Ricardo Bottas, CEO da SulAmérica: “Sem startups, saúde não tem futuro”
Para o presidente da empresa de saúde, aproximação com healtechtechs é a grande resposta para avanço tecnológico do segmento, especialmente na telemedicina
Maria Clara Dias
Publicado em 13 de setembro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 14 de setembro de 2021 às 10h09.
A estratégia de inovação aberta da SulAmérica está embasada no propósito de ampliar o acesso à saúde por meio da digitalização. E nada disso seria possível sem as startups. Essa é a opinião de Ricardo Bottas, presidente da empresa, que se tornou recentemente a primeira apoiadora institucional do recém-lançado fundo independente de venture capital de 100 milhões de reais Aggir Ventures Health, focado em startups de saúde e subsidiado por médicos e gestores de empresas do setor.
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A melhor justificativa para o aporte é a visão de que muitos negócios, grande parte das vezes, só ganham escala se forem escolhidos a dedo por fundos experientes — o que também traz um menor risco do que escolher um único negócio para depositar as fichas. “Dentro de inúmeras estratégias de investimento privado que poderíamos fazer, o fundo de venture capital é o mais assertivo e o que nos torna menos engessados ao buscar novas oportunidades”, diz Bottas.
A relação da SulAmérica com as startups, porém, já vem de longa data. A companhia mantém parceria com as healthtechs Memed, de prescrições médicas digitais, e uma joint venture com a Sharecare no Brasil, para jornadas de orientação médica telefônica e de programas de gestão de saúde. Além disso, também tem um passado marcado por hubs de aceleração e presença em comunidades de inovação Brasil adentro.
Com a pandemia e a digitalização dos sistemas de saúde e atendimento, as healthtechs têm apoiado grandes empresas a desenharem o modelo de atendimento ideal e que reúne o componente humano e tecnológico simultaneamente. Na lista de startups que surfam a onda da saúde digital estão as brasileiras Alice, da área corporativa, e a Docway, de telemedicina — na qual a SulAmérica tem 85% de participação.
Em entrevista à EXAME, o executivo falou sobre o aporte no fundo independente, as estratégias de inovação da empresa e a importância da relação entre grandes corporações e healthtechs no futuro da saúde. Veja abaixo os principais trechos da conversa.
Em que contexto se dá esse aporte?
Entendemos que a maneira de conduzir uma inovação aberta por aqui poderia se dar de diversas formas, do private equity às estruturas próprias de corporate venture. Mas temos uma estratégia de investimento que vai durar pelo menos 10 anos, e precisamos de longevidade e estabilidade. A melhor resposta foi termos independência ao não precisar gerir um fundo próprio e ao mesmo tempo ter acesso a empresas de tecnologia que podem beneficiar nosso negócio. Fora isso, também vamos poder investir em rodadas subsequentes dessas empresas, sejam seed ou série A.
E por que essa é a melhor estratégia para a SulAmérica? A empresa nunca cogitou criar um braço de corporate venture?
Já testamos esses outros modelos, como o private equity. Mas estamos em um caminho de evolução e não posso afirmar que nesse processo não teremos uma estrutura própria de corporate venture capital no futuro, essa só não é a decisão no momento. Tudo vai depender dos resultados que vamos obter com o investimento recente no Aggir e da maturidade que as startups de saúde ganham com o tempo.
Há algum perfil específico de startups buscadas pela SulAmérica nessa aproximação? Podemos esperar empresas com soluções parecidas com as de empresas já investidas no passado?
O investimento que já fizemos na Docway (startup de soluções de telemedicina) exemplifica bem, mas a busca é sempre por inovação e por fugir do tradicional. O que esse fundo tem e que se aproxima da nossa missão como empresa é a aposta no cuidado coordenado, com uma gestão de saúde completa e verticalizada. A intenção é fomentar teses, experimentações, novas tecnologias em diversos segmentos na parte de gestão de saúde, que conversa com nosso cuidado coordenado; na parte de saúde mental, que conversa com nosso posicionamento ESG, e também em telemedicina e acompanhamento de doenças crônicas. As oportunidades são muitas dentro de uma infinidade
E qual é o papel da telemedicina nesse novo contexto da empresa?
A telemedicina, sem dúvida, é o ponto mais emblemático dessa jornada. É ela que torna mais simples a missão de gerar acesso, para quem tem plano de saúde ou não. E o acesso é a nossa grande missão. Cerca de um ano antes da pandemia, já tínhamos um recurso de “médico na tela” que permitia a um beneficiário tirar dúvidas e evitar deslocamentos desnecessários e idas aos especialistas errados para cada caso. Com a regulamentação da prática, evoluímos isso. A conclusão é que a telemedicina entrega uma melhor gestão de saúde, e novas tecnologias vão ajudar.
E ainda há espaço para inovar e explorar na telemedicina?
Com certeza. A telemedicina se tornou uma commodity, assim como a tecnologia. Assim como as reuniões de trabalho online, ela se tornou muito natural. O próximo passo agora é ter instrumentos digitais que apoiem os médicos no diagnóstico feito no ambiente virtual, essa é a próxima etapa da telemedicina.
Como as startups vão ajudar a SulAmérica a ampliar essa nova realidade?
Nesse contexto, começam a se destacar uma ou outra solução com algum diferencial. A diferença está no médico por trás de uma consulta, no prontuário mais ágil, a prescrição de uma receita simultaneamente ao agendamento de um exame. Um exemplo é o que temos com a Memed: uma ferramenta que emite uma receita e ao mesmo tempo já direciona para a cotação de preço de um medicamento. Ou seja, as startups ajudam a colocar todas as novas soluções no ar e testá-las muito mais rápido, além de conseguirmos testar em volumes menores. Por isso, o foco está em startups iniciais. Uma vez que a tecnologia dela é comprovada, consegue justificar um investimento maior no futuro. Em resumo, elas nos ajudam a economizar tempo, o que também significa economia de dinheiro.
Como uma empresa centenária, que tipo de reflexos a SulAmérica pretende causar em outros grandes players do mercado de saúde ao mostrar que tem um relacionamento maduro com healtechtechs?
O propósito é continuar estando à frente na transformação digital do setor. Já temos parcerias com startups há muitos anos e temos muitas pequenas empresas que são fornecedoras. Um exemplo é a própria Docway, que já era parceira antes mesmo de entrarmos com investimento. Esse mesmo interesse que tivemos em alavancar o crescimento dela pode ser replicado em outras empresas. O importante, na verdade, é entender que toda essa busca faz parte da jornada de transformação digital da companhia como um todo e da percepção que sem as startups, o setor de saúde não avançará.
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