O jeito certo de pedir dinheiro
Cinco aspectos com que os empreendedores têm de se preocupar antes de pedir um empréstimo no banco
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2015 às 06h00.
São Paulo - Nos últimos meses, a taxa Selic , usada como referência para o cálculo dos juros bancários, tem subido com frequência — apenas de dezembro de 2014 a janeiro deste ano, houve um aumento de 11,25% para 12,25% ao ano. A inadimplência também tem crescido. Em 2010, 2,87% das empresas tinham dívidas — em 2014 já eram quase 3,5%.
O dinheiro mais caro, devido ao aumento dos juros , e a inadimplência em alta fazem os bancos ficarem mais cautelosos ao estudar a concessão de empréstimos. “Em cenários financeiros como o atual, os bancos acreditam que o risco de o empreendedor não cumprir o prazo estabelecido ou simplesmente não pagar a dívida é maior”, diz Ede Viani, diretor de pequenas e médias empresas do banco Santander.
Mas há maneiras de demonstrar ao gerente do banco que a empresa tem perspectivas concretas de fazer jus ao empréstimo e tentar conseguir juros menores. Veja a seguir o que pequenas e médias empresas podem fazer para tentar conseguir juros menores e prazos mais longos de pagamento.
Valor
A empresa precisa de recursos para pagar rescisões trabalhistas de funcionários que serão demitidos, mas esqueceu de incluir na conta o proporcional de férias e o 13o? Erros como esse não passam despercebidos pelo gerente do banco, treinado para checar e rechecar os dados apresentados por quem pede empréstimos.
O banco vai conferir as planilhas apresentadas pelo empreendedor e, ao perceber algum erro importante, pode simplesmente optar por negar o empréstimo. “O banco poderá concluir que a empresa não tem uma gestão muito sólida, algo que, na visão da instituição bancária, aumenta os riscos de não receber o pagamento no prazo combinado”, afirma Marcelo Aleixo, superintendente executivo do HSBC no Brasil.
O que fazer: Os cálculos dos valores pedidos para o empréstimo devem ser detalhados e, se for o caso, ter como base uma cuidadosa pesquisa de preços. Caso o empreendedor pretenda comprar uma nova máquina, por exemplo, é preciso fazer uma pesquisa cuidadosa de preço entre os principais fornecedores e escolher uma que atenda às necessidades da empresa e tenha um valor em conta.
Pode ser conveniente mostrar ao gerente do banco uma planilha com os principais equipamentos pesquisados. “Atitudes como essa tendem a aumentar a confiança da instituição bancária em relação ao empreendedor, o que só traz consequências positivas”, afirma Aleixo.
O que acontece se... o dono do negócio tiver dificuldade em calcular com exatidão de quanto dinheiro precisa?
Caso a intenção seja fazer uma reforma, por exemplo, o empreendedor pode convidar o gerente do banco para visitar a empresa, mostrar o que precisa ser melhorado e apresentar diferentes orçamentos de reforma. Juntos, eles podem decidir o valor do empréstimo que o empreendedor deve solicitar à instituição bancária. “Isso vale para qualquer outra necessidade de obtenção de dinheiro, como abrir mais lojas ou contratar pessoal”, afirma Aleixo.
Objetivo
É preciso deixar claro para qual finalidade o capital será utilizado. O empreendedor pode precisar de recursos para operações como expandir o negócio, comprar mais máquinas, lançar franquias. Ao estudar as necessidades específicas da empresa, o banco em geral tem mais facilidade em analisar quais linhas de crédito podem ser mais convenientes para o empreendedor, assim como os prazos de pagamento.
O que fazer: Qualquer que seja o objetivo da empresa ao solicitar o empréstimo, é preciso especificá-lo ao máximo. “Em vez de o empreendedor dizer apenas que ele pretender aumentar a capacidade produtiva, por exemplo, é melhor que ele diga que quer comprar novas máquinas, que máquinas são essas e que benefícios específicos essa aquisição vai trazer para a empresa”, diz Rogério Braga, diretor da área de empresas do Itaú Unibanco. “Se ele chegar no banco com uma necessidade muito genérica, há risco de o empréstimo nem ser aceito.”
O que acontece se... o empreendedor precisar de dinheiro apenas para uma necessidade muito pontual?
Quando aumenta a inadimplência, como vem acontecendo, não é raro que clientes comecem a atrasar os pagamentos, o que pode afetar o fluxo de caixa. “Nesses casos, alguns empreendedores recorrem a empréstimos pontuais para resolver problemas emergenciais”, diz Leonardo Toscano, sócio da consultoria Excelia.
