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Insatisfação com a saúde abre espaço para as healthtechs no Brasil

Envelhecimento da população, preocupação com o bem-estar e desafios do atendimento público abrem espaço para as startups de saúde

Nathália Tavares, da TroposLab: “quando começamos a estudar os possíveis mercados, chegamos ao CareTech, que tem grande potencial de negócio e de inovação" (Flávio Florido / Ricardo Yoithi Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)
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Carolina Ingizza

Publicado em 10 de novembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 10 de novembro de 2019 às 07h00.

A plataforma brasileira Cuidas nasceu a partir da percepção de seus criadores de que a área da saúde é uma das mais promissoras no País. e também uma das que mais precisam de melhorias.“Pensamos em qual problema poderíamos solucionar de forma social e financeiramente sustentável, e identificamos que a área da saúde era a que mais oferecia desafios",conta Matheus Silva, um dos três fundadores da startup.

A avaliação dele e dos sócios Deborah Alves e João Henrique Vogel ganhou reforço diante de uma pesquisa da consultoria McKinsey feita com 5 mil brasileiros apontando que a maior insatisfação da população era com a área da saúde. Mesmo com um sistema de assistência de saúde universal e gratuita, ainda há muitas falhas e principalmente, muita desigualdade no acesso e na qualidade do atendimento no País. Os desafios atuais, aliados às mudanças sociais,ao envelhecimento da população e à evolução tecnológica, criam uma variedade de oportunidades de negócios nesse segmento e é aí que ganham espaço as chamadas healthtechs, as startups voltadas para a saúde.

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No caso da Cuidas, o foco são os cuidados primários. É uma solução para empresas, mas não é um plano de saúde e tampouco possui clínicas, laboratórios ou hospitais. É uma plataforma que coloca à disposição dos funcionários da empresa contratante uma equipe de médicos e enfermeiros para atendimento básico de queixas, no local de trabalho,e ao mesmo tempo, atua na gestão da saúde básica dos participantes. “Conseguimos absorver mais de 80% dos primeiros cuidados da saúde”, conta Silva.

Isso significa que dores de cabeça, dores nas costas ou algum mal-estar simples não chegam até o atendimento de urgência e emergência,como geralmente ocorre, impactando o sistema e aumentando o custo desse serviço de saúde, seja no setor público ou no privado.

Potencial

Apesar de algumas limitações, como a questão regulatória, Silva vê o setor de saúde com bastante espaço para empreender, já que, segundo ele, ainda é uma área conservadora e carente de inovações.“Dá para fazer mais, de forma mais eficaz e eficiente e com mais economia. O uso da tecnologia nos processos ainda é limitado. Hoje, no Brasil, 70% dos dados médicos ainda estão em papel”, afirma Silva.

O consultor de negócios do Sebrae-SP Guilherme Arradi reforça essa avaliação. “Tecnologias cada vez mais acessíveis estão ampliando o leque de possibilidades de transformar a indústria da saúde”, diz. Não por acaso, o Hospital das Clínicas em São Paulo, maior complexo hospitalar da América Latina, acaba de abrir um centro de inovação para startups que queiram se dedicar ao tema, o Distrito Inova HC.

Dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) apontam que muitos empreendedores entenderam o potencial que inovar na área de saúde oferece. O número de healthtechs associadas quase dobrou entre 2015 e meados de 2019, passando de 235 para 406.

Arradi destaca que no último ranking de transformação digital da consultoria McKinsey, a área da saúde aparece entre os setores ainda pouco impactados e mostra um mercado extremamente promissor, o que chama a atenção também dos investidores.

Rede para inovação

Destacar as soluções para os investidores é o objetivo da CareTech, criada pela Troposlab, aceleradora que queria justamente “estabelecer conexões que façam algo acontecer” no setor, como define a sócia e diretora comercial do hub de inovação, Nathália Tavares.“Quando começamos a estudar os possíveis mercados, chegamos ao CareTech, que tem grande potencial de negócio e de inovação. Ao mesmo tempo, há muitas tecnologias que estão sendo desenvolvidas, mas que não conseguem chegar ao mercado. Por outro lado, muitas empresas têm demanda por uma solução e não conseguem encontrá-la”, diz.

A CareTech atua não só na promoção do desenvolvimento de soluções, mas também no encontro dessas inovações com o mercado e investidores, reunindo startups, a academia geralmente celeiro de inovações ,investidores e grandes empresas em busca de inovações com agilidade.

A área da saúde envolve uma ampla gama de segmentos, mas Nathália destaca que a CareTech está bastante atenta a soluções que promovam há bitos mais saudáveis e que atuem nos cuidados com o envelhecimento. “A tendência do mercado é de trabalhar O envelhecimento, já que a sociedade está se direcionando para ser uma população com mais idosos. Por isso a atenção em estratégias e tecnologias que deem apoio ao bem-estar do idoso”, diz. Hoje, a Troposlab atua com 65 healthtechs, de um total de 725 que abriga como aceleradora.

Cuidados básicos

Guilherme Arradi, consultor do Sebrae-SP, lista outros pontos de atenção para quem pretende empreender com uma healthtech, começando pela equipe. “É importante ter alguém que conheça a área, para fazer com que a solução possa resolver alguma dificuldade”, diz. Também é necessário fazer testes e análises que mostrem o desempenho do produto.Isso é muito importante para criar um plano de marketing e um argumento de vendas assertivo.

Outra orientação do consultor é para que os empreendedores não foquem só na tecnologia que está sendo desenvolvida, mas sim que pensem em todo o modelo de negócios. Os empreendedores da área da saúde tendem a ser bons técnicos, mas não olham tanto para o negócio. O canal de distribuição, por exemplo, precisa do olhar de um profissional de marketing em saúde, que saberá como aquele produto ou tecnologia pode chegar ao mercado.

Além disso, é importante lembrar que os produtos na área da saúde são classificados por risco. Quanto maior o risco, maior a burocracia e os passos para aprovar a solução e disponibilizar no mercado.Existem várias consultorias que podem ajudar nessa questão. Arradi dá o exemplo de equipamentos que são implantados no corpo humano, que tendem a ter risco mais elevado e têm processo de registro mais demorado.

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