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Quanto vale uma ideia

Entenda qual é formula que faz com que empresas que muitas vezes sequer possuem um modelo de negócio passem a valer milhões do dia para a noite

LinkedIn: abertura de capital da empresa, que dobrou o valor de suas ações em questão de horas, foi apontado como indício de que há uma bolha no mercado de capital de risco (Justin Sullivan / Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2011 às 06h00.

São Paulo - Você investiria todo o seu dinheiro em um negócio que ainda não existe? Pois um grupo de investidores colocou 41 milhões de dólares em uma startup sem que ela tivesse um único usuário. A Color, que recebeu o investimento, criou um aplicativo para compartilhar fotografias feitas pelo celular e o lançamento da ferramenta foi um fiasco.

O caso está sendo apontado como um dos sinais de que existe uma bolha na indústria de capital de risco para investimentos em jovens empresas inovadoras. “Como existe uma forte competição entre os investidores, cenários como este podem ocorrer”, opina Cassio Spina, presidente da Anjos do Brasil.

De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal The New York Times, os investidores estão fazendo aportes despropositadamente, desesperados por participarem da descoberta de um novo Google ou Facebook. “Eles estão despejando dinheiro cegamente em startups que não provaram que podem fazer algo útil e muito menos que serão negócios rentáveis”, diz a reportagem.

No ano passado, somente os investidores-anjos – investidores pessoa física que fazem pequenos aportes em negócios inovadores – tiraram do bolso 20,1 bilhões de dólares para colocar em startups que consideraram promissoras nos Estados Unidos. O número representa um crescimento de 14% sobre o valor empenhado em 2009, segundo o Centro de Pesquisas em Venture, da Universidade de New Hampshire. Ao todo, quase 62 mil empreendedores receberam aportes vindos de 265 mil indivíduos que se apresentam como investidores-anjos.

No Brasil, o cenário é um pouco diferente. “As pessoas estão falando dessa bolha no Vale do Silício, mas 90% dos anjos aqui não está vendo bolha nenhuma. Depois da explosão em 1999, com a onda de empresas pontocom, as pessoas estão mais inteligentes para perceber a diferença entre um empreendedor de papel e um que fatura”, defende Ricardo Normand, especialista em capital semente.

Por aqui, muitos anjos ainda relutam em mostrar a cara - o medo de ficar visado pelos criminosos é uma justificativa comum - por isso, é difícil afirmar com exatidão o tamanho desta comunidade. Mas, mesmo sem dados muito precisos, fica nítido que não estamos falando de um mercado tão volumoso quanto o norte-americano. De acordo com a recém-criada Associação Latino-americana de Investidores Anjos, a região tem 24 redes, com 541 membros que investiram em apenas 67 empresas até o momento.


“Só agora o Brasil está acordando para o fato de que empreendedorismo é uma profissão de enorme potencial. Se um empreendedor brasileiro tiver sucesso no nosso mercado, considerando taxa de juros alta, inflação, impostos e encargos trabalhistas, com toda certeza terá sucesso em qualquer outro lugar do mundo”, opina Marcio de Oliveira Santos Filho, professor da Fundação Getúlio Vargas e analista da Inseed Investimentos.

Números que impressionam

Mas se por aqui ainda há um amplo território a ser explorado pelo mercado de capital de risco, que está apenas na sua adolescência, lá fora alguns sintomas de que uma nova bolha pode estar se aproximando começam a ser apontados pelos mais pessimistas.

Um dos episódios que alimentaram a discussão foi o IPO do LinkedIn. A rede social de contatos profissionais viu o valor da sua ação mais que duplicar no dia da sua estreia na bolsa, saltando de 45 dólares para 122 dólares ao longo do primeiro dia de negociação. O papel encerrou o dia com uma valorização de 109%.  De uma hora para a outra, uma empresa que faturou apenas 15,4 milhões de dólares no ano passado, passou a valer 9 bilhões de dólares. No dia seguinte, o valor da ação recuou, mas ainda assim muitos olharam com desconfiança para o excessivo entusiasmo gerado durante o processo.

Outro exemplo de crescimento vertiginoso é o site de compras coletivas Groupon. O negócio, que não passava de uma ideia há pouco mais de dois anos, poderá levantar 750 milhões de dólares com a abertura do seu capital na bolsa, elevando seu valor de mercado para 25 bilhões de dólares. Detalhe: embora gere uma receita considerável, a operação ainda está no prejuízo.