Para que o banco concorde em emprestar dinheiro em situações como essa, é importante mostrar que o caixa será ajustado logo — se a empresa tiver assinado um contrato com novos clientes, por exemplo, é fundamental apresentar o documento.
Provas
O banco precisa ter o maior número possível de indicadores de que o empreendedor não atrasará o pagamento. Por isso, é importante apresentar documentos que comprovem que a empresa terá receitas futuras — para o banco, isso serve como uma espécie de garantia de que a dívida será paga, já que a empresa deverá crescer.
O que fazer: É importante levar documentos para a mesa de negociação, como o planejamento estratégico de médio e longo prazo — deve ser incluída a projeção de aumento de faturamento e como a empresa pretende buscar novas fontes de receita.
O empreendedor também deve apresentar a declaração de faturamento da companhia e do patrimônio dos sócios, além de uma lista completa com os nomes e os contatos dos principais clientes. “Todas essas informações servem para provar que o negócio é bem estruturado e tem possibilidades reais de expansão”, diz Leonardo Toscano, sócio da Excelia, consultoria especializada em pequenas e médias empresas.
“Para as instituições bancárias, quanto mais a empresa demonstrar que deverá crescer, maiores serão as possibilidades de o empreendedor honrar o empréstimo no prazo acertado.”
O que acontece se... houver algum erro em algum demonstrativo essencial, como o da rentabilidade?
As instituições em geral têm dados como rentabilidade e faturamento médio de empresas de porte parecido e do mesmo mercado. “Por isso, se algum número salta aos olhos por ser muito diferente daquele de negócios semelhantes atendidos pela instituição financeira, o gerente vai desconfiar”, diz Toscano.
Garantias
Na maior parte das vezes, não basta só apresentar uma papelada que confirme as perspectivas de crescimento da empresa ou detalhar de que forma o empréstimo obtido será utilizado. O empreendedor também precisa oferecer ao banco algumas garantias para que o crédito seja liberado.
O que fazer: Podem ser apresentados documentos de imóveis, automóveis, aplicações financeiras. No caso dos imóveis da empresa, é preferível que eles estejam desocupados — assim, fica mais fácil vendê-los mais rapidamente caso seja necessário. Os especialistas recomendam, no entanto, que as garantias não sejam oferecidas ao banco logo de imediato, no primeiro contato com o gerente.
“Na visão do banco, pode parecer que o empreendedor não acredita que conseguirá gerar bons resultados no curto e no médio prazo”, diz Toscano. “As garantias devem ser mostradas apenas se o banco pedir.”
O que acontece se... a empresa não tiver garantias para oferecer?
Nesse caso, convém estar preparado para receber apenas uma parte do total de recursos solicitados ao banco — ou ter de pagar taxas de juro pouco convenientes. “O gerente bancário pode entender que o empreendedor poderá ficar inadimplente caso a empresa passe por apertos financeiros”, diz Toscano.
Visita
Alguns gerentes de banco têm o costume de visitar a sede de empresas de pequeno e médio porte antes de conceder um empréstimo. Outros só visitam empresas que faturam acima de 1 milhão de reais por ano — e pedem aos donos das empresas menores para irem até uma agência bancária com os documentos embaixo do braço.
O motivo da visita é verificar se a empresa existe mesmo, se tem realmente funcionário, se atua de fato no setor informado e se possui boas condições físicas. Na ocasião, o gerente entrevista o empreendedor durante pelo menos 1 hora e costuma pedir algumas informações extras sobre o negócio, por exemplo, a respeito do giro de estoque.
O que fazer: É preciso estar preparado para responder como a empresa compra, vende, estoca, faz gestão de pessoas, define a política de preços, quando recebe e quando paga. Para isso, é importante ter todas essas informações na ponta da língua.
O que acontece se... a empresa estiver suja ou bagunçada no dia da entrevista?
“Nada disso tem problema se o empreendedor tiver uma boa explicação”, diz Luiz Henrique Camarotti, superintendente executivo do Bradesco responsável pelas micro, pequenas e médias empresas. Deixar de explicar situações fora do comum pode ser um erro.
“Se a empresa tem funcionários que trabalham de casa e, por isso, há pouca gente na sede, é importante que o dono deixe isso claro e explique o motivo de manter empregados trabalhando a distância”, diz Camarotti. “Pode ser para manter os custos mais baixos ou para dar mais liberdade aos empregados.”
