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Pré-sal garante oportunidades a pequenas e médias

Empresas que quiserem atuar no setor precisam investir em capacitação e gestão, dizem especialistas

Petrobrás já investiu mais de 28 milhões de reais em projetos de pequenas e médias ligados ao petróleo (Petrobrás/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2010 às 11h02.

São Paulo - Era uma tarde comum de fevereiro e a sergipana Maria Selma Costa seguia sua rotina, vendendo pipoca em uma praça de bairro na cidade de Aracaju, quando foi surpreendida por uma encomenda inusitada: 60 quilos de pipoca de uma única vez, quantidade que normalmente levaria seis meses para vender.

Foi assim que a pipoqueira virou fornecedora da segunda maior companhia de energia do mundo, a Petrobrás, que utiliza sua pipoca no lugar do isopor em simulações para combater vazamentos de óleo.

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Segundo especialistas no setor, o caso de Maria Selma não é uma exceção, mas sim uma amostra das oportunidades que surgirão para pequenos e médios negócios como parte dos investimentos que serão feitos no setor de petróleo e gás, principalmente em função da exploração das reservas descobertas na camada do pré-sal.

Para Eliane Borges, coordenadora nacional da área de Petróleo e Gás do Sebrae, há oportunidades em quase todos os setores da economia. A demanda vai desde serviços especializados – como o fornecimento de tecnologia, componentes e equipamentos específicos para o setor – até serviços gerais, como construção civil, manutenção e até alimentação e papelaria. “Há espaço para qualquer empresa que queria vender para a cadeia”, diz a executiva.

Mas se os pequenos e médios empresários quiserem colocar as mãos em uma fatia dos 224 bilhões de dólares que serão investidos pela Petrobrás  na cadeia até 2014, eles terão primeiro que passar por um forte processo de capacitação. Este é o diagnóstico de Fernando Jefferson, professor da FGV-RJ e membro do comitê gestor da Rede Petro Rio.

“O mercado nacional só está capacitado para suprir 30% da demanda por serviços que será gerada nos próximos anos. Existem milhares de empresas dinamarquesas, norueguesas e tantas outras que têm muito mais experiência no setor e estão prontas para vir aqui competir  com a indústria local”, aponta Jefferson.

Na opinião do executivo, as pequenas e médias precisam investir principalmente em gestão e melhoria de processos para garantir um lugar na cadeia produtiva do petróleo. “É preciso que as empresas criem procedimentos, manuais, invistam em sistema de CRM”, diz. A obtenção de certificações como a ISO 9001, para gestão empresarial, e a ISO 14.000, para gestão ambiental, também são diferenciais importantes na hora de vender produtos e serviços para o setor. “Os fornecedores internacionais já tem essas certificações, portanto se quiser garantir um lugar na cadeia, o brasileiro terá que correr atrás”, diz o especialista.

Apoio de peso

Disposta a fomentar a inserção das pequenas e médias na cadeia produtiva, a própria Petrobrás vem investindo no segmento. Por meio do Fundo Setorial do Petróleo e Gás Natural (CT-Petro), iniciativa da FINEP e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a companhia investiu 12 milhões de reais em projetos voltados ao setor entre 2004 e 2008. Na nova fase do projeto, iniciada em 2008, o investimento foi elevado para 16 milhões de reais.

A Petrobrás mantém ainda um convênio com o Sebrae em 14 estados, com o objetivo de desenvolver fornecedores, fomentar a inovação e garantir o acesso das pequenas empresas ao mercado por meio de rodadas de negócios.

O suporte das pequenas e médias que atuam no segmento ocorre por meio das Redes Petro. São 16 ao todo, estabelecidas em diferentes unidades da federação, além da Rede Petro Brasil, que articula todas as redes locais em um esforço nacional. Ao todo, mais de 800 empresas participam das redes. “Apostamos no modelo de arranjos produtivos para fortalecer as empresas. A pequena sozinha não é nada, ainda mais numa cadeia gigante”, destaca Eliane.

Um exemplo dos resultados destes esforços foi a rodada nacional de negócios realizada durante a Rio Oil & Gas 2010, em setembro, que gerou 138 milhões de reais em oportunidades de negócios para cerca de 230 pequenas e médias junto a 27 empresas âncora do setor, incluindo nomes como a própria Petrobrás, BR Distribuidora e Camargo Corrêa.


Tecnologia incubada

As oportunidades de apoio para ingressar no setor não param por aí. As incubadoras tecnológicas, estabelecidas junto a universidades, também dão suporte a empresas interessadas no segmento, especialmente àquelas focadas em pesquisa.

É o caso da COPPE/UFRJ, que recentemente abriu nove vagas para empresas que querem atuar no setor e deve inaugurar um prédio dedicado somente às incubadas de petróleo e gás no segundo semestre do próximo ano. “O empresário que vem para cá é um pesquisador. Oferecemos um conjunto de assessorias em negócios para ajudá-lo a virar um empresário”, explica Lucimar Dantas, gerente de operações da incubadora.

A Aquamet, incubada desde 2008, já começa a colher os frutos deste trabalho. A empresa, que presta serviços de monitoramento ambiental, recebeu quase meio milhão de reais em investimentos da FAPERJ e da FINEP para aprimorar seus produtos, entre eles soluções voltadas especificamente ao setor de petróleo e gás. A empresa pretende faturar 1 milhão de reais no próximo ano, com uma importante colaboração do segmento. “Estamos esperando um grande boom com a exploração do pré-sal”, destaca Fábio Hochleitner, doutorando em Meteorologia na UFRJ e sócio-diretor da empresa.

A tecnologia desenvolvida pela empresa permite monitorar dados ambientais por meio de sensores como estações metrológicas, bóias e satélite, analisar esses dados por meio de modelos computacionais e matemáticos e produzir simulações que são enviadas em tempo real aos profissionais de campo por meio de dispositivos móveis, como celulares e notebooks. “A localização das reservas descobertas é muito distante da costa, então o monitoramento é essencial. As informações tem que estar nas mãos dos técnicos”, destaca.

Os sistemas da Aquamet já foram testados em projetos piloto e a empresa está em fase final de negociação com a Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap). “Também estamos conversando com potenciais clientes como a Petrobrás e a Marinha”, conta Hochleitner.

Recursos

Os interessados em explorar as oportunidades oferecidas pelo pré-sal podem se cadastrar no Portal de Oportunidades da Cadeia de Suprimentos de Petróleo e Gás , mantido pela Onip (Organização Nacional da Indústria do Petróleo). Lá estão mapeadas as demandas em cada nível da cadeia produtiva.

Os sites do Sebrae e da Rede Petro Brasil também trazem informações sobre iniciativas de capacitação, rodadas de negócios e outras oportunidades para ingressar no setor.

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