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A Maria Brasileira cresceu muito, e pena com rotatividade

Em 2013, a Maria Brasileira cresceu ao ofertar serviços domésticos a empresas e residências. Mas o administrador Eduardo Pirré enfrenta um problema típico de seu setor — a alta rotatividade de funcionários.

Eduardo Pirré, administrador da Maria Brasileira, que presta serviços domésticos, como os de faxineiro, jardineiro e cuidador de cachorros (Julia Rodrigues / EXAME PME)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2014 às 10h50.

São Paulo - A faxineira Cristiane Carvalho Rosa, de 28 anos, moradora de Osasco, na Grande São Paulo, está completando oito meses com carteira assinada — ela é um dos 320 funcionários da Maria Brasileira, rede de 32 lojas que presta serviços domésticos para empresas e residências, como os de faxineiro, jardineiro, cozinheiro e cuidador de cachorros.

Antes, Cristiane atuava como diarista por conta própria e fazia duas faxinas por semana — o que rendia, em média, 650 reais por mês. Hoje, ela tem a mesma carga de trabalho e recebe um salário fixo de 910 reais, em torno de 40% mais.

“Não pretendo sair da empresa a qualquer custo”, diz Cristiane. “Se eu voltasse a trabalhar por conta própria todos os dias, poderia ganhar mais, mas não teria estabilidade nem benefícios como FGTS, INSS, férias e 13º salário.”

O administrador Eduardo ­Pirré, de 24 anos, fundador da ­Maria Brasileira, adoraria que outros funcionários pensassem como Cris­tiane. Oito meses numa empresa não parece muito, mas está acima da média de tempo pelo qual a Maria Brasileira tem conseguido segurar sua mão de obra — seis meses.

“É um índice bem alto de rotatividade , que nos obriga a gastar muita energia para repor quem sai”, afirma Pirré. Em pouco mais de um ano, desde a fundação do negócio , Pirré experimentou alguns incentivos, como palestras que expõem as vantagens do trabalho formal e sorteios de prêmios. No entanto, os resultados ainda são tímidos. “Já recusamos clientes por falta de trabalhadores.”

Com sede em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, a Maria Brasileira faturou 3 milhões de reais em 2013. Entre as primeiras conquistas estão parcerias com marcas como Bauducco e Ariel, que fornecem amostras de seus produtos aos clientes da empresa. “Até o fim deste ano, deveremos chegar a 100 unidades franqueadas”, diz Pirré.

O crescimento de negócios que prestam serviços domésticos foi impulsionado por mudanças socioeconômicas, que fizeram mais de 1 milhão de babás e empregadas sumir dos lares brasileiros nos últimos quatro anos, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho. Entre as razões estão a melhor distribuição de renda regional e a maior escolarização da população.

Mais recentemente foi instituída a PEC das Domésticas, um conjunto de regras que tornou mais caro manter uma profissional em tempo integral. “Muita gente tem optado por contratar empresas como a nossa”, diz Pirré. De acordo com dados do setor, houve aumento de 20% no número de franquias de serviços de limpeza e conservação no ano passado em relação a 2012.

Apesar do crescimento, continua difícil recrutar mão de obra em empresas como a Maria Bra­si­lei­ra. Muitos jo­vens pre­ferem se­guir carreira em áreas comerciais e de serviços.

“Os trabalhos realizados ma­nual­men­­te carregam um estigma de falta de perspectivas — um problema cul­tural difícil de compensar com meros aumentos no piso salarial”, diz Renato Meirelles, do Data Popular, instituto de pesquisas especializado nas classes C, D e E.

O que fazer, então, para segurar esse pessoal? Além de Meirelles­, Exame PME conversou com Manuel Oliva, da Praquemarido, rede que presta serviço de reparos domésticos, e Ricardo Alves, da ­Griletto, rede de restaurantes que emprega cerca de 1.300 funcionários, entre atendentes e cozinheiros. Veja o que eles recomendaram.

Pagar bônus por metas

Renato Meirelles, do Data Popular — São Paulo, SP

• Perspectivas: A remuneração média das empregadas domésticas mais do que dobrou nos últimos dez anos, enquanto o aumento da escolarização das brasileiras fez diminuir a oferta do serviço. Ao mesmo tempo, cresceu a demanda por esse tipo de profissional. Muitas mulheres da classe média ascenderam na carreira e passaram a precisar de ajuda em casa.

• Oportunidades: As pessoas estão concluindo que ficou caro e complicado demais manter uma empregada doméstica fixa, optando por faxineira ou ajudante uma ou duas vezes por semana. Isso ajuda a impulsionar as empresas que intermedeiam essa mão de obra, como a Maria Brasileira.

• O que fazer: Se por um lado as mudanças sociais abriram perspectivas para alguns negócios, eles próprios precisam lidar com os trabalhadores da base da pirâmide, que ficaram mais exigentes. Sugiro a Eduardo Pirré que monte um programa de bônus trimestrais e semestrais.

