Artur Hipólito, dono da Zaiom (Daniela Toviansky)
Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2011 às 08h00.
Pelo menos uma vez por mês, o empreendedor Artur Hipólito, de 50 anos, participa de eventos sobre empreendedorismo promovidos por entidades como o Sebrae e associações comerciais pelo país afora. Nessas ocasiões, ele usa um pouco da lábia que adquiriu nos tempos em que era gerente de banco, no começo dos anos 90, para conversar com eletricistas, encanadores, técnicos de informática ou enfermeiros.
Quase sempre de terno e gravata, Hipólito aperta a mão dos interlocutores com firmeza e fala macio para tentar seduzir esse tipo de profissional a deixar a informalidade para se transformar em franqueado de uma das sete marcas de sua empresa, o Grupo Zaiom, quase todas prestadoras de algum serviço em domicílio, como aulas particulares, consertos de computador, reparos domésticos, depilação e cuidados de enfermagem.
“Muitas dessas pessoas acalentam o sonho de ter um negócio próprio e legalizado”, diz ele. “Procuro mostrar que posso ajudá-las nessa empreitada.”
Hipólito criou o Zaiom há dois anos, depois de fazer carreira como executivo em grandes empresas de franquia, como a rede de lanchonetes Subway e o Grupo Multi, especializado em cursos de idiomas e ensino profissionalizante.
Ele teve a percepção de que havia espaço para crescer ao transformar trabalhadores informais em franqueados, num modelo conhecido como microfranquias — negócios de baixo custo que podem ser tocados praticamente por uma pessoa só. “De certa forma, meu negócio é dar oportunidade para que muitos empreendedores informais se profissionalizem”, diz ele. No ano passado, as receitas do Zaiom chegaram a 7,5 milhões de reais, 60% mais do que em 2009.
Hipólito vem aproveitando o vasto potencial de crescimento que o surgimento de uma nova classe média está trazendo para o mercado. Enquanto muitos veem no aumento do poder aquisitivo dos emergentes o surgimento de um vigoroso mercado de consumo, ele enxerga a possibilidade de destravar a vocação para o empreendedorismo que existe nesse meio.
“Há poucos anos, essas pessoas viviam apenas na informalidade”, diz Renato Meirelles, da consultoria Data Popular. “Agora, ter um negócio próprio formalizado deixou de ser apenas um sonho distante, e essa nova classe média anseia melhorar de status também como empreendedores.”
Os franqueados do Zaiom são pessoas como Elaine Barbosa Alves, de 32 anos. Até 2009, ela trabalhava como enfermeira domiciliar quando conheceu a Home Angels, a microfranquia do Grupo Zaiom de cuidadores de idosos e crianças. “Sempre quis ser minha própria chefe, e aproveitei a oportunidade”, diz Elaine. “Com um negócio formal, eu acreditava que poderia chegar mais longe.” O negócio que começou como uma franquia de uma pessoa só cresceu, e hoje Elaine contrata 40 profissionais, entre enfermeiros, técnicos e psicólogos.
Hipólito precisou fazer adaptações ao modelo tradicional de franquias para atuar nesse mercado. Para que os candidatos a franqueados tenham condições de pagar o investimento inicial nas franquias, que pode chegar a 20 000 reais, ele fecha contratos com bancos para garantir financiamentos de longo prazo — com o Banco do Nordeste, por exemplo, o valor pode ser financiado em até 12 anos.
Outra mudança está no perfil das convenções de franqueados, que nas redes tradicionais costumam ser realizadas no máximo a cada seis meses para unificar objetivos e traçar metas. No Zaiom, esses encontros são trimestrais e têm um objetivo bem mais educativo, com cursos sobre aspectos básicos da gestão de um negócio, como controle do caixa e orçamento. “A maioria dos franqueados nunca administrou um negócio antes”, afirma Hipólito.