O valor de uma ideia

O que explica, então, que empresas que estão no início de sua trajetória e que, muitas vezes, sequer possuem um modelo de negócio bem definido (comprado pelo Google por 1,65 bilhão de dólares em 2006, o YouTube demorou quase quatro anos para sair do prejuízo) passem a valer bilhões de dólares do dia para a noite? Como se determina, afinal, o valor de uma empresa que muitas vezes não é mais do que uma ideia?

Um fator decisivo é o entusiasmo que essa ideia é capaz de gerar e os investimentos que ela consegue atrair. A cada nova rodada de aporte, as startups ganham no que os especialistas chamam de valuation, ou seja, o valor do negócio.


Para empresas tradicionais, dados do balanço, como o fluxo de caixa descontado e o múltiplo de mercado, são usados como base para o modelo de avaliação. Ambos funcionam muito bem quando a empresa tem números e resultados a mostrar. “Em startups, é preciso avaliar o empreendedor e o tamanho do mercado”, diz Normand.

Mais do que matemática, o valuation é uma questão de instinto. “Às vezes, é possível comparar a companhia com outra. Mas, em alguns momentos, não há nenhum tipo de precedente para analisar e você investe pela intuição, o que significa colocar um valor que seja compatível com o risco que você quer correr”, explica Paul Bragiel, da i/o Ventures.

É claro que os investidores não depositam suas moedas nestes frágeis cofrinhos e esperam que elas se multipliquem milagrosamente. O trabalho de um investidor de risco é envolver-se no negócio e dar todo o apoio necessário para que ele realmente decole. “Investimos em pequenas equipes com até três pessoas que tenham apenas um protótipo básico. Então, trabalhamos muito próximos a eles até que estejam prontos para o lançamento e para investimentos maiores”, conta Bragiel. Mesmo com todo este cuidado, nada garante que o resultado final será o sucesso. “Na essência, ser investidor é ser um apostador: se você arrisca o dinheiro, é porque acha que tem chances de ganho. O segredo é gradualmente aumentar essa aposta na proporção em que o projeto dá confirmações de que vai chegar lá”, define Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora, que apóia startups com gestão e capital semente.

Com ou sem bolha, o clima dominante entre os investidores é de entusiasmo. E a razão é simples. O que todo mundo quer, no fundo, é descobrir o próximo Google ou Facebook e sair da jogada milionário.

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São Paulo - Você investiria todo o seu dinheiro em um negócio que ainda não existe? Pois um grupo de investidores colocou 41 milhões de dólares em uma startup sem que ela tivesse um único usuário. A Color, que recebeu o investimento, criou um aplicativo para compartilhar fotografias feitas pelo celular e o lançamento da ferramenta foi um fiasco.

O caso está sendo apontado como um dos sinais de que existe uma bolha na indústria de capital de risco para investimentos em jovens empresas inovadoras. “Como existe uma forte competição entre os investidores, cenários como este podem ocorrer”, opina Cassio Spina, presidente da Anjos do Brasil.

De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal The New York Times, os investidores estão fazendo aportes despropositadamente, desesperados por participarem da descoberta de um novo Google ou Facebook. “Eles estão despejando dinheiro cegamente em startups que não provaram que podem fazer algo útil e muito menos que serão negócios rentáveis”, diz a reportagem.

No ano passado, somente os investidores-anjos – investidores pessoa física que fazem pequenos aportes em negócios inovadores – tiraram do bolso 20,1 bilhões de dólares para colocar em startups que consideraram promissoras nos Estados Unidos. O número representa um crescimento de 14% sobre o valor empenhado em 2009, segundo o Centro de Pesquisas em Venture, da Universidade de New Hampshire. Ao todo, quase 62 mil empreendedores receberam aportes vindos de 265 mil indivíduos que se apresentam como investidores-anjos.

No Brasil, o cenário é um pouco diferente. “As pessoas estão falando dessa bolha no Vale do Silício, mas 90% dos anjos aqui não está vendo bolha nenhuma. Depois da explosão em 1999, com a onda de empresas pontocom, as pessoas estão mais inteligentes para perceber a diferença entre um empreendedor de papel e um que fatura”, defende Ricardo Normand, especialista em capital semente.

