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Com a ajuda de softwares de big data, Eldes Mattiuzzo reuniu uma enorme quantidade de informações sobre os clientes de sua corretora de seguros online, a Bidu. Agora ele precisa definir que outros serviços podem interessar a quem já conhece o site

Eldes Mattiuzzo, do Bidu: Desde julho de 2012, mais de 800 000 pessoas fizeram cotação de seguros por meio da ferramenta da Bidu. Recentemente, recebeu um aporte de 20 milhões de reais de investidores brasileiros e estrangeiros (Fabiano Accorsi / EXAME PME)

Eldes Mattiuzzo, do Bidu: Desde julho de 2012, mais de 800 000 pessoas fizeram cotação de seguros por meio da ferramenta da Bidu. Recentemente, recebeu um aporte de 20 milhões de reais de investidores brasileiros e estrangeiros (Fabiano Accorsi / EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2014 às 11h36.

São Paulo - A corretora paulistana de seguros online Bidu, especializada em apólices de carros, é uma dessas empresas que rastreiam o caminho dos internautas que visitam seu site para oferecer serviços que os façam virar clientes.

Seu fundador, o empreendedor Eldes Mattiuzzo, de 46 anos, usa softwares de big data para interpretar um sem-fim de informações que permitem identificar quais apólices de seguro um dono de automóvel está mais propenso a comprar. Quem acessa o site da Bidu precisa preencher um formulário com perguntas corriqueiras — como sexo, data de nascimento, ende­reço, telefone, modelo e ano do carro.

Com as respostas, o sistema consegue estimar quanto custa uma apólice em 12 seguradoras. A análise vai além. Um algoritmo dá nota de 1 a 100 a cada potencial cliente que preenche o cadastro — quanto maior a nota, maior a chance de o sujeito fechar negócio.

Mais de 30 variáveis são levadas em conta. “A interpretação dos dados nos permite oferecer ao cliente algo mais próximo de suas necessidades”, afirma Mattiuzzo. “Para cada dez contatos que um de nossos vendedores faz, cinco viram negócio”. 

No ano passado, a Bidu faturou 40 milhões de reais. A receita vem de comissões arrecadadas sempre que um dos usuários compra uma apólice de operadoras como a Bra­desco Seguros, a Allianz e a Liberty. Desde julho de 2012, quando o site foi lançado, mais de 800 000 pessoas fizeram cotação por lá. A expectativa é que a empresa fature 100 milhões de reais em 2014.

Esses números chamaram a atenção do fundo inglês Amadeus Capital, que, no mês de abril, anunciou que a Bidu seria a primeira empresa brasileira a receber um investimento seu. Juntos, o Amadeus e outros antigos investidores da Bidu — como o grupo Bertelsmann e os fundos Monashees e Otto Capital — aportaram 20 milhões de reais na empresa. A Bidu também tem como sócia a paulista MBS Seguros, especializada na gestão de benefícios corporativos.

O reforço no caixa vai ajudar a tornar concreto um plano de Mat­tiuzzo — aproveitar a base de visitantes do site para oferecer vários tipos de serviço financeiro. O site já oferece apólices residenciais e de viagem.

Recentemente, entrou no ar um com­parador de preços de consórcios de automóveis, motos e imóveis. Existe também um serviço de contratação de cartões de crédito. “As novi­dades ainda estão sendo testadas”, afirma Mattiuzzo. “Queremos saber quais serviços mais vão atrair a atenção dos usuários do site.”

Definir a que a Bidu deve se dedicar mais agora deve ajudar Mattiuzzo a distribuir melhor os recursos da empresa. “Se descobrirmos que a área de consórcios é mais promissora, vamos treinar o pessoal de mar­­keting e da área comercial para fe­­char mais parcerias”, afirma Mat­tiuzzo. “Também teríamos de fazer investimentos na integração entre nos­sa plataforma de da­dos e os sistemas dos novos fornecedores.”

