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Surgem oportunidades para empreendedores no setor de ensino

Hoje, 96% dos jovens estão estudando — no fim dos anos 90, eram 89%. São eles que aquecem a demanda por produtos e serviços no setor

Vicente Rodrigues e Luiz França Leite, fundadores da Favip (Lusco)

Vicente Rodrigues e Luiz França Leite, fundadores da Favip (Lusco)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2012 às 06h00.

São Paulo - Até a década de 90, Caruaru, em Pernambuco, era uma cidade de pouco mais de 200.000 habitantes, mais conhecida pela Feira de Caruaru — uma faixa de cerca de 2 quilômetros de barracas onde se vende de tudo a céu aberto às quartas e aos sábados. A feira existe até hoje.

Nela é possível comprar desde frutas e legumes até móveis para a casa e aparelhos eletrônicos importados, tudo ao som de bandas locais que se misturam à freguesia. Só existiam duas instituições de ensino superior, que ofereciam cinco cursos: direito, odontologia, letras, história e filosofia. Quem quisesse seguir qualquer outra carreira na vida — e tivesse condições de morar fora ou viajar todos os dias para estudar — tinha de prestar vestibular na capital, Recife, a 140 quilômetros de distância, ou em outros estados. 

Atualmente, Caruaru, com mais de 315.000 habitantes, conta com dezenas de instituições de ensino superior. Uma das que mais cresceram nos últimos anos foi a Faculdade do Vale do Ipojuca (Favip), fundada em 2001 pelo baiano Vicente Jorge Rodrigues, de 57 anos, e o pernambucano Luiz de França Leite, de 62. Eles já eram sócios num grupo de empresas de rádio e emissora de TV da região desde 1991. "Hoje, a Favip é a maior empresa do grupo", diz Rodrigues. "Temos mais de 6.000 alunos." A previsão de faturamento para este ano é de 40 milhões de reais — 21% mais que no ano passado.

A última década foi muito importante para empresas do setor de ensino.  Os dados mais recentes do IBGE mostram que 33 milhões de jovens — mais de 96% da população de 5 a 14 anos — estão matriculados em alguma escola. No final dos anos 90, eles eram 89%. 

Mais gente está na escola — e quem está na escola parece estar estudando mais. Segundo o último levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cada brasileiro com mais de 15 anos estuda, em média, durante 7,5 anos. Não é assim nenhuma maravilha. Mas é significativo quando se constata que esse número é quase 20% maior do que há cerca de dez anos. 

Para aqueles empreendedores que atuam­ ou querem atuar no setor — com instituições de ensino ou fornecendo produtos e serviços para elas —, o que interessa mesmo é onde isso tudo vai dar se as coisas continuarem a andar no mesmo ritmo.


"Nesse caso, nos próximos 20 anos o Brasil poderá até atingir o nível de escolaridade média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimen­to Econômico", diz Alexandre Mattos, diretor da consultoria Macroplan. Nesse grupo de 34 países, estão Estados Unidos e Japão, onde se estuda por mais de dez anos, em média.  

No Brasil, houve um avanço considerável — pelo menos na oferta de vagas — na faixa do ensino superior. O número de faculdades e universidades passou de cerca de 400, no final dos anos 90, para 2.400. Uma das consequências mais relevantes desse crescimento é a inclusão de estudantes que estavam fora do sistema simplesmente por não haver opções em sua região, como acontecia com os jovens de Caruaru. 

Essa é uma parte da história. Quando se fala em qualidade, as estatísticas dizem que o quadro geral não é nada bom. Apenas 35% das pessoas com o ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas. A conclusão está na mais recente edição do Indicador do Alfabetismo Funcional 2011-2012, estudo feito pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, do Ibope.

No mesmo levantamento, há a estarrecedora informação de que 38% dos brasileiros com formação superior não conseguem escrever com clareza minimamente aceitável. Para parte dos empreendedores brasileiros, essa é uma notícia que pode funcionar como uma inspiração. "Melhorar a qualidade da formação dos estudantes é urgente no Brasil", diz Mattos, da Macroplan. "É enorme a necessidade de novos negócios capazes de ajudar a vencer esse desafio."

De mãos dadas com o problema da educação está a falta de qualificação profissional em praticamente todos os setores da economia. Um dos que mais sofrem é o de tecnologia da informação. De acordo com dados do IBGE, há 115.000 vagas de emprego que as empresas do setor não conseguem preencher porque não acham bons profissionais.  

A Globalcode, rede paulistana de escolas que faturou 3 milhões de reais­ em 2011 oferecendo cursos de programação, vem se expandindo nesse cenário. Criada pela empreendedora Yara Senger e seu marido, Vinicius, a Globalcode começou com aulas para qualquer pessoa que quisesse aprender a programar em linguagem Java — uma exigência em muitas empresas que desenvolvem softwares. Desde que foi fundada, em 2002, a Globalcode cresceu muito. Hoje, são 9.000 alunos matriculados em 14 unidades licenciadas. 


Um dos fenômenos que colaboram para aumentar o acesso dos brasileiros à educação é a ascensão da classe C. Entre 2003 e 2010, foram incorporados 32 milhões de pessoas ao mercado consumidor brasileiro. "Com o aumento da renda, as famílias estão gastando mais com educação", diz Odmar Almeida Filho, presidente do instituto de pesquisa ­Ipsos. "Hoje, há milhões de estudantes que compõem a primeira geração de suas famílias a ter diploma de curso superior ou mesmo a ter completado o ensino fundamental."

Nos últimos tempos, a internet tem sido um caminho para muitos que querem empreender no setor de ensino. “Está surgindo uma porção de empresas de ensino a distância, produtoras de videoaulas para internet e editoras de livros e material didático digital”, diz Mattos, da Macroplan.

Um exemplo é o da ­escola de inglês online Ezlearn, site que a carioca Ana Gabriela Pessoa, de 30 anos, fundou em 2008. "Inglês me pareceu a carência mais urgente no mercado", diz Ana. Está dando certo — a Ezlearn já atendeu cerca de 20 000 alunos e fatura mais de 2 milhões de reais por ano.

Um caso interessante é o da Escola24horas, empresa carioca de reforço escolar online que fatura, de acordo com estimativa do mercado, cerca de 12 milhões de reais por ano. Seu fundador, o economista paraibano Severino Felix da Silva, está à procura de clientes corporativos. "As grandes empresas podem oferecer o apoio escolar aos filhos dos funcionários como benefício", diz Silva. Ele já fechou uma parceria desse tipo com a IBM. 

A Escola24horas tem dois principais produtos — conteúdo online personalizado para escolas e pacotes de apoio escolar para alunos individuais. Entre eles está a estudante Monique Stefhany Ferreira, de 14 anos. Ela mora em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e está na última série do ensino fundamental.

Seus pais pagam uma mensalidade de 9,90 reais para que Monique tenha acesso a videoaulas e à rede de professores que dão plantão, tirando dúvidas dos alunos no site. "O método me ajuda muito a estudar para as provas", diz ela. "Melhorei as notas em matemática, que é minha matéria preferida."

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