Preciso mesmo de uma reserva de emergência para minha empresa?
A reserva de emergência para uma PME é mesmo necessária, ou é algo dispensável? A planejadora financeira Paula Bazzo explica
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2021 às 13h54.
Por Paula Bazzo, planejadora financeira
Hoje vou te contar por que não ter reserva de emergência na empresa fez a Márcia se endividar por cinco anos. Ela é proprietária de uma clínica de estética na região metropolitana do Rio de Janeiro. Não fosse seu descontrole nas contas pessoais, a estética teria uma saúde financeira respeitável: ela tem produtos e serviços bons, com profissionais amáveis e um custo acessível. Se ainda não sabe por onde começar sua reserva, a Exame Academy tem um curso que te ensina a alcançar a liberdade financeira muito mais rápido e ajudar você a poupar e adminstrar muito bem suas finanças.
Um belo dia, não tão belo assim, o proprietário do imóvel que ela alugava para a clínica a procurou, dizendo que precisaria reaver o estabelecimento. Ela teria o prazo de um mês para procurar um novo espaço e fazer uma reforma de adaptação aos requisitos do negócio.
Essa notícia veio três dias depois de ela ter desligado uma colaboradora, o que significava que ela estava com um compromisso de pagamento da multa de rescisão de contrato, pagamento de proporcional de férias e décimo terceiro, além dos custos para encontrar outra pessoa para substituir na função.
Como era de se esperar, ela conseguiu encontrar um lugar. Por sorte -- ou competência -- muito próximo de onde atuava, o que não impactaria em perder clientes pelo ponto. Contudo, o prazo de um mês foi insuficiente para fazer todos os ajustes necessários e por trinta dias adicionais a empresa ficou de portas fechadas!
Bem, você pode imaginar que não foi um período fácil para Márcia. Foram muitos desafios simultâneos: uma vida com despesas pessoais elevadas, processo de mudança, reforma, multas rescisórias e um mês inteiro sem vendas, mas com contas chegando. Mesmo uma empresa com margens saudáveis, com clientes fiéis, com uma boa comunicação, sofreria impactos significativos.
Sob esta dinâmica e pressão ela finalmente entendeu algo que conscientemente sabia, mas que não praticava: o dinheiro que sobra no final do mês de um negócio não é do sócio, é do próprio negócio.
É claro que uma parte do lucro pode, sim, ser direcionada como distribuição aos sócios. Entretanto, é preciso ter critérios de distribuição desse recurso e de reinvestimento na saúde e vitalidade do empreendimento. No caso da Márcia, o consumo desmedido nas contas pessoais ao longo de muitos meses levou sua clínica a não ter reservas financeiras, e os imprevistos – que inevitavelmente acontecem – fizeram com que ela entrasse num ciclo de dívidas.
Dois meses irregulares impactaram em 5 anos de sufoco financeiro.
Ela aprendeu, a um alto preço, a importância de reserva financeira para o seu negócio. A partir do que viveu, ela seguiu os seguintes passos:
- Avaliou quais as despesas fixas que sua clínica possuía e que, em caso de imprevistos, precisaria pagar mesmo de portas fechadas. Incluiu contas como aluguel, água, luz, telefone, despesas com pessoal (seu principal gasto);
- Fez um acompanhamento histórico de qual seu o hábito de parcelamento ao pagar fornecedores e comparou ao volume de vendas. Assim, chegou em uma média de compromissos futuros em proporção ao seu faturamento;
- Organizou suas contas pessoais de forma a estar dentro do valor fixo que determinou como sua remuneração mensal. E só passou a distribuir lucro a cada 3 meses, se a empresa atingisse as metas de vendas.
- Avaliou riscos que poderiam prejudicar o caixa, tais como desligamento de funcionários, índice de inadimplência e eventuais reformas.
Com esses quatro elementos em mãos (despesas mensais, compromissos médios com fornecedores, remuneração própria e avaliação de potenciais impactos negativos ao caixa), chegou no custo médio mensal de funcionamento de sua clínica. A partir disso, ela foi escalando os seus objetivos: o primeiro nível era conquistar uma reserva de um mês deste montante; após isso, chegar a três meses do total; e, por fim, atingir uma reserva de emergência que cobrisse até seis meses desses gastos. Esse valor vinha de um pedacinho de cada venda que realizava. Ela estipulou que 10% da venda iria para este objetivo. Se empenhou em otimizar custos e expandir vendas. Levou 8 meses para conquistar o primeiro nível!
Para evitar algumas surpresas enquanto tudo isso não se regularizava, avaliou contratar seguros que minimizavam riscos. Mas essa é uma pauta para outro dia!
Lendo a história agora, pode dar a impressão de que esse processo aconteceu de uma forma fluida e ordenada... Ledo engano! Houve noites de choro, dias em que ela considerou fechar seu estabelecimento, decisões difíceis, até mesmo a venda de sua casa para dar o fôlego que precisava.
E por que faço essa observação final? Porque muitos empreendedores só consideram genuinamente construir a reserva financeira depois que algum problema aconteceu. E quando o problema aconteceu, em geral, encontram uma (sofrida) solução. Meu convite é para que a experiência da Márcia lhe sensibilize de que se você está em um momento de normalidade ou mesmo de expansão, este é o melhor momento para começar.
A reserva de emergência de sua empresa, além de te apoiar num momento de adversidade, será também uma reserva de saúde mental, financeira e emocional para sua própria vida!
Fique por dentro das principais tendências do empreendedorismo brasileiro. Assine a EXAME.