Com o dinheiro, o funcionário escolhe como quer gastar. Para receber o pagamento extra, é preciso atingir metas, como pontualidade, satisfação dos clientes e tempo de contratação. Quem atingir seis meses ou um ano de casa, por exemplo, poderá ganhar uma bonificação mais polpuda.

Treinar gente inexperiente

Ricardo Alves, do Griletto — Indaiatuba, SP

• Perspectivas: Embora o desemprego tenha caído no país, há um contingente de 6 milhões de brasileiros que ainda estão fora do mercado e procuram uma vaga de trabalho, de acordo com pesquisas mais recentes do IBGE. Os motivos podem ser variados, mas certamente parte dessas pessoas busca uma chance de se qualificar profissionalmente.

• Oportunidades: Fizemos na Griletto um estudo que comprovou que funcionários em seu primeiro emprego tendem a ficar nele por mais tempo. Se a Maria Brasileira começar a buscar mão de obra que ainda não está empregada e oferecer qualificação, terá ­boas chances de formar profissionais comprometidos com a oportunidade gerada.

• O que fazer: Eduardo Pirré pode criar um programa de primeiro emprego e fazer uma ampla divulgação. A partir das contratações, a empresa deve oferecer treinamentos, benefícios, além de plano de carreira.

Na Griletto, incentivamos que os funcionários continuem estudando e se aprimorando. Fazemos convênios com escolas de idiomas, informática e outros cursos profissionalizantes. Mais de 20% de nossos coordenadores e gerentes responsáveis pelos restaurantes começaram como atendente, o primeiro degrau da hierarquia.

Recrutar quem mora perto do trabalho

Manuel Oliva, do Praquemarido — São Paulo, SP

• Perspectivas: Alguns estudos mostram que a rotatividade anual nas empresas brasileiras está em torno de 50% — é como se a cada dois anos elas trocassem todos os empregados.

• Oportunidades: Notamos que a complexidade e o tempo gasto para chegar ao trabalho são estressantes — as maiores causas de insatisfação com o emprego, especialmente entre os trabalhadores da base da pirâmide.

• O que fazer: O ideal é alocar o novo funcionário na unidade mais próxima de sua moradia. Na Praquemarido, adotamos a tática já durante a fase de seleção. A Maria Brasileira deve anunciar as vagas em locais próximos às lojas que precisam de gente, como fazemos hoje. Atualmente, existem até empresas que ajudam a recrutar por geolocalização e torpedos no celular.

A empresa também pode buscar novos profissionais não só nas vias comuns mas também em lugares inusitados, como associações de bairro, igrejas e estações de ônibus e metrô.

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São Paulo - A faxineira Cristiane Carvalho Rosa, de 28 anos, moradora de Osasco, na Grande São Paulo, está completando oito meses com carteira assinada — ela é um dos 320 funcionários da Maria Brasileira, rede de 32 lojas que presta serviços domésticos para empresas e residências, como os de faxineiro, jardineiro, cozinheiro e cuidador de cachorros.

Antes, Cristiane atuava como diarista por conta própria e fazia duas faxinas por semana — o que rendia, em média, 650 reais por mês. Hoje, ela tem a mesma carga de trabalho e recebe um salário fixo de 910 reais, em torno de 40% mais.

“Não pretendo sair da empresa a qualquer custo”, diz Cristiane. “Se eu voltasse a trabalhar por conta própria todos os dias, poderia ganhar mais, mas não teria estabilidade nem benefícios como FGTS, INSS, férias e 13º salário.”

O administrador Eduardo ­Pirré, de 24 anos, fundador da ­Maria Brasileira, adoraria que outros funcionários pensassem como Cris­tiane. Oito meses numa empresa não parece muito, mas está acima da média de tempo pelo qual a Maria Brasileira tem conseguido segurar sua mão de obra — seis meses.

“É um índice bem alto de rotatividade , que nos obriga a gastar muita energia para repor quem sai”, afirma Pirré. Em pouco mais de um ano, desde a fundação do negócio , Pirré experimentou alguns incentivos, como palestras que expõem as vantagens do trabalho formal e sorteios de prêmios. No entanto, os resultados ainda são tímidos. “Já recusamos clientes por falta de trabalhadores.”

Com sede em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, a Maria Brasileira faturou 3 milhões de reais em 2013. Entre as primeiras conquistas estão parcerias com marcas como Bauducco e Ariel, que fornecem amostras de seus produtos aos clientes da empresa. “Até o fim deste ano, deveremos chegar a 100 unidades franqueadas”, diz Pirré.

O crescimento de negócios que prestam serviços domésticos foi impulsionado por mudanças socioeconômicas, que fizeram mais de 1 milhão de babás e empregadas sumir dos lares brasileiros nos últimos quatro anos, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho. Entre as razões estão a melhor distribuição de renda regional e a maior escolarização da população.

