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Primeiro ‘unicórnio’ pode colocar Brasil no mapa de startups

A empresa pode passar, em breve, a marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado. Se isso acontecer, a Movile pode se tornar o primeiro ‘unicórnio’ brasileiro

Escritório da Movile em São Paulo: empresa está bem perto de alcançar 1 bilhão de dólares em valor de mercado (Luísa Melo/EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2016 às 11h41.

Última atualização em 21 de março de 2018 às 11h33.

São Paulo - No recém-inaugurado escritório da Movile, na zona sul de São Paulo , há uma estante cheia de champanhes. Para cada uma das garrafas, uma meta.

Algumas das rolhas já voaram pelo escritório quando a empresa superou metas de faturamento e de usuários - uma das comemorações mais recentes aconteceu em março, quando o aplicativo de conteúdo para crianças PlayKids superou 6 milhões de usuários no mundo.

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A empresa pode passar, em breve, a marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado, embora nenhum champanhe esteja reservado à ocasião - ao menos não à vista.

Se isso acontecer, a Movile pode se tornar o primeiro " unicórnio " - o apelido dado a essas empresas bilionárias - brasileiro.

Segundo fontes do mercado, a Movile não é a única startup a estar próxima do feito. Depois de anos de amadurecimento do ecossistema de startups - nome dado ao conjunto de empreendedores, investidores, aceleradoras e startups em plena atividade - o Brasil está começando a ver resultados.

"É estranho que nenhuma empresa de tecnologia grande tenha saído daqui", diz o colombiano David Vélez, cofundador e presidente executivo da brasileira Nubank.

"Na América Latina, temos o Mercado Livre e a Decolar, mas nenhum no Brasil." A Nubank, que oferece um cartão de crédito roxo, também tem sido citada frequentemente como uma das prováveis candidatas, além da empresa de segurança PSafe, que oferece um aplicativo de antivírus para smartphones.

Para Vélez, a Nubank faz parte de uma nova geração de startups brasileiras que criou negócios a partir de problemas específicos dos brasileiros.

"Antes, muitos empreendedores olhavam os EUA", diz Vélez, "e criavam clones, que imitavam modelos de negócio "gringos" no Brasil."

Além de os empreendedores passarem a inovar mais e a criarem mais startups, o número de aceleradoras - empresas que apoiam as startups em seu ciclo de crescimento - cresceu no Brasil.

Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), há mais de 800 aceleradoras em operação no País que, em conjunto, já investiram mais de R$ 50 milhões em startups.

"As coisas estão mudando", diz Fabricio Bloisi, fundador e presidente executivo da Movile. "Ainda falta capital, mas vários fundos vieram para cá nos últimos anos e há uma perspectiva positiva".

Causa e efeito

Quem não quer estar à frente de uma empresa de US$ 1 bilhão? Um dos empreendedores mais conhecidos do País por ter criado o aplicativo Easy Taxi, Tallis Gomes, lamenta ter saído da empresa sem ter conseguido fazê-la chegar a esse valor de mercado.

"Eu poderia ter ido morar na Tailândia (depois da Easy), mas eu gosto muito de trabalhar", diz Tallis. "Fiquei muito mordido por não ter sido o primeiro unicórnio brasileiro."

Nas conversas com os executivos das empresas citadas, não é possível sentir o mesmo entusiasmo de Gomes. "Eu nunca fui fã de animais fantásticos", desconversa o cofundador e presidente executivo da PSafe, Marco DeMello, ao ser questionado sobre a vontade de se tornar o primeiro unicórnio brasileiro.

"Queremos ser um caso de sucesso claro, que mostre que o Brasil não precisa ter síndrome de vira-lata."Para Vélez, da Nubank, transformar uma startup em um unicórnio nada mais é do que "uma métrica de vaidade".

"É uma medida falsa", diz o empreendedor. "Ela pode nos fazer sentir como se já tivéssemos ganhado, mas ainda falta muito para nós chegarmos lá."

A PSafe, a Movile e a Nubank não informaram sua estimativa de valor de mercado quando procuradas pelo Estado.Os empreendedores são unânimes em reconhecer que, independentemente de qual empresa seja o primeiro unicórnio brasileiro, a fama poderia ajudar o Brasil a se projetar no cenário global.

Como símbolos de sucesso, os unicórnios podem inspirar a criação de novas startups no País, além de atrair novos fundos de investimento para olhar empresas locais e colocar essas empresas no radar de gigantes do setor - tanto para novos negócios, como para possíveis aquisições.

"Eu acho que estamos pensando muito pequeno quando planejamos criar empresas de US$ 1 bilhão, enquanto grandes empresas americanas valem US$ 500 bilhões", diz Bloisi, da Movile, que mira o Google como um de seus principais exemplos de sucesso.

