Eles transformaram empréstimo de R$ 16 mil em loja de R$ 2 mi para gatos
A paixão de Agnes Cristina e Diogo Petri por seus gatos viraram produtos que estão em 500 pet shops e, agora, irão aos Estados Unidos
Mariana Fonseca
Publicado em 16 de dezembro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 16 de dezembro de 2018 às 08h00.
São Paulo - Agnes Cristina e Diogo Petri estavam há pouco mais de três anos em uma situação conhecida de muitos brasileiros: recém demitida, Agnes se uniu ao parceiro para encontrar uma nova fonte de renda em um negócio próprio , mas não tinha dinheiro para começá-lo.
Uma aposta ousada - tomar um empréstimo bancário com altas taxas de juros - acabou rendendo frutos. O produto patenteado do casal, um bebedouro específico para gatos , projetou a loja CatMyPet. Com canais de varejo e atacado, a marca faturou praticamente 2 milhões de reais neste ano. Agora, prepara sua expansão internacional, tendo os Estados Unidos como destino.
De empréstimo a negócio
A CatMyPet surgiu em 2015, após a publicitária Agnes Cristina ter sido demitida do setor de marketing da multinacional onde trabalhava por conta da terceirização de sua área. Ela já tinha o desejo de empreender e fazia trabalhos voluntários em uma ONG de cuidados com animais junto com o parceiro, o tecnólogo em segurança do trabalho Diogo Petri.
“Fomos analisar esse mercado e vimos que havia uma oportunidade no nicho de gatos. A maioria dos negócios de pets foca em produtos para cães”, afirma Cristina. Isso porque, hoje, os cachorros dominam os lares brasileiros.No país, 44,3% dos 65 milhões de domicílios possuem pelo menos um cachorro, contra 17,7% de ao menos um gato, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, há no total 52,2 milhões de cães e 22,1 milhões de gatos.
Para a empreendedora, o número pode se inverter nos próximos anos, especialmente nas metrópoles brasileiras.“A taxa de gatos adotados é duas vezes maior do que a de cachorros. Até 2024, devemos ter 71 milhões de gatos no país”, afirma Cristina. Os números do setor em geral também animam: em 2017, o mercado pet fechoucom faturamento previsto de 19,2 bilhões de reais e expansão de quase 7% em relação a 2016, mesmo com reflexos da crise econômica brasileira.
Com o mercado analisado e tempo sobrando para empreender, restava um problema: capital para começar. “Muita gente acha que é preciso ter muito dinheiro para empreender, mas a gente estava bem falido. Minha rescisão foi para aluguel, essas coisas”, conta a empreendedora. O casal pegou um empréstimo bancário de 16 mil reais, a uma assustadora taxa de 5% ao mês.
O dinheiro serviu para colocar no mercado (e nos órgãos de patente) sua ideia de negócio: um bebedouro específico para gatos. Cristina perdeu um de seus gatos para uma doença renal e descobriu que isso era comum entre os pets - e se dava pela falta de estímulo para tomar água frequentemente. Por isso, a torneira MagiCat leva em conta fatos como a preferência dos gatos em beber água corrente, e não parada, e um motor que faz um ruído menos desagradável aos gatos do que o de bebedouros comuns.
O casal fez testes com seus próprios gatos e os da ONG em que eram voluntários. Em uma feira beneficente, levaram um pequeno estoque e venderam tudo em 15 minutos. Saíram com 15 pedidos na mão - e o plano de criar uma loja online, chamada CatMyPet.
Com dois meses de e-commerce, a CatMyPet atingiu o break even operacional e começou a pagar o empréstimo. Em dois anos, a quantia foi totalmente devolvida ao banco. Nesse meio tempo, Petri também saiu de seu emprego em uma multinacional para se dedicar inteiramente ao negócio.
A loja online adicionou outros produtos, como itens de higiene e erva de gato, e hoje possui 15 itens no portfólio. Mesmo assim, o preço da MagiCat ainda é atrativo para seus criadores. O ticket médio da torneira patenteada fica em torno de 260 reais, contra a média de 200 reais das compras em geral no e-commerce, e compõe boa parte do faturamento da CatMyPet.
Divulgação e expansão
Além do e-commerce, a CatMyPet hoje disponibiliza seus produtos ativamente em 500 pet shoes ou clínicas veterinárias, como a rede Cobasi. Nos clientes de atacado, o volume de pedidos faz o ticket médio subir para 800 reais. Essa frente já representa 75% do faturamento do negócio e, para evitar canibalismos, a empreendedora afirma que os produtos vendidos no e-commerce são vendidos por um preço maior ou igual aos vistos nos pet shops e clínicas, equiparando-se com a margem necessária ao atacadista.
Em 2017, a CatMyPet participou do reality show Shark Tank Brasil, no qual investidores-anjo analisam uma startup e fazem propostas de investimento. Não chegaram a um aporte, mas a divulgação abriu portas. Em um evento do setor, conheceram Kevin Harrington, investidor que participou da versão americana do Shark Tank.
A conversa gerou um contrato de vendas licenciadas de 30 milhões de dólares em produtos CatMyPet, dos quais os empreendedores receberão uma porcentagem.
Desde sua criação, a CatMyPet faturou 5 milhões de reais. Apenas neste ano, foram 1,9 milhões de reais. A expectativa para 2019 são agressivos 6 milhões de reais de faturamento, que deverão vir tanto da frente de exportação para os Estados Unidos quanto pelo fechamento de novas parcerias grandes, como a rede Petz, e pelo lançamento de 12 novos produtos.
O aumento nos números é acompanhado de uma expansão de membros dentro da própria casa. Hoje, o casal convive com seis gatos de estimação. Todos, claro, usam o bebedouro que originou a CatMyPet.