Jan Krutzinna, fundador da ChatClass: “o Brasil pode virar um laboratório do mundo em educação, tem muitas oportunidades para investir por aqui” (ChatClass/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 12 de janeiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 13 de janeiro de 2020 às 15h04.
O empreendedor alemão Jan Krutzinna conquistou muitas oportunidades de carreira por falar inglês. Desde 2014, sua missão é ajudar outras pessoas a aprenderem o idioma. Ele é fundador da ChatClass, empresa brasileira que oferece para escolas e editoras uma inteligência artificial que permite que os alunos pratiquem inglês pelo WhatsApp.
A empresa, fundada em 2014 com o antigo nome de EduSim, já tem 20 parcerias com instituições brasileiras e cerca de 150 mil alunos usando a plataforma -- 10 mil de forma paga. Desde sua fundação até agora, a startup levantou 3 milhões de reais com os fundos Canary e Graph Ventures, mas se mantém atualmente com os lucros da operação.
O objetivo do fundador é tornar o Brasil um laboratório de educação para o mundo. “Temos muitas oportunidades para investir em educação aqui. Quero criar soluções e exportar para outros países”, diz. No final de 2019, a startup já iniciou essa internacionalização com o licenciamento de sua tecnologia para uma editora alemã.
De uma família simples da área rural da Alemanha, Krutzinna conseguiu uma bolsa para estudar ciência da computação e psicologia em Harvard, nos Estados Unidos. Foi na universidade que teve o primeiro contato com o Brasil, ao fazer um semestre de aulas de português.
Depois, quando trabalhava para a consultoria McKinsey, foi transferido para o escritório brasileiro da companhia. No país, percebeu a dificuldade dos brasileiros com o inglês, ainda que muitos investissem tempo e dinheiro tentando aprender. “Ninguém conseguia falar comigo na rua, é como se existisse uma trava, um medo de errar”, conta.
De volta aos Estados Unidos, o empreendedor começou a pensar em soluções para melhorar o ensino do idioma para estrangeiros. Seu objetivo era construir uma ferramenta simples que funcionasse de forma complementar ao ensino de inglês que os alunos têm no colégio.
“Não acreditamos em modelos desconectados da sala de aula e dos professores. Queremos trabalhar em conjunto com os livros e grades curriculares já existentes”, justifica o empreendedor.
Com base em pesquisas americanas e alemãs, Krutzinna decidiu apostar em um modelo de gamificação do ensino. Por ter trabalhado como cientista da computação na empresa que implementou o jogo Minha Fazenda no Orkut, ele entendia o perfil dos usuários online brasileiros.
Seu último desafio era descobrir qual seria o melhor canal de aprendizado. Pensando em chegar aonde a maioria dos alunos está, escolheu construir a ferramenta dentro de plataformas de conversação já utilizadas pelos brasileiros. “O chat é muito poderoso, a gente gosta de poder ter uma conversa sem precisar estar online simultaneamente”, diz Krutzinna.
Com a tecnologia de inteligência artificial criada pela startup, os estudantes podem praticar o idioma fora do horário das aulas, e os professores conseguem monitorar o progresso dos alunos remotamente.
Em 2017, quando já estava consolidada a ideia de ensinar idiomas pelos aplicativos de conversação, o Facebook Messenger e o Telegram liberaram as APIs de suas plataformas para que desenvolvedores pudessem criar produtos novos. Foi no Messenger que a ChatClass lançou a primeira versão de seu chatbot.
"O brasileiro não quer instalar um novo app no seu celular. Ainda mais as pessoas de baixa renda, que não têm aparelhos com muita memória", diz Krutzinna.
O Messenger só perdeu o protagonismo dentro da ChatClass quando o WhatsApp também liberou a criação de chatbots. Segundo a pesquisa TIC Kids de 2018, no Brasil, 70% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos têm uma conta no WhatsApp.
Krutzinna não teve dúvidas: precisava migrar para a plataforma. "Sabia que o WhatsApp seria nosso carro chefe, qualquer celular do país tem o aplicativo plugado", diz o fundador.
O serviço existe há um ano e meio no aplicativo, na modalidade paga e gratuita. Para os alunos que estão aprendendo sozinhos, a inteligência artificial oferece uma série de temas que podem ser estudados. "As tarefas de texto e áudio chegam em forma de mensagem e o aluno recebe o feedback imediato", explica o fundador.
Alunos que enviam 100 áudios na plataforma do ChatClass, em geral, melhoram sua fala do nível básico um para o básico dois, segundo a empresa. "É difícil melhorar a fala de um idioma tão rapidamente, mas com bastante prática no sistema, nós sentimos uma melhora significativa", diz Krutzinna.
Nas parcerias pagas, com marcas do grupo Kroton, por exemplo, as atividades oferecidas pela inteligência artificial seguem o plano de aulas da escola, para que o professor possa continuar a usar o material que está habituado. Nesse modelo, o educador pode criar turmas e monitorar o progresso dos alunos digitalmente.
Outro serviço que a empresa oferece aos clientes é o de intercâmbio de sala de aula. As turmas do fundamental 2 brasileiro podem ter aulas remotas com instrutores estrangeiros norte-americanos. "Grande parte dos alunos não tem poder econômico de fazer um intercâmbio, então essa é uma forma de usar o inglês com alguém de outro país", diz o presidente da ChatClass.
O sucesso do produto da empresa chamou a atenção da embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Em setembro do ano passado, a ChatClass foi convidada pelo país a lançar a primeira Olímpiada de Inglês brasileira. Em quatro semanas de desafio, mais de 130 mil estudantes e 5 mil professores participaram. Ao todo, 3 milhões de atividades foram feitas.
Krutzinna diz estar muito confiante de que a empresa está no caminho certo, mas quer acelerar seu crescimento. Para isso, planeja fazer uma nova rodada de investimentos este ano para expandir a equipe de desenvolvedores.
"Sei que temos um grande trabalho aqui na mesa, por isso precisamos dos melhores profissionais do mercado se dedicando a melhorar a educação do Brasil", afirma.