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Startups dos EUA querem melhorar a experiência de consumir drogas

As empresas que pesquisam terapias alternativas para depressão, vício, dor crônica e outras aflições querem parte do mercado global de US$ 27 bilhões para as tradicionais drogas psiquiátricas

 (Bloomberg Businessweek/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

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Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2021 às 07h00.

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A farmacogenômica, ramo da farmacologia preocupado em como os fatores genéticos influenciam as reações aos medicamentos, já obteve algum sucesso na oncologia. Agora quer explorar o mercado de psicotrópicos legalizados em partes do mundo (Bloomberg Businessweek/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

Por Tiffany Kary, da Bloomberg Businessweek

Cuspa em um tubo e coloque-o no correio e você receberá em casa os resultados do laboratório que poderão oferecer uma ‘viagem’ melhor — ou pelo menos mais segura. Essa é a premissa de um kit caseiro de teste de saliva vendido por US$ 199 pela Endocanna, que busca 57 características genéticas que podem influenciar a reação de um cliente à maconha, para que possam selecionar a melhor cepa e a dose correta. A empresa também planeja examinar fatores semelhantes para uma variedade de drogas psicotrópicas.

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“Seu DNA é o seu projeto”, diz Len May, CEO da startup sediada em Burbank, Califórnia. “Ele oferece um GPS que pode guiá-lo para uma experiência mais otimizada e ajuda a evitar as curvas fechadas.”

A Endocanna está entre um grupo de empresas em estágio inicial que seguem os passos da medicina de precisão, tentando ajudar pessoas a entender como elas irão reagir à cannabis ou drogas psicodélicas, como psilocibina, MDMA, DMT e cetamina.

As empresas que pesquisam terapias alternativas para depressão, vício, dor crônica e outras aflições querem parte do mercado global de US$ 27 bilhões para as tradicionais drogas psiquiátricas. Elas estão tentando resolver o quebra-cabeça que impede muitas pessoas de micro-dosar cogumelos mágicos ou se submeterem à terapia com maconha: por medo de uma viagem ruim — ou mesmo de uma psicose duradoura.

A farmacogenômica, ramo da farmacologia preocupado em como os fatores genéticos influenciam as reações aos medicamentos, já obteve algum sucesso na oncologia. Embora não haja consenso científico sobre se a reação de uma pessoa a qualquer tipo de droga psiquiátrica pode ser prevista com genética, empresas como a Endocanna já estão investindo em pesquisas e até mesmo em kits diretos ao consumidor. Caso consigam prevenir reações extremas a drogas psicodélicas, isso poderá abrir caminho para a indústria de forma mais ampla.

Muito mais do que uma viagem ruim

Os riscos são mais significativos do que apenas viagens ruins. A maconha costuma ser recomendada para aliviar a ansiedade, mas em algumas pessoas também pode provocá-la. O Instituto Nacional de Abuso de Drogas diz que fumar maconha de alta potência pode aumentar as chances de desenvolver psicose. Por outro lado, uma análise de 2015 de dados de pacientes dos Estados Unidos descobriu que 19.299 americanos que tomaram psicodélicos clássicos como LSD, psilocibina e mescalina não tinham risco aumentado de desenvolver problemas como esquizofrenia, psicose, depressão ou ansiedade, ou de cometer suicídio.

Viagens ruins ainda são bastante problemáticas: um estudo da Universidade Johns Hopkins com 1.993 pessoas que relataram viagens ruins descobriu que 11% disseram que colocaram a si mesmas ou outras pessoas em perigo durante a experiência e 8% procuraram tratamento para o que acreditavam ser sintomas psicológicos persistentes relacionados ao evento. “Isso para mim é inquietante, especialmente à luz do entusiasmo cultural pela legalização e descriminalização”, disse Roland Griffiths, diretor do Centro de Pesquisa Psicodélica e de Consciência da universidade. “As pessoas que experimentam essas substâncias não estão apenas procurando tratamento, mas podem estar colocando a si mesmas ou outras pessoas em risco – até mesmo risco de vida”.

