Contando dólares (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2012 às 06h00.
São Paulo – Tiger, Accel, Monashees, IG Expansion. Os novos empreendedores digitais provavelmente já ouviram um desses nomes. Todos são fundos de investimento focados em startups, especialmente as de internet, que ganham mais nome a cada dia, com novos investimentos constantes.
Mais do que capital, estes fundos trazem conhecimento para as empresas. “Além de possibilitar que eu trabalhesse na empresa full-time, o investimento trouxe uma reputação, um nome para a startup”, define Eduardo L’Hotelier, empreendedor e sócio do GetNinjas, que recebeu aportes da Monashees Capital e da Kaszek Ventures.
Dinheiro e conhecimento
A orientação geral dos especialistas é que nenhuma empresa deve receber um investidor pensando só no capital. O mais importante é usufruir da tal reputação do fundo e dos contatos que ele pode trazer. “A decisão de ter um investidor não é trivial. É um casamento de estratégias”, opina Marcio de Oliveira Santos Filho, associado da Inseed Investimentos e coordenador do Desafio Brasil.
Como na maioria dos relacionamentos, os altos e baixos são comuns. “Uma coisa é um negócio com um sócio ou dois. Outra coisa é ter um investidor que não acompanha o dia a dia. Precisa mantê-lo informado e usufruir o que ele pode contribuir para o negócio. Conforme o tipo de investimento, o nível de exigência aumenta”, diz Cassio Spina, investidor-anjo e presidente da Anjos do Brasil.
Por isso, a primeira grande mudança que a chegada de um investidor provoca é a mudança na rotina. “A gente recebeu investimento de um grande grupo americano e a nossa vida mudou”, conta Olivier Grinda, fundador e CEO da Shoes4you, empresa de venda de sapatos por assinaturas que recebeu investimentos da Redpoint Ventures.
“O investimento faz com que mude a postura de prestação de contas e de indicadores da empresa”, explica Filho.
Profissionalização
Receber um aporte antes de colocar a empresa em operação não é uma prática comum, mas pode acontecer. É o caso da Shoes4You. Grinda já tinha uma experiência como empreendedor – ele participou da criação do BrandsClub e do ClickOn – e conhecia pessoalmente as pessoas envolvidas nos fundo. “Somos pioneiros no Brasil e isso deu potencial para levantar dinheiro cedo”, complementa.
Os fundos costumam exigir que as startups se tornem uma sociedade anônima e implantam um conselho, que se reúne no mínimo uma vez por mês. “Em startups, é comum que a interação seja semanal. Ela vai ter que obedecer a uma série de premissas que vão fazer a governança corporativa dar uma alavancada. A partir do momento que recebe recurso, não tem mais manobra contábil”, diz Filho.
Conselho decisivo
Apesar da liberdade, os empreendedores passam a ter que submeter a maior parte das decisões ao conselho. Um novo aporte, por exemplo, como aconteceu como o GetNinjas, precisa ser aprovado pelo fundo que chegou antes. “Toda decisão importante, como essa de trazer um novo sócio, precisa de votação do conselho. Mas é do nosso interesse levar outras questões porque a gente não está pensando sozinho”, afirma L’Hotelier.
Segundo ele, a aprovação veio porque este novo aporte traria o tão buscado smart money, capital mais conhecimento muito útil para a empresa. “Trouxe smart money e capital para acelerar ainda mais a contratação e ter um colchão maior de reservas”, conta.
As decisões que vão para conselho dependem de cada caso. “Geralmente, o fundo exige indicar a cadeira de CFO ou mesmo de CEO, tem poder de veto e direitos de saída quando o negócio não vai como esperado”, explica Filho.
Pronto para o pitaco
É neste momento que, se o empreendedor não prova sua capacidade de fazer o negócio render, o fundo pode pedir para sair. “No momento de saída, ele vai querer resultados sempre dentro do prazo e quando vai chegando perto ele vai determinar se precisa vender a empresa, por exemplo”, diz Spina.
Estar pronto para aceitar uma perda de autoridade e controle sobre o negócio faz parte do jogo. “O fundo agrega muito, mas o empreendedor vai ter que aceitar pitaco na gestão dele”, explica Filho.
Para a OQVestir, o investimento veio em duas rodadas do fundo Tiger. “A startup deixa de ser sonho e passa a ser realidade. Você consegue montar uma equipe e ter um planejamento mais completo”, conta Isabel Humberg, sócia e diretora comercial da empresa. Com dinheiro e conhecimento, vem também a pressão. “A coisa vai ser tornando mais séria e exige-se até auditorias”, diz Spina.
Isabel conta que hoje tem a chance de conversar com conselheiros experientes, como executivos que já passaram por negócios importantes como Netshoes e Submarino. “Isso faz a diferença. O aprendizado que vem é o mais importante. Você tem espaço para gerenciar como acredita ser melhor, mas eles querem ver planilhas, números e resultados”, define.
A visão romântica de investidor como companheiro e colega precisa ser revista. O fundo é um sócio e quer sua parte do bolo também. “À medida que vai evoluindo e não cumpre o planejado, o fundo chama para conversar e vai tentar reduzir custos para não perder dinheiro. De 100 empresas investidas, o fundo sabe que só cinco vão dar um excelente retorno”, diz Filho.