"Temos espaço no Brasil para criar muitas empresas com valor de mercado de US$ 10 bilhões."

PSafe investe US$ 20 bi no vale do silícioDepois de trabalhar durante anos na Microsoft, até mesmo em projetos ao lado de Bill Gates, o brasileiro Marco DeMello se juntou a outros dois sócios americanos para criar a empresa de segurança PSafe.

Com um aplicativo gratuito de antivírus para smartphones com sistema operacional Android - o maior alvo dos cibercriminosos - a empresa cresceu rápido e hoje já tem mais de 20 milhões de usuários no mundo.

Atualmente, DeMello lidera uma equipe de apenas 140 pessoas - a menor dentre as candidatas a ser o primeiro unicórnio brasileiro.

Na semana passada, a empresa anunciou que vai fazer um investimento de US$ 20 milhões para abrir uma filial no Vale do Silício, polo de inovação que fica localizado na região da Califórnia, nos Estados Unidos.

A equipe de 10 pessoas no país vai ajudar a empresa a monetizar o aplicativo por lá: atualmente, a PSafe ganha dinheiro ao exibir publicidade dentro do aplicativo.

"Passei a vida inteira no Vale e todos os nossos investidores estão lá", disse DeMello. "Faz muito sentido para nós."

A empresa já faz planos sobre os passos que dará nos próximos anos. Um dos objetivos é, assim que o escritório nos Estados Unidos estiver estabilizado, abrir uma outra filial na Europa.

DeMello projeta que a PSafe vai começar a dar lucro já em 2017, quando a companhia deve registrar um crescimento de 30% a 40% em relação a 2016.

"Nossa receita vai triplicar no ano que vem."Movile quer alcançar 1 bilhão de usuáriosA mais antiga e maior dentre as startups que podem se tornar o primeiro unicórnio brasileiro, a Movile foi criada na cidade de Campinas, no interior de São Paulo.

A empresa tem hoje 1,5 mil funcionários, distribuídos por sete países, incluindo um no Vale do Silício, para onde o presidente executivo, Fabricio Bloisi, insiste em mandar algumas pessoas de sua equipe todo o mês.

"Conseguimos criar uma empresa global", diz o executivo, que vai inaugurar em breve a primeira filial da empresa na Europa.

Menos conhecida do público em geral, a Movile pode ter sua popularidade medida por meio de seus aplicativos - muitas vezes obtidos por meio de aquisições, mas também por meio de desenvolvimento interno.

A empresa é dona do aplicativo de delivery de comida iFood, além do aplicativo de conteúdo para crianças PlayKids e até mesmo de sites que são velhos conhecidos dos brasileiros, como Apontador e Maplink.

A empresa tem a meta de atender mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo até 2020 - para efeito de comparação, o Facebook tem atualmente mais de 1,6 bilhão de usuários.

No total, a empresa atende atualmente 70 milhões de usuários.Com investimentos nas mais variadas tecnologias - de realidade virtual aos robôs de aplicativos de mensagens instantânea -, a Movile ganhou projeção internacional.

"Me considero privilegiado", disse um funcionário da Movile ao jornal "O Estado de S. Paulo". "Porque meu chefe já participou de uma reunião com Mark Zuckerberg. "Nubank agora quer atrair endinheirados.

Visto com uma alternativa mais barata aos cartões de crédito dos grandes bancos, uma vez que não cobra anuidade e permite a gestão por meio de um aplicativo, o cartão roxo do Nubank se tornou uma sensação entre os brasileiros mais descolados.

No total, 5,5 milhões de pessoas já solicitaram o cartão, mas a startup não revela quantos foram efetivamente aprovados.O serviço - que é oferecido apenas mediante convite - tem uma lista de espera de pelo menos 500 mil pessoas de todo o Brasil.

A empresa começou a testar no mês passado um programa de fidelidade, que vai permitir que o consumidor troque pontos acumulados com o cartão por passagens aéreas, reservas em hotéis e mensalidades de serviços como Netflix e Spotify, além de corridas do aplicativo Uber.

A medida faz parte da estratégia da startup para atrair consumidores de renda mais alta, que usam programas que transformam os valores do cartão em milhas para trocar por passagens aéreas.

Segundo a companhia, o programa de fidelidade foi desenhado para atrair pessoas com renda maior que o dobro da média dos clientes atuais.A empresa tem crescido rapidamente.

Em janeiro de 2015, o Nubank tinha uma equipe de apenas 35 pessoas. Hoje, são mais de 360 pessoas. A equipe se mudou no início do ano para ocupar alguns andares de um prédio próprio no bairro de Pinheiros, localizado na zona oeste de São Paulo.

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