redução do volume de renda levaram 1,4 milhão de brasileiros a deixar de pagar convênio médico em 2016. E 80% desses pacientes está na região Sudeste, justamente onde há a maior concentração de clínicas populares. “Apenas 24% da população brasileira tem convênio médico e o Sistema Único de Saúde não comporta um atendimento ágil para os demais. É um grande mercado potencial”, afirma Adiel Fares, fundador da Clínica Fares. Fares, médico de formação, é herdeiro da rede de lojas de móveis Marabraz, mas largou o varejo e mergulhou de cabeça no setor de saúde nos últimos anos.

Para ele, há uma fatia importante de mercado a ser conquistada, mas os métodos tradicionais de exercício da medicina devem prevalecer. “Não acho que a tecnologia deva substituir qualquer etapa de um tratamento. Sou do tempo das consultas longas e das conversas. A tecnologia é boa para compartilhar opiniões com os colegas, estudar casos, mas não para abreviar processos”, afirma.

Fares, porém, reconhece a importância da inteligência artificial no setor de saúde e investiu em um sistema de gestão de histórico de pacientes, que possibilitará o acompanhamento personificado, comparação da evolução de índices e a consequente prevenção de doenças. “A partir de abril teremos uma tecnologia usada nos melhores hospitais do mundo em nossas clínicas, em que os médicos terão curvas de acompanhamento dos pacientes e serão capazes de prever doenças, tudo olho no olho”, afirma. Todos os pacientes que já passaram por uma das três unidades da rede desde 1998 terão seu histórico atualizado automaticamente.

Para aumentar o faturamento, Fares planeja dobrar o número de unidades, com a abertura de quatro clínicas até o fim deste ano, chegando a sete unidades. “Vamos para endereços na região metropolitana de São Paulo, como Mauá e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista”, afirma.

Atualmente, a Clínica Fares atende cerca de 850.000 pessoas por ano. Os atendimentos contemplam 36 especialidades e as consultas custam de 80 reais a 160 reais. “A expectativa é faturar 50% a mais neste ano por conta das novas unidades e dos novos consumidores”, diz Fares. Ele afirma que, mesmo com a expansão, não vá bater de frente com a dr.consulta. Há muito espaço a ser explorado. A tecnologia pode agilizar a conquista.

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