Meraki: filantropia, carros antigos e R$ 2,2 bi sob gestão
Gestora independente de recursos que tem entre os sócios Lia Aguiar, herdeira do fundador do Bradesco, traz lições de como cativar clientes com medidas para além do mercado
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2022 às 12h35.
O contato com os clientes costuma ser um tema com muitas ramificações na cabeça de quem toma decisões num negócio.
Captar a atenção de quem poderá colaborar com o resultado financeiro da empresa é, talvez, uma das prioridades de todo gestor.
Nessas horas, vale prestar atenção a quem está conseguindo bons resultados na conversão de contatos em parceiros comerciais.
A gestora independente de recursos Meraki, de São Paulo, tem o que contar sobre o assunto.
Nesta sexta-feira, 8, os sócios Luiz Goshima, Stefan Darakdjian e Roberto Reis recebem assessores de investimentos, gestores de outros players do mercado financeiro para um dia de visitas a uma das maiores coleções de carros antigos do Brasil.
Num hangar a poucos quilômetros do centro de São Roque, cidade no interior paulista, mais de 500 automóveis estão em exibição.
Alguns beiram os 100 anos, como o Lincoln K Willoghtby Touring 1938 utilizado pela Rainha Elizabeth II em visita ao Brasil, ou o norte-americano Moon 1918, de Washington Luiz, presidente do Brasil entre 1926 e 1930.
O acervo foi adquirido do economista brasileiro Og Pozzoli, dono de uma das dez melhores coleções de automóveis antigos do mundo na época de sua morte, em 2017.
"É provavelmente a maior coleção de carros utilizados por ex-presidentes no mundo", diz Goshima. "Os convidados ao nosso evento poderão conhecer a fundo a história desses veículos e entender como funciona a manutenção deles."
A coleção de carros antigos é um dos destaques da Meraki, uma gestora independente com uma ligação íntima ao universo da filantropia.
Fundada no ano passado, a gestora administra 2,2 bilhões de reais. Quase metade desse valor — 1 bilhão de reais, mais precisamente —, vêm da Fundação Lia Maria Aguiar, aberta pela filha do fundador do Bradesco, Amador Aguiar.
Lia tem 25% do capital da Meraki, que é a responsável pela gestão dos recursos da Fundação.
É uma missão e tanto. Acostumada a apoiar programas de educação e de iniciação às artes a jovens de Campos do Jordão, cidade turística no interior paulista onde Lia tem residência, a Fundação vem ampliando o escopo nos últimos anos.
Na pandemia, comprou testes de Covid-19 para distribuir em postos de saúde do SUS até então desassistidos.
Agora, a Fundação está construindo um ambulatório dedicado a tratamentos crônicos, como hemodiálise, até agora indisponíveis na saúde pública local.
Com mais de 3.000 metros de área construída, o espaço deve ser inaugurado em maio e será gerido por uma organização social do hospital Sírio-Libanês.
Em outra frente, a Fundação deve abrir um Museu do Automóvel até o fim de 2022.
A ideia de Goshima, que divide o tempo entre o atendimento de clientes na Meraki e as atividades filantrópicas, é fazer uma exposição rotativa de parte do acervo hoje à disposição em São Roque num espaço próximo a atrações turísticas de Campos do Jordão.
Os outros 1,2 bilhão de reais sob administração da Meraki vêm do mercado. A ênfase inicial foi junto a escritórios com gestão de grandes fortunas. “Mas nos últimos tempos os investidores de varejo têm ganhado relevância”, diz Laura Cunha, head de relações com investidores da Meraki.
A gestora trabalha com dois fundos próprios, do tipo hedge: um long biased dedicado a refletir na carteira oportunidades da bolsa e um equity hedge multimercados, ambos voltados a investidores em geral.
“Criamos os produtos depois de um sólido track record da equipe, que tem laços de amizade e um entrosamento oriundo de um trabalho em conjunto do time em outras instituições no passado”, diz Reis.
O primeiro distribuidor da Meraki foi o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
Atualmente, a gestora tem 15 sócios. Boa parte do time construiu carreiras em outras instituições de peso no mercado financeiro.
Antes de assumir a cadeira de executivo-chefe da Meraki, o estrategista Roberto Reis foi uma das lideranças da área de retorno absoluto da Bradesco Asset Management (Bram) além de ter atuado como chefe de ações da Santander Asset, head da mesa proprietária de ações do ABN Amro Bank e como gestor de portfólio no Bank Boston.
O administrador Goshima, que acumula as funções de CEO e CRO na Meraki, tem duas décadas de experiência na gestão do family office de Lia e, também, da Fundação da herdeira do Bradesco.
O time de sócios-fundadores da Meraki traz ainda o administrador Stefan Darakdjian. Empreendedor desde a faculdade, tendo experiência com a gestão de negócios da própria família no ramo de distribuição de combustíveis, Darakdjian ocupa o cargo de CFO.
O nome Meraki, do grego, significa tudo o que é feito com a alma e com paixão, sem importar o quão difícil for a tarefa, uma ideia espalhada aos quatro cantos pelos sócios e funcionários da gestora.