Cammila Yochabell, presidente da Jobecam: junto com Gupy e Acesso Digital, startup faz processo seletivo gratuitamente para hospitais (Jobecam/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 9 de abril de 2020 às 06h00.
Última atualização em 9 de abril de 2020 às 13h30.
Depois da saúde, as principais preocupações com a crise do coronavírus são com a economia e com os empregos. Com o isolamento social e o fechamento de boa parte do comércio por causa da doença, a Organização Internacional do Trabalho prevê o fim de até 195 milhões de empregos no mundo. No Brasil, os efeitos já começaram a ser sentidos. A Associação Nacional de Restaurantes estima que as demissões no setor podem já ter atingido entre 600.000 e 800.000 trabalhadores no país.
Em março, a plataforma de recrutamento e seleção da startup Kenoby registrou 25% menos vagas e 28% menos candidaturas que em janeiro e fevereiro deste ano. Segundo o presidente da startup, Marcel Lotufo, companhias do varejo, turismo, academias e gráficas congelaram as contratações no período. Mas a crise não foi negativa para todos os setores.
Com as pessoas passando mais tempo em casa e com a propagação do trabalho remoto, companhias especializadas em comunicação digital contrataram 26% mais em março. O número de vagas de empresas do segmento de brinquedos e lazer também aumentou 33%, de acordo com a base de clientes da Kenoby.
As empresas que estão contratando agora precisam se adaptar a um novo modelo de recrutamento que minimize as chances de transmissão do vírus. As longas filas de candidatos nas portas de varejistas e supermercados não podem acontecer em tempos de coronavírus. Com isso, entrevistas por vídeo e seleção automatizada de currículos ganham espaço.
A startup brasileira de recrutamento Levee, fundada em 2012 pelos americanos Jacob Rosenbloom e Derek Fears, percebeu uma demanda maior agora de setores em que antes tinha dificuldade de entrar, como os supermercados. “As empresas perceberam que recrutar mão de obra digitalmente é a única maneira de manter a operação rodando”, diz Rosenbloom.
A companhia, que usa uma tecnologia de machine learning para analisar milhares de currículos, é especializada em preencher vagas que pagam de um a três salários mínimos. Com o coronavírus, a startup abriu uma ferramenta de processo seletivo por vídeo e passou a intermediar também a contratação de profissionais temporários. Em março, registrou um aumento de oito vezes no número de vagas abertas por supermercados na sua plataforma.
Aplicativos de delivery, marketplaces e pet shops também aumentaram o número de contratados. Só em um contrato firmado em meados de março com a empresa colombiana Rappi, a Levee ajudou a preencher mais de 500 posições de shoppers — os compradores da Rappi que ficam dentro dos supermercados organizando os pedidos dos clientes.
Quem notou uma demanda maior também foi a startup Jobecam, fundada em 2016 pela brasileira Cammila Yochabell. A empresa nasceu para organizar processos seletivos feitos de maneira totalmente digital. Sua plataforma permite a candidatura em vídeo, a realização de entrevistas por videoconferência e até mesmo a realização de dinâmicas de grupo remotamente. Entre os clientes da empresa, estão companhias como Oracle, Sicoob e Raízen.
Em março, com o crescimento no número de casos de covid-19 no Brasil, a empresa percebeu um aumento nas vagas abertas pelos hospitais clientes. "Estamos com uma alta demanda para atender os clientes do setor de saúde. Alguns hospitais como o Mário Covas, IGESP, Meridional e A. C. Camargo estão contratando um alto volume e precisam de profissionais capacitados para atender as demandas durante este período de crise", diz Yochabell.
Muitas vezes, segundo a presidente da empresa, os hospitais abrem uma vaga para técnico de enfermagem e aproveitam os currículos recebidos para contratar até 60 pessoas. “Os hospitais tem contratado muitos fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e enfermeiros no geral”, afirma.
Em março, governo federal anunciou a abertura de um edital extra do Mais Médicos para contratar 5,8 mil profissionais de saúde. Na rede privada, o hospital Albert Einstein abriu 1,2 mil vagas temporárias por causa do surto. A Prevent Senior já contratou 400 profissionais extras, enquanto o Hospital Alemão Oswaldo Cruz já contratou 200 novos profissionais e está em processo seletivo para a admissão de mais 150.
Segundo a Kenoby, empresas de farmacêuticos e de produtos para higiene também abriram 14% mais vagas no período. “Os clientes da área de saúde que estão atuando nessa crise tiveram uma demanda muito grande de contratações”, diz Lotufo, presidente da empresa de recrutamento.
Pensando em formas de ajudar em meio à pandemia, no começo de março, a Jobecam passou a oferecer o serviço de recrutamento em vídeo gratuitamente para todas as empresas brasileiras. Ao notar a demanda maior das áreas de saúde, Yochabell diz que decidiu focar os esforços de sua equipe para ajudar gratuitamente hospitais e empresas farmacêuticas.
No final do mês, a empresa se uniu a outras startups de recrutamento e seleção para auxiliar os hospitais de forma rápida e gratuita. O movimento, chamado de “Contratando pela Saúde”, é uma parceria entre Jobecam, Gupy e Acesso Digital.
Os hospitais que quiserem usufruir do auxílio das empresas podem se inscrever na plataforma da Gupy solicitando atendimento. Os pedidos estão passando por uma triagem, e os hospitais com maior demanda estão sendo priorizados. A startup organiza a divulgação das vagas e sua inteligência artificial ajuda os hospitais a encontrar os melhores candidatos para as posições.
Depois, a Jobecam disponibiliza sua plataforma para realização de entrevistas e dinâmicas em vídeo, para que o processo de seleção seja feito de forma totalmente remota. Na sequência, os candidatos aprovados podem usar a plataforma da Acesso Digital para fazer o processo admissional totalmente pelo smartphone, sem precisar se deslocar até a empresa para levar documentos.
A expectativa é que a ação facilite a contratação dos médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas necessários durante o surto da doença.