São Paulo - Nos últimos meses, a taxa Selic , usada como referência para o cálculo dos juros bancários, tem subido com frequência — apenas de dezembro de 2014 a janeiro deste ano, houve um aumento de 11,25% para 12,25% ao ano. A inadimplência também tem crescido. Em 2010, 2,87% das empresas tinham dívidas — em 2014 já eram quase 3,5%.
O dinheiro mais caro, devido ao aumento dos juros , e a inadimplência em alta fazem os bancos ficarem mais cautelosos ao estudar a concessão de empréstimos. “Em cenários financeiros como o atual, os bancos acreditam que o risco de o empreendedor não cumprir o prazo estabelecido ou simplesmente não pagar a dívida é maior”, diz Ede Viani, diretor de pequenas e médias empresas do banco Santander.
Mas há maneiras de demonstrar ao gerente do banco que a empresa tem perspectivas concretas de fazer jus ao empréstimo e tentar conseguir juros menores. Veja a seguir o que pequenas e médias empresas podem fazer para tentar conseguir juros menores e prazos mais longos de pagamento.
Valor
A empresa precisa de recursos para pagar rescisões trabalhistas de funcionários que serão demitidos, mas esqueceu de incluir na conta o proporcional de férias e o 13o? Erros como esse não passam despercebidos pelo gerente do banco, treinado para checar e rechecar os dados apresentados por quem pede empréstimos.
O banco vai conferir as planilhas apresentadas pelo empreendedor e, ao perceber algum erro importante, pode simplesmente optar por negar o empréstimo. “O banco poderá concluir que a empresa não tem uma gestão muito sólida, algo que, na visão da instituição bancária, aumenta os riscos de não receber o pagamento no prazo combinado”, afirma Marcelo Aleixo, superintendente executivo do HSBC no Brasil.
O que fazer: Os cálculos dos valores pedidos para o empréstimo devem ser detalhados e, se for o caso, ter como base uma cuidadosa pesquisa de preços. Caso o empreendedor pretenda comprar uma nova máquina, por exemplo, é preciso fazer uma pesquisa cuidadosa de preço entre os principais fornecedores e escolher uma que atenda às necessidades da empresa e tenha um valor em conta.
Pode ser conveniente mostrar ao gerente do banco uma planilha com os principais equipamentos pesquisados. “Atitudes como essa tendem a aumentar a confiança da instituição bancária em relação ao empreendedor, o que só traz consequências positivas”, afirma Aleixo.
O que acontece se... o dono do negócio tiver dificuldade em calcular com exatidão de quanto dinheiro precisa?
Caso a intenção seja fazer uma reforma, por exemplo, o empreendedor pode convidar o gerente do banco para visitar a empresa, mostrar o que precisa ser melhorado e apresentar diferentes orçamentos de reforma. Juntos, eles podem decidir o valor do empréstimo que o empreendedor deve solicitar à instituição bancária. “Isso vale para qualquer outra necessidade de obtenção de dinheiro, como abrir mais lojas ou contratar pessoal”, afirma Aleixo.
Objetivo
É preciso deixar claro para qual finalidade o capital será utilizado. O empreendedor pode precisar de recursos para operações como expandir o negócio, comprar mais máquinas, lançar franquias. Ao estudar as necessidades específicas da empresa, o banco em geral tem mais facilidade em analisar quais linhas de crédito podem ser mais convenientes para o empreendedor, assim como os prazos de pagamento.
O que fazer: Qualquer que seja o objetivo da empresa ao solicitar o empréstimo, é preciso especificá-lo ao máximo. “Em vez de o empreendedor dizer apenas que ele pretender aumentar a capacidade produtiva, por exemplo, é melhor que ele diga que quer comprar novas máquinas, que máquinas são essas e que benefícios específicos essa aquisição vai trazer para a empresa”, diz Rogério Braga, diretor da área de empresas do Itaú Unibanco. “Se ele chegar no banco com uma necessidade muito genérica, há risco de o empréstimo nem ser aceito.”
O que acontece se... o empreendedor precisar de dinheiro apenas para uma necessidade muito pontual?
Quando aumenta a inadimplência, como vem acontecendo, não é raro que clientes comecem a atrasar os pagamentos, o que pode afetar o fluxo de caixa. “Nesses casos, alguns empreendedores recorrem a empréstimos pontuais para resolver problemas emergenciais”, diz Leonardo Toscano, sócio da consultoria Excelia.
