Depois da cachaça, ex-presidente da Nestlé aposta em gim e rum
Objetivo, segundo Ivan Zurita, é atrair público jovem. Em paralelo, investe para vender mais fora do país, tendo Ronaldinho Gaúcho como garoto-propaganda
Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 26 de março de 2019 às 20h06.
Um antigo hobby do ex-presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita, virou negócio sério. Além da Cachaça do Barão , bebida que já produz há 12 anos em sua fazenda em Araras, interior de São Paulo, agora sua destilaria vai vender também rum e gim, além de desenvolver cachaças para agradar o paladar dos mais jovens. “Nosso plano é ampliar o portfólio para aproveitar a rápida velocidade de crescimento da indústria de bebidas. Agora que ampliamos nossa capacidade de fabricação, temos condições de triplicar a produção”, diz Zurita à EXAME.
Entre os planos, também está a expansão internacional da cachaça, usando o ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho como embaixador. O valor investido não foi revelado, mas a expectativa do empresário, que hoje se dedica especialmente à agropecuária, é faturar apenas com a venda de cachaça e gim, 25 milhões de reais nos próximos 12 meses. O crescimento anual esperado para a empresa é de 25%.
A intenção é já começar a vender o Gim do Barão (o nome ainda está sendo definido) este ano. Para isso, começará a produção da bebida a partir de cereais comprados de outras fazendas. No futuro, a intenção é ter plantação própria de arroz e milho para ganhar em custo e logística. “Embora seja um processo muito parecido com o que já fazemos e as instalações serão as mesmas, temos de conseguir algumas autorizações do Ministério da Agricultura”, diz o empresário, que espera colocar a primeira garrafa de gim na rua ainda em 2018.
Juventude
Até agora, a Cachaçaria do Barão se concentrou em produzir cachaça para endinheirados que topem pagar a partir de 20 mil reais para manter uma cartola de 180 litros na fazenda e receber, quando quiser, garrafas com seu nome. Ao todo, cada cartola rende 200 garrafas de cachaça envelhecida por cinco anos em barril de carvalho. O nome do dono é gravado no tonel e nas garrafas. Entre os clientes estão o cantor Roberto Carlos, o apresentador Faustão, os empresários Benjamin Steinbruch, da siderúrgica CSN, e Pedro Moreira Salles, fundador do Unibanco, e os ex-jogadores Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho.
Algumas garrafas, cuja preço varia entre 109 a 179 reais, até são vendidas a resorts e restaurantes caros no Brasil, mas a produção ainda era pequena. Recentemente, o alambique foi reformado e a capacidade ampliada de 80 mil para 250 mil litros – a expectativa é chegar a 500 mil litros nos próximos anos. Como a produção de aguardente é feita em apenas cinco meses do ano, porque depende da safra de cana-de-açúcar, a introdução de novas bebidas ao portfólio vai ser encaixada no período ocioso, aumentando a eficiência e os lucros da empresa.
A escolha do gim como a primeira aposta além da cachaça é uma dupla estratégia. Primeiro pelo crescimento do consumo da bebida no Brasil. No ano passado, as vendas de gim subiram 111%, mais do que o dobro de 2016, ante 4% de vodca e 8% de uísque.
Segundo porque seu avanço é visto especialmente entre os jovens. Segundo dados da empresa de pesquisas Euromonitor, a América Latina tem uma das maiores populações de jovens (de 13 a 17 anos) do mundo: 8,8%, superior aos países desenvolvidos (5,6%) e acima da média dos emergentes (8,5%). E, no Brasil, parte deste público está preferindo gim à vodca ou tequila.
Outra aposta da Cachaçaria do Barão também é desenvolver uma cachaça que seja mais apreciada por jovens, para substituir a vodca em drinks como caipirinhas — as características deixariam a cachaça mais jovens ainda não estão muito claras.
Tanto a cachaça para jovens quanto o rum devem ficar para o ano que vem, mas a expansão internacional já está em curso. Para isso, o contrato do ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho foi ampliado e ele será a ‘cara’ da Cachaça do Barão na Europa, além de divulgar também o gim no Brasil. Hoje, a empresa exporta esporadicamente, mas quer ampliar o canal comercial rapidamente. “Agora que estamos fechando alguns mercados importantes, acredito que nos próximos anos as vendas ao exterior podem ser metade do faturamento”, diz Zurita.
Nada impede a expansão para ainda mais para bebidas como vodka e tequila. O alambique é um negócio de Zurita com sua filha, Daniela Zurita, e o marido Leonardo Queiroz, hoje o responsável pela expansão. Além da cacharia, Zurita se dedica à plantação de soja e à criação de gado em suas fazendas no interior de São Paulo desde que deixou a Nestlé em abril de 2012.