Por aqui, muitos anjos ainda relutam em mostrar a cara - o medo de ficar visado pelos criminosos é uma justificativa comum - por isso, é difícil afirmar com exatidão o tamanho desta comunidade. Mas, mesmo sem dados muito precisos, fica nítido que não estamos falando de um mercado tão volumoso quanto o norte-americano. De acordo com a recém-criada Associação Latino-americana de Investidores Anjos, a região tem 24 redes, com 541 membros que investiram em apenas 67 empresas até o momento.


“Só agora o Brasil está acordando para o fato de que empreendedorismo é uma profissão de enorme potencial. Se um empreendedor brasileiro tiver sucesso no nosso mercado, considerando taxa de juros alta, inflação, impostos e encargos trabalhistas, com toda certeza terá sucesso em qualquer outro lugar do mundo”, opina Marcio de Oliveira Santos Filho, professor da Fundação Getúlio Vargas e analista da Inseed Investimentos.

Números que impressionam

Mas se por aqui ainda há um amplo território a ser explorado pelo mercado de capital de risco, que está apenas na sua adolescência, lá fora alguns sintomas de que uma nova bolha pode estar se aproximando começam a ser apontados pelos mais pessimistas.

Um dos episódios que alimentaram a discussão foi o IPO do LinkedIn. A rede social de contatos profissionais viu o valor da sua ação mais que duplicar no dia da sua estreia na bolsa, saltando de 45 dólares para 122 dólares ao longo do primeiro dia de negociação. O papel encerrou o dia com uma valorização de 109%.  De uma hora para a outra, uma empresa que faturou apenas 15,4 milhões de dólares no ano passado, passou a valer 9 bilhões de dólares. No dia seguinte, o valor da ação recuou, mas ainda assim muitos olharam com desconfiança para o excessivo entusiasmo gerado durante o processo.

Outro exemplo de crescimento vertiginoso é o site de compras coletivas Groupon. O negócio, que não passava de uma ideia há pouco mais de dois anos, poderá levantar 750 milhões de dólares com a abertura do seu capital na bolsa, elevando seu valor de mercado para 25 bilhões de dólares. Detalhe: embora gere uma receita considerável, a operação ainda está no prejuízo.

O valor de uma ideia

O que explica, então, que empresas que estão no início de sua trajetória e que, muitas vezes, sequer possuem um modelo de negócio bem definido (comprado pelo Google por 1,65 bilhão de dólares em 2006, o YouTube demorou quase quatro anos para sair do prejuízo) passem a valer bilhões de dólares do dia para a noite? Como se determina, afinal, o valor de uma empresa que muitas vezes não é mais do que uma ideia?

Um fator decisivo é o entusiasmo que essa ideia é capaz de gerar e os investimentos que ela consegue atrair. A cada nova rodada de aporte, as startups ganham no que os especialistas chamam de valuation, ou seja, o valor do negócio.


Para empresas tradicionais, dados do balanço, como o fluxo de caixa descontado e o múltiplo de mercado, são usados como base para o modelo de avaliação. Ambos funcionam muito bem quando a empresa tem números e resultados a mostrar. “Em startups, é preciso avaliar o empreendedor e o tamanho do mercado”, diz Normand.

Mais do que matemática, o valuation é uma questão de instinto. “Às vezes, é possível comparar a companhia com outra. Mas, em alguns momentos, não há nenhum tipo de precedente para analisar e você investe pela intuição, o que significa colocar um valor que seja compatível com o risco que você quer correr”, explica Paul Bragiel, da i/o Ventures.

É claro que os investidores não depositam suas moedas nestes frágeis cofrinhos e esperam que elas se multipliquem milagrosamente. O trabalho de um investidor de risco é envolver-se no negócio e dar todo o apoio necessário para que ele realmente decole. “Investimos em pequenas equipes com até três pessoas que tenham apenas um protótipo básico. Então, trabalhamos muito próximos a eles até que estejam prontos para o lançamento e para investimentos maiores”, conta Bragiel. Mesmo com todo este cuidado, nada garante que o resultado final será o sucesso. “Na essência, ser investidor é ser um apostador: se você arrisca o dinheiro, é porque acha que tem chances de ganho. O segredo é gradualmente aumentar essa aposta na proporção em que o projeto dá confirmações de que vai chegar lá”, define Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora, que apóia startups com gestão e capital semente.

Com ou sem bolha, o clima dominante entre os investidores é de entusiasmo. E a razão é simples. O que todo mundo quer, no fundo, é descobrir o próximo Google ou Facebook e sair da jogada milionário.

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