Os riscos não estão impedindo os investidores. A Bolsa de Valores do Canadá disse que US$ 277 milhões foram arrecadados para empresas de psicodélicos desde 2020, e US$ 11.25 bilhões foram arrecadados por empresas de maconha e cânhamo desde 2016. A Entheon Biomedical, com sede em Vancouver, que vende por 89 dólares um teste de saliva por correspondência para pessoas que pretendem usar drogas psicodélicas, está entre eles. A empresa em estágio inicial abriu o capital no ano passado por meio de uma aquisição reversa.

O teste psicodélico da Entheon analisa cinco fatores: uma enzima hepática para o metabolismo da cetamina, variações do receptor de serotonina para avaliar a "sensibilidade psicodélica" e três outros fatores para avaliar o "risco à saúde mental" analisando genes que se acredita possam influenciar as reações ao THC e CBD — incluindo um teste para o gene AKT1, que o Instituto Nacional de Abuso de Drogas identificou como potencialmente ligado a um risco maior de psicose em pessoas que fazem uso da maconha.

A empresa nasceu do desejo do CEO, Timothy Ko, de ajudar seu irmão viciado em opiáceos, que tentou tratamentos tradicionais para uma variedade de doenças mentais antes de morrer dois anos atrás. “Algumas das dificuldades que enfrentamos como família era que havia muita incerteza sobre que o estava acometendo realmente e quais medicamentos poderiam ser dados a ele”, disse Ko.

O painel da Entheon para clientes que fazem seus testes contém links para dezenas de estudos científicos publicados em periódicos, revisados ​​por profissionais que oferecem algumas pistas para links em potencial, mas sem respostas definitivas. A empresa também está conduzindo pesquisas sobre ondas cerebrais de eletroencefalograma em pacientes submetidos à terapia psicodélica para aprofundar as ligações entre a variação genética e a resposta ao medicamento.

Griffiths diz que é muito cedo para saber se um plano de tratamento psicodélico pode ser personalizado para responsabilizar os genes de alguém. “No momento, na psiquiatria de precisão, não há nem mesmo bons preditores genômicos de respostas à maioria das intervenções”, diz ele. “Também não estou ciente de que haja algum dentro dos psicodélicos.”

Mercado incerto

Com relação à maconha, outros fatores além da genética ajudam a determinar a reação de alguém. “Também diz respeito sobre o que uma pessoa comeu naquele dia, a que horas do dia ela toma a droga e quão bem hidratada ela está”, diz o Dr. Jan Roberts, psicoterapeuta de Nova York especializado em cannabis e saúde mental. Alguns alimentos, como manga, têm a reputação de potencializar os efeitos da cannabis, diz ela.

A Entheon diz que há um lugar para testes diretos ao consumidor, embora a compreensão científica de como a genética se relaciona com a sensibilidade aos medicamentos e a saúde mental esteja evoluindo.

Outras empresas também estão avançando, apesar das incertezas. A Atai Life Sciences, sediada em Berlim, tem diversas entidades que buscam várias drogas no espaço psicodélico. Entre eles está a PsyProtix, uma joint venture que pesquisa depressão, genética e metabolômica — ou o estudo de pequenas moléculas dentro das células.

A startup Mind Medicine, com sede em Nova York, conhecida como MindMed, está apostando na medicina de precisão que não se limita à genética. Seu objetivo é usar informações coletadas de contadores de passos, sensores de pulsação, padrões de sono e efeitos colaterais de medicamentos usados anteriormente para ajudar pacientes psiquiátricos a determinar quais medicamentos tomar e em que dosagem.

Os resultados podem ajudar enquanto a MindMed desenvolve uma linha de produtos potenciais, incluindo tratamentos baseados em LSD, MDMA, DMT e um derivado da ibogaína: 18-MC. O CEO da MindMed, Rob Barrow, diz que não acredita no exagero em torno dos testes domésticos de DNA. “Os testes genômicos podem ser confusos até para pessoas que sabem o que estão fazendo, como médicos, por exemplo”, diz ele.

Há um debate sobre se é mesmo desejável evitar viagens ruins por completo. Christian Angermayer, o presidente da Atai, diz que, embora a psicose de longo prazo não seja desejável, uma experiência negativa durante uma dose psicodélica é realmente recompensadora para algumas pessoas, que recorrem a psicodélicos para lidar com experiências negativas como traumas pessoais e depressão. “Uma viagem ruim não é um resultado ruim”, diz Angermayer. "Isso ajuda você a superar seus próprios demônios".

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