Antonio Ermírio de Moraes Neto durante palestra da Semana do Empreendedorismo da FGV, em São Paulo (Divulgação/FGV)
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2011 às 09h50.
São Paulo – Com simplicidade, Antonio Moraes, neto de um dos maiores empresários do Brasil, conta a uma plateia de universitários que sempre sonhou trabalhar com empreendedorismo social. Há pouco mais de dois anos, Antonio também faria parte da plateia. Ele se formou em administração pública na faculdade e, aos 22 anos, fundou o primeiro fundo brasileiro de capital para negócios sociais, o Vox Capital. “A gente investe em empresas inovadoras e de alto potencial que servem a base da pirâmide”, diz.
O contato com o tema vem do berço e também de um trabalho na ONG Gente Nova Brasil, que ajuda na formação de jovens. “Eu tinha 15 anos quando fui trabalhar na ONG e fui picado pelo vírus do empreendedorismo”, afirmou em palestra da Semana do Empreendedorismo da FGV.
Apesar de muito jovem, Antonio carrega a experiência de um estágio na Endeavor e um curso na Babson College, uma das principais universidades de empreendedorismo do mundo, para espalhar a ideia dos negócios sociais. “Social business ainda gera muito a ideia de ONG, mas precisa ser entendido como um negócio que gera lucra ao mesmo tempo em que tem um impacto social”, explica.
Ainda sem saber ao certo como explorar o assunto, Moraes foi para a Índia com um grupo de amigos fazer um documentário sobre os modelos inovadores de negócios sociais que estavam sendo desenvolvidos por lá. A viagem deu origem ao documentário Setor Dois e Meio, que deve ser lançado como um longa metragem no próximo ano.
Com o projeto de um fundo em mente, ele buscou a Artemísia, organização que apoia este tipo de empresa, para participar de uma competição e concorrer a 40 mil reais para tirar a ideia do papel. O projeto agradou tanto que despertou a atenção de Kelly Michel, que fundou a Artemísia e é referência em social business, e de Daniel Izzo, executivo. “Eles gostaram tanto que já conseguimos de cara 3 milhões de dólares de um investidor americano para começar o fundo”, conta. “Um louco. Mas todo empreendedor é um pouco louco”, brinca.
Hoje, a Vox Capital prioriza empreendimentos nas áreas de moradia, educação, saúde e geração de emprego, que sejam muito rentáveis e também impactem de forma positiva 1 milhão de pessoas em 5 anos. “O primeiro critério para escolha dessas empresas é o empreendedor. Precisa ser alguém que queira transformar o mundo, em um modelo Google de ser”, define. Quanto mais perto da classe E o negócio estiver, melhor. Além disso, o modelo precisa ser escalável para crescer com mais potencial.
O fundo entra na sociedade com 25% a 40% de participação e investe, em média, de 150 mil a 1 milhão de reais. Atualmente, duas empresas fazem parte do portfólio. A Plano CDE faz pesquisas no mercado de baixa renda e auxilia outras empresas a atraírem este público. Já a CDI Lan tem quase cinco mil lan houses espalhadas pelo país em áreas pobres. Eles vão além dos serviços de informática e atuam também como representantes bancários.
Moraes conta que todas as empresas devem ter metas de impacto na sociedade tanto quanto de faturamento e lucro. “Pelas condições atuais do Brasil, o fundo tem ainda 30 ou 40 anos de chão até chegar ao objetivo final, que é fazer um museu da pobreza no país. Assim, vou poder mostrar aos meus netinhos que um dia existiu pobreza no Brasil, mas já não há mais”, define.
Para dar continuidade a esse plano, a Vox Capital quer investir em mais três empresas até o final de 2011 e lança mais dois novos fundos. “O Vox 2.0 será um fundo com 60 milhões de reais para capital semente e vai investir em dez empresas até o final do ano. O Vox Labs busca vinte empreendedores com ideias de negócio com potencial para uma espécie de incubação em parceria com a Artemísia”, diz. Todo ano o fundo avalia mais de 150 negócios com apelo de impacto social em busca de aportes.