Tiê Lima e Ana Luiza McLaren, do Enjoei: aporte de 3 milhões de dólares do fundo Monashees (Daniela Toviansky/Exame PME)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 19h40.
São Paulo - A carioca Ana Luiza McLaren, de 31 anos, mostrou desde cedo talento para vendas. No primeiro ano do curso de publicidade, ela era uma das maiores vendedoras dos cosméticos Contém 1g na cidade do Rio de Janeiro.
Nos últimos anos, Ana passou a exercitar essa vocação selecionando objetos usados para ser vendidos em sua loja online Enjoei, fundada em 2010 com o marido, Tiê Lima, de 33 anos. O que antes era apenas um blog bonitinho de Ana virou um portal de compra e venda de roupas, acessórios, aparelhos eletrônicos e outros itens de segunda mão com mais de 100.000 vendedores.
No ano passado, a empresa faturou 15 milhões de reais, cinco vezes mais do que em 2012. "Ajudamos a dar vida nova às roupas sem uso esquecidas no armário", diz Ana Luiza.
Vestidos, calças e blusas são os itens mais comuns. Vez ou outra há ofertas inusitadas. Já apareceram um Fusca vermelho 1983 e um gatinho malhado — de verdade — encontrado na rua (o valor de venda, 4 reais, era simbólico). A empresa cobra comissão de 20%.
"Prefiro pagar a não receber nada caso fosse dar para os parentes", diz Bianca Moura Franco, de 20 anos, universitária de São Paulo que já vendeu três pares de sapato no site.
Ana Luiza e Lima se conheceram em 2003. Eles eram funcionários da loja virtual Shoptime e, na época, Ana redigia a descrição das mercadorias. O namoro começou em 2007, quando os dois foram trabalhar na área de negócios online do Grupo Abril (que publica Exame PME).
"Decidimos morar juntos, e Tiê trouxe suas coisas para o meu apartamento", diz Ana. "Meu armário estava cheio, e não cabia mais nada." Ela separou várias peças, jogou-as no sofá e falou: "Vou vender tudo. Veja se o endereço enjoei.com.br está disponível".
Era o início de um blog que vendia peças usadas de Ana e das amigas. "Logo passei a receber uns 700 pedidos por dia e não conseguia colocar tudo no blog", diz Ana. O blog se transformou em uma loja online de verdade, e o casal foi se dedicar exclusivamente ao negócio.
Vender produtos usados na internet não é novidade. O site Mercado Livre, por exemplo, existe desde 1999. A diferença está na forma como o Enjoei se envolve com os vendedores, monitorando cada item. Ofertas com fotos escuras e de baixa qualidade e peças de origem duvidosa ou em mau estado de conservação são recusadas. "A apresentação virtual precisa ser bonita para atrair compradores", diz Lima. O Enjoei recebe em média 3.000 ofertas por dia — 25% são reprovadas.
Os produtos em destaque são descritos, com humor, por um dos três redatores da empresa. Muitas vezes, há uma historinha. Recentemente, uma camiseta foi anunciada assim: "Meninos, desculpem, mas o namoro terminou e a camiseta sobrou! Já passou da hora de ela procurar um novo lar, assim como seu antigo dono".
Os textos são reunidos num boletim enviado por e-mail três vezes por semana para 700.000 cadastrados no site. A divulgação acontece nas redes sociais. A página da loja no Facebook tem 1,4 milhão de seguidores. No YouTube são transmitidas entrevistas com blogueiras de moda que revendem suas roupas no Enjoei. No Instagram há fotos dos bastidores da empresa.
O Enjoei é um exemplo da chamada economia colaborativa. São negócios de aluguel, revenda, troca e compartilhamento de produtos e serviços. O site da americana Airbnb tem ofertas de aluguel de quartos vazios em casas e apartamentos de 192 países. A rede de lojas sueca Ikea criou um espaço em seu site para os que os clientes vendam móveis usados da marca ou troque-os por descontos na aquisição de produtos novos.
De acordo com a consultoria Forrester Research, os itens de segunda mão movimentam cerca de 15 bilhões de dólares por ano no mundo. Só os americanos, segundo o estudo, têm em média 7.000 dólares em coisas sem utilidade em casa que poderiam ser revendidas.
A inserção do Enjoei nesse mercado atraiu o fundo Monashees Capital, que investiu quase 3 milhões de dólares na empresa em 2013. "O hábito de comprar e vender coisas usadas na internet está se disseminando no Brasil", diz Marcelo Lima, sócio da Monashees. "E, conforme a classe média está aderindo, esse mercado cresce velozmente."
Consumo consciente
Propostas de negócios que promovem a economia colaborativa
Compartilhamento
Como é normalmente: Para alugar um carro, o consumidor precisa pagar, no mínimo, por uma diária completa, independentemente do período real de uso
Modelo recente: A empresa brasileira Zazcar oferece o serviço de compartilhamento de carros por hora. O mesmo veículo é usado por diversas pessoas no mesmo dia
Aluguel de produtos
Como é normalmente: Em muitos casos, as pessoas compram objetos que vão usar poucas vezes durante o ano, como furadeiras, malas de viagem e cortadores de grama
Modelo recente: Os usuários do site americano Zilok cadastram seus produtos sem uso para que outras pessoas possam alugá-los durante um período predeterminado
Uso de espaços ociosos
Como é normalmente: Quartos vazios em casas e apartamentos não têm muita utilidade para seus donos, a não ser para juntar traquitanas e acumular poeira
Modelo recente: Espaços ociosos podem ser alugados para turistas. O site americano Airbnb permite que pessoas anunciem e reservem quartos em 192 países