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Samba, suor e colágeno

Tom Cardoso  As marcas brasileiras de cosméticos, como Natura e Boticário, nunca foram muito ambiciosas quando o assunto é expansão internacional. Um dos motivos está dentro de casa: o Brasil é o segundo maior mercado de cosméticos de mundo, e durante boa parte da última década as vendas avançaram quase 20% ao ano. Mas a […]

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Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2016 às 20h10.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h06.

Tom Cardoso

As marcas brasileiras de cosméticos, como Natura e Boticário, nunca foram muito ambiciosas quando o assunto é expansão internacional. Um dos motivos está dentro de casa: o Brasil é o segundo maior mercado de cosméticos de mundo, e durante boa parte da última década as vendas avançaram quase 20% ao ano. Mas a crise recente serviu para lembrar que depender de um único mercado, por melhor que ele seja, tem lá seus riscos. Além disso, competir com melhores do mundo em mercados competitivos como o americano têm um charme danado – e pode dar muito dinheiro.

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Tudo isso pesou na decisão da empresária Cristiana Arcangeli de levar seus produtos para os Estados Unidos. Desde que fechou o seu consultório dentário em meados dos anos 1980 para assumir de vez a sua veia empreendedora, a empresária acumula sucessos (e tem também um bom histórico de tropeços). Ela se notabilizou por criar marcas inovadoras e vendê-las no momento certo. A primeira foi a Phytoervas. A Éh, sua segunda empresa (e primeira linha de cosméticas orgânicos do país) foi adquirida pelo grupo Hypermarcas 18 meses após o seu lançamento.

O negócio deu fôlego para que ela criasse, em 2010, o seu terceiro e mais ousado empreendimento, a Beauty’in. A marca de alimentos com propriedades cosméticas, também bem-sucedida (a empresa deve faturar cerca de 24 milhões de reais em 2016) chamou a atenção, dois anos após sua criação, da Brasil Pharma, braço de varejo farmacêutico controlado pelo BTG Pactual, que adquiriu 40% da marca por 30,7 milhões de reais.

Na teoria, a parceria com o banco tinha tudo para dar certo. Além de injetar mais capital em sua empresa, Arcangeli previa ampliar a presença de seus produtos nas bandeiras da Brasil Pharma, uma das maiores redes de farmácias do país, com mais de 1.000 lojas. Nada saiu como planejado. A Brasil Pharma passou por uma crise financeira que se arrasta até hoje, ao mesmo tempo que, segundo Arcangeli, fez de tudo para frear as investidas da Beauty’in no mercado internacional.

“O BTG queria que eu apostasse todas as minhas fichas no mercado brasileiro, de olho na rede de farmácias deles, que só tem presença aqui. Foi um erro estratégico”, afirma Arcangeli. “Hoje, com essa crise toda, se eu estivesse bem posicionada no mercado americano, a gente estaria nadando de braçada. Mas, graças a Deus, eu consegui assumir 100% o controle da Beauty’in”, diz a empresária, que em abril deste ano recomprou a parte do BTG Pacutal, se tornando a única proprietária da marca.

Os seus planos para o mercado americano são ambiciosos. Ela investiu cerca de 1,3 milhão de dólares em consultorias, regulamentações, registro de marcas e patentes para chegar aos Estados Unidos com três linhas de produtos: bebidas, balas e chocolates à base de colágeno, a proteína que, segundo Arcangeli, é fundamental para dar firmeza à pele, retardando o processo de envelhecimento. Embora pesquisas mostrem que, de fato, a produção de colágeno pelo organismo cai, em média, 1% ao ano, a partir dos 30 anos, especialistas afirmam que a absorção do colágeno, ao chupar, por exemplo, um pacote de balas ou ao beber vários copos de suco, é mínima, insignificante.

Arcangeli, defensora ferrenha dos milagres do colágeno (ela fechou recentemente uma parceria com a Vigor e com a Cacau Show, para lançar, respectivamente, iogurtes e chocolates contendo a proteína), não quer entrar de novo em polêmica. O seu foco é levar a inovação brasileira do colágeno para o tão sonhado mercado americano.

“Eu pesquisei, e só existe um produto à base de colágeno nos Estados Unidos: uma bala, importada da Alemanha e cheia de açúcar. Nenhum produto meu tem açúcar”, diz Arcangeli. “Os americanos não querem deixar de consumir balas, chocolates, etc. Vou mostrar que eles podem continuar mantendo os seus hábitos, mas com muito mais saúde e responsabilidade. A Beauty’in é a cara deles”, afirma a empresária, que pretende começar a distribuir os seus produtos em redes americanas a partir de janeiro de 2017.

Para Angelina Stockler, sócia-fundadora da consultoria ba}STOCKLER, o fato de a Beauty’in entrar com um produto novo no mercado americano não significa que ela vá manter por muito tempo essa exclusividade. “O mercado de beleza americano é gigantesco, com uma concorrência enorme. Lá pode até não ter bala com colágeno, mas isso não garante que não passe a ter no dia seguinte”, afirma Stockler.

A consultora, porém, elogia a ousadia de Arcangeli. “Gigantes brasileiras, como a Natura e a Boticário, entraram com muito cuidado no mercado americano, com um discurso mais humilde. Se a Beauty’in fizer a lição de casa, se conseguir sobreviver em meio aos tubarões, pode se dar bem” afirma Stockler. “O risco é grande, mas o potencial de crescimento também é gigantesco. Se ela é movida a desafios, boa sorte”. Arcangeli, no fim das contas, aposta no estilo brasileiro, em muito trabalho – e, claro, muito colágeno.

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