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Está perto de se aposentar? Para muitos, é hora de empreender

Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, em parceria com o Sebrae, mostra aumento do empreendedorismo entre quem tem mais de 45 anos de idade

Empreendendo na melhor idade: aumentou o número de pessoas a partir de 45 anos de idade que abrem suas próprias empresas (Foto/Thinkstock)

Empreendendo na melhor idade: aumentou o número de pessoas a partir de 45 anos de idade que abrem suas próprias empresas (Foto/Thinkstock)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 1 de junho de 2017 às 06h00.

Última atualização em 1 de junho de 2017 às 06h00.

São Paulo – A crise econômica atual teve como reflexo a maior taxa de desemprego da história recente: hoje, 14 milhões de pessoas procuram emprego.

Nesse mar de competição pelas poucas vagas que restam, muitos resolvem empreender, abrir um negócio e virar de vez o próprio patrão. O movimento é percebido especialmente nos dois extremos do mercado de trabalho: os mais jovens e os mais experientes.

A tendência foi analisada pelo estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feito em parceria com o Sebrae. A pesquisa, divulgada recentemente, estuda a atividade empreendedora pelo mundo.

No Brasil, duas mil pessoas entre 18 e 64 anos de idade e 93 especialistas em empreendedorismo foram entrevistados no ano de 2016. A pesquisa foi executada pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ)

O avanço dos mais experientes: motivações

Três faixas etárias do estudo tiveram um aumento no número de empreendedores: a de jovens entre 18 e 24 anos (19,7% dos empreendedores em 2016); a de adultos entre 45 e 54 anos (16,6%); e a de adultos entre 55 e 64 anos (10,4%).

Guilherme Afif, presidente do Sebrae, ressalta que os trabalhadores com mais idade possuem dificuldade em se manter no mercado de trabalho tradicional, com carteira assinada.

“Esse empreendedor mais experiente também enxerga no empreendedorismo a possibilidade de obter ou suplementar a renda, se já for aposentado. Ele sabe que a aposentadoria pública mal dá para pagar remédio”, diz Afif.

Sandro Vieira, presidente do IBPQ, avalia que o aumento do empreendedorismo em idades mais avançadas possui relação tanto com a situação de desemprego quanto com as perspectivas de uma aposentadoria pública cada vez mais tardia.

“Dentro de uma condição na qual a própria previdência tem um colapso em seu modelo, quanto maior o tempo no mercado de trabalho, maior a capacidade de ele contribuir com geração de riqueza própria e para o país, por meio da criação de empregos”, analisa Vieira.

De acordo com o presidente do IBPQ, os setores que mais têm atraído a participação dos empreendedores mais experientes são o de alimentação – de produção à distribuição e venda – e de acessórios e vestuário.

“Mais da metade dos empreendimentos são nessas duas áreas. A participação tecnológica nessa faixa não é tão intensa, então as pessoas se sentem mais segura em empreender em negócios mais tradicionais do ponto de vista gerencial.”

O avanço dos mais experientes: perfil

Para o Sebrae, os empreendedores de mais idade possuem um perfil diverso de renda e de motivação para abrir o próprio negócio - por necessidade ou por oportunidade. Mas há uma tendência positiva de que a oportunidade seja o principal impulso.

“Esse empreendedor sempre teve o sonho de trabalhar por conta própria; mas, enquanto tinha um emprego de carteira assinada, não arriscou. Agora, resolveu ir com tudo”, diz o presidente do Sebrae. “A necessidade o impulsionou, mas vemos um pouco de oportunidade também, porque já havia um projeto desenhado na gaveta.”

O economista Celso Possas Junior exemplifica bem esse tipo de empreendedor, que une necessidade de paixão. Aos 50 anos de idade, resolveu abandonar o emprego em uma multinacional para abrir uma editora própria, chamada Itapuca.

“Empreendi por necessidade, mas de ordem sentimental: tinha o sonho de escrever e produzir meus próprios livros. Combinei isso com uma oportunidade de mercado: muitos autores possuem um livro sem espaço nas grandes editoras e um sonho parecido com o meu”, conta o empreendedor.

Ele era um leitor ávido, e depois passou a escrever seus próprios romances. Tentou lançar uma editora em 1999, para produzir dois livros, mas a rotina de trabalho e viagens não permitiu que o negócio fosse para frente. Ele passou a escrever nos fins de semana, sonhando em ser escritor algum dia.

“Ano passado completei 50 anos de idade e resolvi: não vou mais esperar aquela quantia de dinheiro ou aquele dia: vou realizar o meu sonho agora. Conversei com meus filhos sobre a inevitável queda no meu padrão de vida e pedi demissão. Agora vivo preocupado com dinheiro, mas nunca pensei que pudesse ser tão feliz.”

Possas Junior é microempreendedor individual e emprega uma estagiária e seis prestadores de serviço. Divide o tempo entre escrever, produzir, distribuir, vender e divulgar livros. Para ele, a vantagem em empreender aos 50 anos de idade é clara: experiência.

“Um empreendedor, aos cinquenta anos, já passou por muita coisa, de produtos excelentes a empresas quase quebrando, e já observou todo tipo de bons e maus exemplos de planos de negócio”, afirma o empreendedor.

“Ao mesmo tempo, vejo duas desvantagens em empreender por um caminho novo aos cinquenta anos. Primeiro: é preciso desenvolver o network da área mais rápido do que o normal, sem a obtenção gradual de relacionamentos. Também não é fácil fazer planejamento de longo prazo.”

Como incentivar o empreendedorismo dos mais experientes?

Afif cita algumas medidas que podem contribuir para incentivar a criação de novos negócios por quem é mais experiente.

Primeiro passo: não atrapalhar. “Você precisa ter um ambiente econômico amigável, que não hostilize quem empreende”, defende o presidente do Sebrae.

Outras medidas benéficas seriam a simplificação da burocracia, especialmente para abertura e fechamento de empresas; a introdução de um sistema tributário menos penoso, que permita o crescimento sem medo da possível mudança de faixa de imposto; o acesso ao crédito, que é muito restrito atualmente; e, por fim, o maior incentivo à qualificação empreendedora.

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