Mais recentemente foi instituída a PEC das Domésticas, um conjunto de regras que tornou mais caro manter uma profissional em tempo integral. “Muita gente tem optado por contratar empresas como a nossa”, diz Pirré. De acordo com dados do setor, houve aumento de 20% no número de franquias de serviços de limpeza e conservação no ano passado em relação a 2012.

Apesar do crescimento, continua difícil recrutar mão de obra em empresas como a Maria Bra­si­lei­ra. Muitos jo­vens pre­ferem se­guir carreira em áreas comerciais e de serviços.

“Os trabalhos realizados ma­nual­men­­te carregam um estigma de falta de perspectivas — um problema cul­tural difícil de compensar com meros aumentos no piso salarial”, diz Renato Meirelles, do Data Popular, instituto de pesquisas especializado nas classes C, D e E.

O que fazer, então, para segurar esse pessoal? Além de Meirelles­, Exame PME conversou com Manuel Oliva, da Praquemarido, rede que presta serviço de reparos domésticos, e Ricardo Alves, da ­Griletto, rede de restaurantes que emprega cerca de 1.300 funcionários, entre atendentes e cozinheiros. Veja o que eles recomendaram.

Pagar bônus por metas

Renato Meirelles, do Data Popular — São Paulo, SP

• Perspectivas: A remuneração média das empregadas domésticas mais do que dobrou nos últimos dez anos, enquanto o aumento da escolarização das brasileiras fez diminuir a oferta do serviço. Ao mesmo tempo, cresceu a demanda por esse tipo de profissional. Muitas mulheres da classe média ascenderam na carreira e passaram a precisar de ajuda em casa.

• Oportunidades: As pessoas estão concluindo que ficou caro e complicado demais manter uma empregada doméstica fixa, optando por faxineira ou ajudante uma ou duas vezes por semana. Isso ajuda a impulsionar as empresas que intermedeiam essa mão de obra, como a Maria Brasileira.

• O que fazer: Se por um lado as mudanças sociais abriram perspectivas para alguns negócios, eles próprios precisam lidar com os trabalhadores da base da pirâmide, que ficaram mais exigentes. Sugiro a Eduardo Pirré que monte um programa de bônus trimestrais e semestrais.

Com o dinheiro, o funcionário escolhe como quer gastar. Para receber o pagamento extra, é preciso atingir metas, como pontualidade, satisfação dos clientes e tempo de contratação. Quem atingir seis meses ou um ano de casa, por exemplo, poderá ganhar uma bonificação mais polpuda.

Treinar gente inexperiente

Ricardo Alves, do Griletto — Indaiatuba, SP

• Perspectivas: Embora o desemprego tenha caído no país, há um contingente de 6 milhões de brasileiros que ainda estão fora do mercado e procuram uma vaga de trabalho, de acordo com pesquisas mais recentes do IBGE. Os motivos podem ser variados, mas certamente parte dessas pessoas busca uma chance de se qualificar profissionalmente.

• Oportunidades: Fizemos na Griletto um estudo que comprovou que funcionários em seu primeiro emprego tendem a ficar nele por mais tempo. Se a Maria Brasileira começar a buscar mão de obra que ainda não está empregada e oferecer qualificação, terá ­boas chances de formar profissionais comprometidos com a oportunidade gerada.

• O que fazer: Eduardo Pirré pode criar um programa de primeiro emprego e fazer uma ampla divulgação. A partir das contratações, a empresa deve oferecer treinamentos, benefícios, além de plano de carreira.

Na Griletto, incentivamos que os funcionários continuem estudando e se aprimorando. Fazemos convênios com escolas de idiomas, informática e outros cursos profissionalizantes. Mais de 20% de nossos coordenadores e gerentes responsáveis pelos restaurantes começaram como atendente, o primeiro degrau da hierarquia.

Recrutar quem mora perto do trabalho

Manuel Oliva, do Praquemarido — São Paulo, SP

• Perspectivas: Alguns estudos mostram que a rotatividade anual nas empresas brasileiras está em torno de 50% — é como se a cada dois anos elas trocassem todos os empregados.

• Oportunidades: Notamos que a complexidade e o tempo gasto para chegar ao trabalho são estressantes — as maiores causas de insatisfação com o emprego, especialmente entre os trabalhadores da base da pirâmide.

• O que fazer: O ideal é alocar o novo funcionário na unidade mais próxima de sua moradia. Na Praquemarido, adotamos a tática já durante a fase de seleção. A Maria Brasileira deve anunciar as vagas em locais próximos às lojas que precisam de gente, como fazemos hoje. Atualmente, existem até empresas que ajudam a recrutar por geolocalização e torpedos no celular.

A empresa também pode buscar novos profissionais não só nas vias comuns mas também em lugares inusitados, como associações de bairro, igrejas e estações de ônibus e metrô.

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