Cartão Nubank: empresa é exceção entre as fintechs brasileiras (Nubank/Divulgação)
Reuters
Publicado em 12 de novembro de 2018 às 08h25.
São Paulo - Apesar da forte expansão dos últimos anos, a grande maioria das fintechs brasileiras ainda está longe, muito longe, da realidade de grifes mais famosas do setor, como Nubank e GuiaBolso.
Segundo um estudo feito pela Visa com mais de 230 dessas plataformas de serviços financeiros criadas no país, apenas uma de cada cinco recebeu investimentos do tipo anjo ou de venture capital desde sua fundação.
E mesmo dentre as que captaram recursos de investidores, mais da metade - 55,4 por cento - captaram até 500 mil reais cada. Só 10,6 por cento das pesquisadas receberam mais de 2 milhões de reais.
O levantamento, feito com startups que se inscreveram num programa de aceleração da Visa, joga luz sobre um segmento que tem ganhado crescente atenção de potenciais rivais, como bancos e empresas de meios de pagamentos, quanto de reguladores e investidores dentro e fora do Brasil.
O próprio Banco Central, que tem estimulado a atividade no setor dentro de sua campanha para aumentar a concorrência no sistema financeiro e assim derrubar tarifas e taxas de juros cobradas de clientes, publicou neste ano que já há mais de 400 delas em atuação no mercado brasileiro.
Mas a maioria esmagadora do setor ainda tem números de receita bastante tímidos, o que limita a atração de recursos de maior monta. Segundo o estudo, o faturamento de 78 das fintechs pesquisadas foi de menos de 500 mil reais nos últimos 12 meses. Só 16,6 por cento delas superou a faixa de 1 milhão de reais.
"Os dados mostram a importância de se criar oportunidades para o desenvolvimento de novos negócios com esses empreendedores", disse o vice-presidente de produtos, soluções e inovação da Visa do Brasil,Percival Jatobá.
Outra revelação do levantamento é a concentração geográfica das fintechs, com 55 por cento delas no Estado de São Paulo. A capital paulista abriga a maioria dos projetos mais importantes de estímulo e aceleração de startups, como o Cubo, do Itaú Unibanco.
O próprio centro de aceleração da Visa ocupa um espaço do Habitat, um centro para estímulo à inovação e aceleração de startups do Bradesco.
Os números mostram a enorme distância entre a realidade da maioria de fintechs brasileiras do sonho de seus empreendedores, o de se tornar um unicórnio; jargão do mercado para identificar empresas nascentes de tecnologia que superaram a marca de 1 bilhão de dólares em valor de mercado.
Segundo dados da consultoria CB Insights, havia mais de 260 startups no mundo inteiro dentro desse grupo, com apenas uma delas com sede no Brasil, a plataforma de cartões de crédito e contas de pagamentos Nubank, avaliada em 4 bilhões de dólares.
Segundo Jatobá, porém, o tamanho do mercado brasileiro é visto como uma oportunidade para grandes investidores e empresas, especialmente as ligadas ao setor financeiro.
É o caso da própria Visa, cujo programa de aceleração no ano passado, funciona em parte como uma espécie de radar para identificar bons projetos de inovação no seu setor principal de meios eletrônicos de pagamento, que está passando por fortes transformações no mundo todo.
"Casos que identificamos como de bom potencial podem ser tanto uma boa oportunidade de investimento para a própria Visa ou terem soluções que podemos apresentar a nossos clientes", disse o executivo.
As startups selecionadas pelo programa participam de um processo de quatro meses de aceleração e incubação, incluindo no Vale do Silício. Das que se cadastraram, 28 delas já participaram desse processo.
Segundo especialistas, o cenário para entrada de mais capital estrangeiro no setor pode ganhar fôlego após o governo ter dispensado no mês passado as fintechs de aval presidencial específico para operarem se tiverem todo o capital de fora do país, desde que tenham autorização do Banco Central.