Para que o banco concorde em emprestar dinheiro em situações como essa, é importante mostrar que o caixa será ajustado logo — se a empresa tiver assinado um contrato com novos clientes, por exemplo, é fundamental apresentar o documento.
Provas
O banco precisa ter o maior número possível de indicadores de que o empreendedor não atrasará o pagamento. Por isso, é importante apresentar documentos que comprovem que a empresa terá receitas futuras — para o banco, isso serve como uma espécie de garantia de que a dívida será paga, já que a empresa deverá crescer.
O que fazer: É importante levar documentos para a mesa de negociação, como o planejamento estratégico de médio e longo prazo — deve ser incluída a projeção de aumento de faturamento e como a empresa pretende buscar novas fontes de receita.
O empreendedor também deve apresentar a declaração de faturamento da companhia e do patrimônio dos sócios, além de uma lista completa com os nomes e os contatos dos principais clientes. “Todas essas informações servem para provar que o negócio é bem estruturado e tem possibilidades reais de expansão”, diz Leonardo Toscano, sócio da Excelia, consultoria especializada em pequenas e médias empresas.
“Para as instituições bancárias, quanto mais a empresa demonstrar que deverá crescer, maiores serão as possibilidades de o empreendedor honrar o empréstimo no prazo acertado.”
O que acontece se... houver algum erro em algum demonstrativo essencial, como o da rentabilidade?
As instituições em geral têm dados como rentabilidade e faturamento médio de empresas de porte parecido e do mesmo mercado. “Por isso, se algum número salta aos olhos por ser muito diferente daquele de negócios semelhantes atendidos pela instituição financeira, o gerente vai desconfiar”, diz Toscano.
Garantias
Na maior parte das vezes, não basta só apresentar uma papelada que confirme as perspectivas de crescimento da empresa ou detalhar de que forma o empréstimo obtido será utilizado. O empreendedor também precisa oferecer ao banco algumas garantias para que o crédito seja liberado.
O que fazer: Podem ser apresentados documentos de imóveis, automóveis, aplicações financeiras. No caso dos imóveis da empresa, é preferível que eles estejam desocupados — assim, fica mais fácil vendê-los mais rapidamente caso seja necessário. Os especialistas recomendam, no entanto, que as garantias não sejam oferecidas ao banco logo de imediato, no primeiro contato com o gerente.
“Na visão do banco, pode parecer que o empreendedor não acredita que conseguirá gerar bons resultados no curto e no médio prazo”, diz Toscano. “As garantias devem ser mostradas apenas se o banco pedir.”
O que acontece se... a empresa não tiver garantias para oferecer?
Nesse caso, convém estar preparado para receber apenas uma parte do total de recursos solicitados ao banco — ou ter de pagar taxas de juro pouco convenientes. “O gerente bancário pode entender que o empreendedor poderá ficar inadimplente caso a empresa passe por apertos financeiros”, diz Toscano.
Visita
Alguns gerentes de banco têm o costume de visitar a sede de empresas de pequeno e médio porte antes de conceder um empréstimo. Outros só visitam empresas que faturam acima de 1 milhão de reais por ano — e pedem aos donos das empresas menores para irem até uma agência bancária com os documentos embaixo do braço.
O motivo da visita é verificar se a empresa existe mesmo, se tem realmente funcionário, se atua de fato no setor informado e se possui boas condições físicas. Na ocasião, o gerente entrevista o empreendedor durante pelo menos 1 hora e costuma pedir algumas informações extras sobre o negócio, por exemplo, a respeito do giro de estoque.
O que fazer: É preciso estar preparado para responder como a empresa compra, vende, estoca, faz gestão de pessoas, define a política de preços, quando recebe e quando paga. Para isso, é importante ter todas essas informações na ponta da língua.
O que acontece se... a empresa estiver suja ou bagunçada no dia da entrevista?
“Nada disso tem problema se o empreendedor tiver uma boa explicação”, diz Luiz Henrique Camarotti, superintendente executivo do Bradesco responsável pelas micro, pequenas e médias empresas. Deixar de explicar situações fora do comum pode ser um erro.
“Se a empresa tem funcionários que trabalham de casa e, por isso, há pouca gente na sede, é importante que o dono deixe isso claro e explique o motivo de manter empregados trabalhando a distância”, diz Camarotti. “Pode ser para manter os custos mais baixos ou para dar mais liberdade aos empregados.”