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Demitido na crise, chef fatura R$ 320 mil com delivery de batatas

Vall Coutinho trabalhava em um restaurante que fechou as portas. Desempregado, abriu o próprio delivery a partir de sua especialidade: batatas recheadas

Vall Coutinho e Vito Laselva, da Batata do Vall: pai e filho se uniram para abrir um delivery de batatas rostie recheadas (Batata do Vall/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 21 de julho de 2017 às 06h00.

Última atualização em 21 de julho de 2017 às 06h00.

São Paulo – Quase 14 milhões de brasileiros estão desempregados – inclusive aqueles com alta qualificação e muita experiência no mercado. E, para muitos, a saída para obter uma fonte de renda é abrir um negócio que reflita seus conhecimentos.

Foi o caso do empreendedor carioca Vall Coutinho. O chef, com 20 anos de carreira gastronômica, ficou desempregado quando o restaurante em que trabalhava fechou as portas de repente. Então, resolveu ouvir o conselho de amigos e investiu em uma especialidade sua: a batata rostie, ou suíça.

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Assim nasceu a Batata do Vall: um delivery que, no ano passado, vendeu mais de 7 mil batatas e faturou 320 mil reais. Para 2017, a meta chegar a 500 mil reais de faturamento – e expandir a operação para além do Rio de Janeiro por meio de batatas congeladas.

Desemprego e negócio em casa

A carreira de Vall foi movimentada: ele começou como chef no interior de São Paulo, trabalhando em hotéis fazenda e depois em eventos. Chegou a abrir negócios próprios, como uma cantina e uma empresa de eventos, mas a rotina de único dono o exauriu.

“Faz onze anos que eu voltei para o Rio de Janeiro. Comecei trabalhando em um hotel e outros dois restaurantes em Petrópolis. Fui para a cidade do Rio e, além de ser consultor para eventos que envolviam culinária, comecei a trabalhar com baixa gastronomia: cozinhei em quatro bares diferentes”, conta Coutinho.

No último restaurante em que Vall trabalhou, com capacidade para 400 pessoas, o dono resolveu fechar as portas de repente. O empreendedor lembra que ficou muito frustrado com a decisão.

“Tinha desenvolvido muitas coisas lá, mas o patrão reclamava que o dinheiro no vinha apenas alguns meses depois de abrir. A manutenção de um restaurante é dura, pede muita dedicação e investimento. O retorno não vem assim que você abre”, afirma. “Vi que o projeto era só financeiro e me decepcionei. Se você vai trabalhar com comida, o primeiro objetivo nunca será ganhar dinheiro.”

A frustração o levou ao empreendedorismo . “O restaurante fechou as portas e eu fiquei parado. Fui pensando em outras possibilidades e colegas me deram a ideia de vender minhas batatas rostie. Resolvi apostar nisso”, conta.

Esse era um prato que Coutinho sempre oferecia nos locais em que trabalhava – mas muitos viam as batatas suíças cozidas apenas como acompanhamento. “Nos restaurantes, trabalhava com elas de forma mais básica. Nos bares eu consegui colocar a batata já recheada. Mas não tinha a diversidade de recheios que eu faço hoje, na minha própria empresa.”

Coutinho decidiu que não cometeria o mesmo erro dos seus negócios anteriores: teria um parceiro na empreitada. Seu filho Vito Laselva, que trabalhava na área de tecnologia da informação de uma multinacional, resolveu ajudar o pai no novo negócio.

Enquanto Coutinho assumiu a produção, Laselva ficou com a administração e o financeiro do delivery, batizado de Batata do Vall – que faz entregas de batatas rostie recheadas de sabores como calabresa, camarão, carne seca e frango com cream cheese.

Batata rostie recheada de carne seca do delivery Batata do Vall (Batata do Vall/Divulgação)

Para começar, em março de 2016, os dois usaram o limite de crédito de Laselva, que era de 1,5 mil reais. “Começamos em casa, com nosso fogão e nossa geladeira. Usamos o dinheiro para comprar matéria-prima, recipientes e frigideiras. Nunca havia trabalhado com delivery antes”, conta Coutinho.

A divulgação começou por meio de uma página criada no Facebook. Nas primeiras semanas, os empreendedores vendiam cinco batatas por dia na semana útil e dez batatas por dia nos fins de semana e feriados. Em três meses, o investimento inicial se pagou e o negócio começou a gerar lucro.

Os empreendedores receberam um convite do aplicativo de delivery iFood para entrar na plataforma. Para isso, Coutinho se registrou como microempreendedor individual (MEI) e oficializou a empresa.

“Descobrimos um outro universo. Mudamos toda nossa metodologia de compra de matéria-prima, armazenamento e entrega. Ainda fazíamos em casa, mas passamos a vender 80, 90 batatas recheadas por dia. De um motoboy, pulamos para cinco”, diz Coutinho.

O crescimento foi acompanhado por uma consultoria do Sebrae, para estruturar melhor o serviço de delivery. “Fizemos um trabalho de consultoria financeira e de marketing em novembro de 2016. Foi muito positivo: se nós não tivéssemos tido essa experiência, nossa consolidação teria sido muito mais difícil”, afirma o empreendedor.

No acumulado de 2016, a Batata do Vall faturou 320 mil reais.

Crescimento

Com as maiores vendas, o prédio residencial em que Coutinho e Laselva moravam determinou que não dava para continuar com o negócio no apartamento. Pai e filho acharam uma loja, em dezembro do mesmo ano, e refizeram o fluxo de trabalho no novo local.

“Com a nova estrutura, conseguimos investir mais na apresentação e no sabor, padronizando as entregas”, afirma Coutinho. Laselva saiu do seu emprego em TI para se dedicar 100% ao negócio, junto com o pai.

Janeiro de 2017 marcou a inauguração da loja da Batata do Vall. O cardápio expandiu de oito para doze sabores. As batatas são vendidas nos tamanhos individual (400g, de 19 a 27 reais) e família (800g, até 52 reais). O ticket médio varia de 36 a 39 reais.

No mesmo mês, o negócio também entregou uma encomenda de 800 batatas congeladas para São Paulo. A filha de Coutinho, Ana Carolina Laselva, mora em São Paulo e assumiu a operação no estado.

“Tivemos de dar uma parada nas entregas de batatas congeladas, por conta de falta de estruturação para esse crescimento: elas pedem outros equipamentos de armazenamento e condicionamento”, afirma Coutinho.

A ideia é, no segundo semestre deste ano, começar a oferecer as batatas congeladas por delivery. Para isso, irão procurar um novo local, mais espaçoso. “Nossa loja atual suporta o delivery, mas não a operação de batatas congeladas. Precisamos de mais espaço para crescer”, afirma Coutinho.

Hoje, o empreendimento comercializa cerca de mil batatas recheadas por mês. Em 2017, já vendeu de 7 a 8 mil batatas – o mesmo resultado apresentado em todo o ano passado. A meta para este ano é chegar a 500 mil reais de faturamento.

Em 2018, a Batata do Vall começará a fornecer suas batatas congeladas também para eventos e abrirá uma segunda unidade no Rio de Janeiro. “Em um plano de mais longo prazo ainda, queremos estruturar franquias”, completa Coutinho.

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