Exame PME, para saber o que Mattiuzzo pode considerar ao tomar sua decisão, conversou com André Miranda, da catarinense Redecash — que mantém uma rede de lojas que oferecem vários serviços financeiros, como consórcios e empréstimos —, e Marcelo Prata, da paulista Canal do Crédito, que tem um site de comparação de linhas de financiamento imobiliário. Também opinou Cezar Taurion, da consultoria Litteris, especializada em big data. Veja o que eles disseram.

Intermediar empréstimos

Perspectivas: Testar a aceitação de novos serviços financeiros vai fazer bem à Bidu. Todo empreendedor precisa buscar variar a origem das receitas de sua empresa. Essa preocupação deve ser maior para os que atuam no setor financeiro. Quem depende de um só tipo de serviço pode sofrer com mudanças na legislação ou na regulamentação do mercado.

Oportunidades: Em 2013, a concessão de crédito para pessoa física cresceu 7% no Brasil em relação a 2012. No mesmo período, o crédito consignado avançou mais de 16%. Como as parcelas do consignado são descontadas do salário de quem empresta, o risco das instituições financeiras é relativamente baixo.

O que fazer: Mattiuzzo deve fechar parcerias com instituições financeiras e criar uma ferramenta de comparação de condições para empréstimo consignado no site da Bidu. As comissões pagas a quem faz a intermediação variam de acordo com o perfil do cliente e o prazo de pagamento. A Bidu pode fazer campanhas de marketing online para atrair os clientes e terceirizar para uma empresa de fora o trabalho de colher as assinaturas e reunir os documentos que serão enviados às instituições financeiras.

Comparar mais opções

Perspectivas: Os brasileiros estão mais à vontade para mexer com dinheiro na internet. Em 2009, pela primeira vez, o número de transações online ultrapassou as feitas nos caixas eletrônicos dos bancos. Contratar serviços financeiros online é um avanço natural. Esse hábito deve se intensificar no futuro.

Oportunidades: Mattiuzzo pode ganhar dinheiro não apenas com as comissões pagas pelas seguradoras ou bancos. Dependendo do tipo de serviço, é possível cobrar uma taxa dos usuários que não querem lidar com a burocracia. Na Canal do Crédito, o usuário não paga nada para comparar as condições de financiamento imobiliário dos bancos.

Nós também acompanhamos o andamento desde o processo até a liberação do dinheiro. Mas, se ele quiser ajuda para lidar com a papelada do cartório, cobramos uma taxa à parte pelo serviço de despachante.

O que fazer: Aumentar a base de instituições financeiras com as quais a Bidu se relaciona. Seja qual for o serviço que Mattiuzzo passe a oferecer daqui para a frente, será importante ter uma base bem ampla de comparação de preços e condições. Isso dá confiança ao usuário. Quando percebe que o site reúne informações sobre a maior parte das instituições financeiras do mercado, ele se sente seguro para contratar.

Vender serviços de análise de dados

Perspectivas: As empresas de pequeno e médio porte foram as principais beneficiadas pela popularização dos softwares como serviço. Hoje em dia é possível contratar e customizar um sistema de análise de dados a uma fração do preço que se pagava há alguns anos. A Bidu é um exemplo de como esse fenômeno criou empresas competitivas.

Oportunidades: A base de dados que a Bidu construiu ao longo de seus primeiros anos de atuação é muito valiosa. Mattiuzzo pode usá-la não apenas para saber o que exatamente seu cliente quer em matéria de serviços financeiros. Várias outras empresas podem se interessar pela análise dos dados que ele reuniu até hoje.

O que fazer: Criar um departamento para interpretar os dados dos clientes que a Bidu conquistou até agora. Essas análises podem ser vendidas para empresas que querem se relacionar com o mesmo público. Montadoras e agência de viagens, por exemplo, devem se interessar em saber mais sobre quem contrata seguros de carro e de viagem.

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