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Da bolsa ao batom, tudo é vegano

Por oportunidade ou filosofia de vida, empreendedores investem em linhas de produtos sem matéria-prima de origem animal

A empreendedora Natalia Pires criou a Maduu, marca de acessórios veganos: preocupação com fornecedores (Reinaldo Canato/Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Mariana Fonseca

Publicado em 29 de setembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 29 de setembro de 2019 às 06h00.

Sustentabilidade , saúde e respeito aos animais são alguns dos motivos para o crescimento da cultura vegana no país. Como resultado, o mercado para negócios voltados para veganos – aquelas pessoas que não consomem nenhum produto de origem animal ou testado em animais – está indo muito além do ramo da alimentação.

Em setores como o de vestuário e beleza, o público vegano hoje encontra diversas opções de produtos que se enquadram em sua maneira de viver e consumir. Apesar das dificuldades em encontrar números específicos sobre o mercado vegano, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) estima que haja cerca de 7 milhões de adeptos do veganismo no país, levantamento feito a partir de dados de 2017.

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Mas, além da oportunidade de negócio, há aqueles empreendedores que decidiram investir no setor por acreditar na causa e por conhecer as dificuldades em encontrar produtos que levem a sério as premissas desse público. Para o consultor de negócios do Sebrae-SP Bruno Zamith, saber se os produtos e serviços são sustentáveis tornou-se uma das questões que os clientes levam em conta na hora de decidir a compra. “Mesmo o consumidor que não é vegano está se preocupando mais com a origem do que ele consome”, afirma.

A Maduu, marca de bolsas e acessórios que trabalha apenas com matéria-prima vegana, nasceu da convicção da empreendedora Natalia Pires. Ela, que parou de comer carne ainda na adolescência, afirma que a ideia de iniciar o negócio veio da vontade que tinha em fazer algo onde pudesse colocar os seus próprios valores.

No início, quando comentava com amigos que gostaria de abrir um negócio voltado para esse público, muitos não acreditavam que isso poderia ser possível. “Acredito que estamos em uma fase de mudanças muito grande, vejo uma guinada no mundo. As pessoas estão olhando para essas questões e respeitando mais”, diz.

Em 2019, a Maduu completa seis anos, três deles com a dedicação exclusiva de Natalia. No começo, ela tocava o negócio e trabalhava em algumas lojas de roupas e bolsas. Depois de decidir se concentrar no desenvolvimento de sua própria marca, ela pediu demissão e procurou o Sebrae-SP para receber o auxílio necessário para fazer a transição.

“Fiz cursos voltados para área de marketing, aceleração de marcas de varejo e também fui a três edições da São Paulo Fashion Week com o Sebrae-SP”, diz. De tudo que aprendeu, ela destaca a capacidade de delegar, principalmente em áreas em que ela não fica tão à vontade, como a parte financeira – que hoje está sob a responsabilidade de seu pai.

Desde que passou a se dedicar integralmente ao negócio e buscar o apoio necessário, Natalia conseguiu dobrar seus ganhos com a empresa. Atualmente, a Maduu tem um faturamento semestral de R$ 74 mil. Entre os produtos que mais vendem, ela destaca a bolsa maia – que pode ser usada de três formas distintas, é feita de suede e tem desenhos étnicos. O acessório custa cerca de R$ 300 e é consumido não apenas por veganos, mas por um público em geral que se identifica com esse estilo.

Entre os maiores desafios de atuar neste mercado, a empreendedora destaca a rastreabilidade. “Antes de comprar de um fornecedor, eu preciso saber como aquele material foi feito para ter certeza que não há nada de origem animal. Até eu conseguir construir essa cadeia de fornecedores, eu tive muita dificuldade com a compra de matérias-primas”, destaca.

Além disso, muitos acabamentos para as bolsas estavam disponíveis apenas em couro, então Natalia precisou fazer algumas pesquisas para encontrar produtos similares que substituíssem esse material.

Após tanto trabalho, a empreendedora tem o objetivo de conquistar certificações para a Maduu. Esse ano, ela vai em busca da certificação da Peta (People for the Ethical Treatment of Animals), a maior organização de direitos dos animais do mundo, com mais de 6,5 milhões de membros e apoiadores. Ela também tem planos de abrir uma nova loja no ano que vem. “A Maduu foi crescendo junto comigo, conforme eu aprendia e via as tendências de mercado. Atualmente tenho uma loja física, o e-commerce e sonho em expandir meu negócio”, conta.

MERCADO EXTERNO

De olho nas tendências de mercado, o empreendedor Mario Macedo Prado incluiu uma linha vegana à sua marca de cosméticos, a Jane Angels. Lançada no fim do ano passado, a linha de produtos Vegan Rescue inclui xampu, condicionador e máscara capilar feitas a base de produtos como a manteiga de karité, óleo de coco, entre outros.

Além de ter uma rede de representantes comerciais e distribuidores que atuam em 21 estados do Brasil e no Distrito Federal, Prado já tem planos para expandir sua linha e levar seus produtos para os Estados Unidos. Até o fim do ano, ele pretende vender seus produtos em parceiros internacionais, como a megaloja online Amazon. “Hoje estamos em busca de novos distribuidores e montando equipe de vendas para atender os pontos de venda”, afirma.

Para atender às necessidades do mercado internacional, os produtos vêm passando por reformulações na embalagem. Apesar das dificuldades de atuação no mercado, o empreendedor está otimista quanto ao futuro: com o projeto de exportação e as mudanças que está fazendo, tem a perspectiva de aumento de faturamento em 50%.

“Algumas marcas não seguem os padrões de fabricação e oferecem preços muito aquém daqueles que fazem tudo da forma correta. A concorrência às vezes é desleal, mas seguimos otimistas com perspectivas futuras. O público vegano é mais exigente, sempre busca informações sobre o produto e seus compostos”, observa.

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