Startup bomba no Instagram com, veja só, viagra e remédio para calvície
A Hims faz parte de uma nova safra de startups hipsters: venda direta de medicamentos sob receita, operação pela internet e foco nos homens
Mariana Fonseca
Publicado em 18 de julho de 2018 às 17h24.
Última atualização em 18 de julho de 2018 às 17h25.
Todos os homens da família de Dylan Nelson são carecas. O pai, o tio e os dois avôs são calvos. O headhunter de 28 anos de Newport Beach, Califórnia, começou a notar o mesmo destino aos 23 anos. Ele tentou Rogaine, mas o achou caro e ineficaz.
Foi então que ele viu um anúncio ousado da Hims, uma startup que vende pelo correio kits de medicamentos vendidos sob receita. Nelson pediu uma opinião a uma vizinha que é dermatologista. Os medicamentos oferecidos pela Hims eram os mesmos que ela receitava aos seus pacientes, só que mais baratos.
Dois meses depois, eles parecem estar funcionando. “Estou cortando o cabelo a cada 10 dias”, disse Nelson.
A Hims faz parte de uma nova safra de startups hipsters que praticam venda direta ao consumidor de medicamentos sob receita, operam pela internet e são voltadas aos homens. Mas enquanto empresas como Keeps e Roman se concentram em um único problema de saúde (perda de cabelo e disfunção erétil, respectivamente), a Hims quer construir uma marca para homens vendendo medicamentos para vários problemas diferentes, de disfunção erétil a acne.
Criada em novembro de 2017, a Hims possibilita que os homens obtenham uma receita médica após uma rápida consulta com um médico pela internet. Os remédios são fornecidos por meio de uma rede de farmácias e enviados em caixas limpas e discretas para evitar constrangimentos ou vergonha.
A Hims aproveita uma confluência de tendências: a flexibilização das leis de telemedicina na maioria dos estados americanos, o fim do monopólio do Viagra, da Pfizer, e a crescente disposição dos homens para falar e gastar em saúde e beleza.
Andrew Dudum, 29, fundador e CEO da Hims, promete criar uma empresa de saúde de US$ 10 bilhões. “Somos a porta de entrada do consultório médico”, disse. “Somos completamente diferentes de qualquer outra coisa existente no sistema de saúde.”
O plano é ousado, mas Dudum e sua equipe de revolucionários terão que avançar com cuidado. Afinal, não estão vendendo colchões ou lâminas de barbear. Vendem medicamentos sob receita, com possíveis efeitos colaterais. E alguns especialistas afirmam que a telemedicina, um setor global com valor estimado em US$ 19 bilhões que recebe crédito por levar saúde a populações carentes, pode facilitar a obtenção de receitas injustificadas.
Lindsey Slaby, consultora de marketing que fez trabalhos para a Target, Equinox e Microsoft, aplaude a Hims por tentar tornar mais fácil para os homens falar sobre perda de cabelo, disfunção erétil e outros males. Mas segundo Slaby, o marketing às vezes falacioso da empresa pode encobrir as desvantagens do uso excessivo de pílulas. “A sensação é que simplesmente não se está lendo bem as letras miúdas”, disse.
A Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) exige que os anúncios que fazem uma afirmação específica sobre os benefícios de um medicamento divulguem os possíveis efeitos colaterais.
A Hims respondeu que vende sua marca, e não um medicamento específico, e que não inclui o texto padronizado em seus anúncios (que atrapalhariam a apresentação). Uma porta-voz da FDA preferiu não comentar sobre os anúncios da Hims.