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Pequenos negócios inovam no chocolate, do manjericão à pitanga

Pequenos negócios utilizam especiarias amazônicas e receitas diferenciadas, como as veganas, para inovar no chocolate

A empresária Renata Arassiro posa para a foto em sua loja e em sua cozinha, no bairro do Campo Belo, em São Paulo: empreendedora produz chocolates FIT, com frutos amazônicos e também tem uma linha vegana de produtos (Flávio Florido/Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Mariana Fonseca

Publicado em 20 de abril de 2019 às 08h00.

Última atualização em 20 de abril de 2019 às 08h00.

Dizem que um pedaço de chocolate pode salvar o dia de uma pessoa. Até mesmo quem não é muito fã do doce por vezes se sente atraído pelo seu sabor, talvez como uma forma de recompensa prazerosa aos seus esforços rotineiros. O anseio pelo produto no Brasil coloca o país em terceiro lugar na lista dos maiores consumidores do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha.

De acordo com a agência de pesquisas Euromonitor, são consumidos por aqui cerca de 2,8 quilos de chocolate por pessoa todos os anos. Há quem resista pensando na saúde, ou até mesmo esteja cansado de “mais do mesmo” – mas é aí que os pequenos negócios brasileiros usam a criatividade para dar luz a uma nova forma de produzir o chocolate.

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Renata Arassiro trabalha há 20 anos com chocolates e tem uma loja própria há dez. De início sua produção era tradicional, mas seu gosto pelo caju a fez criar uma linha de produtos há 15 anos com frutos brasileiros, especialmente amazônicos. A recepção do público foi bastante positiva, tanto que atualmente suas vendas de produtos especiais representam 80% do faturamento.

“Lá fora é comum encontrar chocolates com especiarias e frutas típicas brasileiras, mas aqui as pessoas ainda não conhecem como deveriam”, comenta Renata, que é embaixadora da grife suíça de chocolates Barry Callebaut no Brasil desde 2005.

Em sua loja, Renata Arassiro Chocolates, a empreendedora oferece produtos com especiarias amazônicas como cumaru, priprioca, iquiriba, puxuri, amburana, pimenta-de-macaco, além de frutos nacionais como cupuaçu, cajá, uvaia e pitanga. É possível encontrar ainda bombons de limão siciliano, laranja com baunilha, manjericão e capim santo, entre outros.

“Quando se conhece a técnica é possível fazer tudo, basta deixar a criatividade fluir”, explica. Com a proximidade da Páscoa , o mercado de chocolates costuma ficar ainda mais agitado. Este ano, o chamado “quarto tipo de chocolate” deverá ganhar ainda mais espaço no país: o chocolate rubi. De coloração rosa, a iguaria não possui corantes ou aromatizantes. Sua cor vem da própria semente do cacau rubi, trazendo um leve sabor de frutas vermelhas.

“Depois do chocolate amargo, do leite e do branco, agora é a vez do rubi. Essa novidade atrelada às especiarias brasileiras tem tudo para dar certo”, comenta Renata.

Para a analista do Sebrae-SP Ana Claudia Mariano, as empresas precisam ter a inovação como um dos pilares dentro da gestão do negócio. Uma empresa que fica muito tempo atuando da mesma maneira, ainda que com razoável sucesso, pode se tornar ultrapassada. “O ideal é o empresário se perguntar sempre onde pode mudar para melhorar, pesquisar o mercado nacional e estrangeiro, se manter atualizado e se preparar em termos de gestão e planejamento”, diz.

A especialista ainda explica que simplesmente imitar a concorrência quase nunca dá certo. “É preciso ter a ideia e lapidá-la para ver se é coerente com o seu tipo de negócio, daí mensurar os resultados.”

Mercado saudável

Segundo a Euromonitor, até o ano de 2021, esse mercado deve crescer no Brasil, em média, 4,41% ao ano. Apenas em 2016, o setor de alimentos e bebidas saudáveis movimentou R$ 93,6 bilhões em vendas, colocando o país na quinta posição entre os mais importantes do segmento. Essa crescente onda também chegou ao chocolate oferecendo linhas sem glúten, zero lactose, vegana e até mesmo sem leite, sem soja, sem ovo e, claro, sem açúcar.

Suzana Giupponi trabalha diariamente com essas linhas de produtos. Juntamente com a mãe, Virgínia, Suzana é proprietária da Bolos – Sabor da Fazenda, localizada na zona leste da capital paulista, que, além do produto principal que dá nome à empresa, produz também bombons de brownie e pães de mel especiais – sucesso na época de Páscoa.

“As pessoas vinham fazer encomendas de produtos regulares e pediam os diferentes por conta de suas restrições. Passamos a produzi-los e, em pouco tempo, nossas vendas ultrapassaram o balcão indo para diversos pontos de venda na região”, comemora Suzana.

O cuidado com a linha saudável é muito grande. Para a produção dos produtos sem glúten para celíacos, por exemplo, mãe e filha têm outra cozinha exclusiva. Toda essa dedicação está dando certo, já que atualmente 70% do faturamento da empresa vem das linhas saudáveis, fato que motiva as empreendedoras a incrementarem ainda mais a produção.

“Estamos testando receitas de cookies saudáveis que provavelmente serão implementadas este ano”, diz. O consultor do Sebrae-SP Leandro Reale Perez explica que para uma empresa trabalhar com um nicho como esse é preciso entender muito bem as necessidades dos clientes, além de ter a preocupação com a aparência, textura e sabor dos produtos.

“Não costuma dar certo de uma hora para outra. Há um tempo para acertar a receita, testar com familiares e amigos para depois ir ao mercado analisar a aceitação”, explica. No caso dos produtos para celíacos, por exemplo, a cozinha exclusiva demanda investimento dobrado, o que gera uma maior necessidade de planejamento e estudo do público.

“Mercado existe, mas tem de ser encontrado. A internet, por exemplo, é um dos mais fáceis pontos de encontro para mercados de nicho.”

Leandro Reale Perez, consultor do Sebrae-SP, dá três orientações básicas para quem quer inovar apostando em produtos de nicho:

Preparação – Os empreendedores precisam se preparar em termos de receita e produção para analisar se têm de fato tal competência, além de procurar fornecedores adequados e mercado disponível, que pode não estar em uma região específica. A logística, nesse caso, pode prejudicar a margem de lucro.

Distribuição – Haverá uma loja física? A empresa vai investir em e-commerce? Pretende trabalhar com com delivery? O ponto é o ideal? Essas são perguntas básicas que todo empreendedor precisa fazer.

Planejamento – Uma vez definidos os pontos anteriores, o empreendedor deve elaborar um plano de marketing e sua divulgação. A imagem dos produtos precisa ser pensada com cuidado, lembrando sempre que as pessoas comem com os olhos.

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