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Crescer não dói em empreendedores

Muitos empreendedores temem as complicações da expansão - mas descobri que, quanto maior a empresa, menores os problemas

Quando não cresce, um negócio fica frágil como uma formiga, que pode ser esmagada facilmente (Omar Franco/ sxc)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de março de 2012 às 06h00.

Meu pai às vezes enfrentava problemas no circo. Nessas ocasiões, ele visitava meu avô, que também tinha sido dono de circo, para pedir conselhos. As conversas dos dois podiam durar horas, e eu quase sempre as acompanhava.

Um dia, meu avô quis registrar para a posteridade tudo o que pensava sobre o negócio - e mandou para nossa casa um envelope cheio de bilhetinhos com recomendações para meu pai. Estava tudo escrito a lápis, com uma letra tremida, no verso de embalagens de cigarro. (Meu avô morava num asilo e, não sei bem por que, quase não tinha papel para escrever.)

Guardei alguns desses bilhetes por muitos anos. Num deles, meu avô nos aconselhava a nunca deixar nosso pequeno circo crescer, ou então correríamos o risco de perder o controle do negócio. "Sei que seu sonho sempre foi ter uma grande trupe de artistas e muitos animais exóticos, mas isso não é um bom negócio", escreveu ele para meu pai. "É melhor um circo pequeno, simpático e adorável, para não dar muitos problemas. O ideal é que, ao caminhar em volta da tenda, dê para saber tudo que está acontecendo."

Não sei quanto meu pai levou o conselho a sério — mas o fato é que, com o tempo, o circo foi encolhendo, encolhendo, até fechar. O público preferia ir a circos maiores e cheios de atrações, e as crianças relutavam em deixar de lado divertimentos modernos, como o videogame era na época, para ver uma versão reduzida do que deveria ser, como anunciava o locutor, o maior espetáculo da Terra.

Hoje, conheço muitos empreendedores que pensam exatamente como meu avô. Eles parecem ficar assombrados pelo peso da responsabilidade de gerenciar uma empresa maior. Quanto maior o negócio, dizem eles, mais caótica sua gestão - como se a felicidade estivesse em ter uma empresa pequenininha, que dê algum dinheiro e ande sozinha.


Falam também na existência de certas "dores do crescimento", que acometem as empresas em expansão, como se elas fossem insuportáveis.

Eu também já pensei assim. Quando tinha três filiais, me perguntava como meu principal cliente, dono de dez lojas, não enlouquecia. Hoje, tenho 17 filiais e posso afirmar: louco era eu. Descobri que, quanto maior a empresa, menores os problemas.

Quer ver um exemplo? Quando eu tinha dez funcionários, se um deles entrasse com uma ação trabalhista, seria 10% do pessoal me processando. Hoje, emprego bem mais gente, e menos de um 1% tem alguma questão a resolver comigo na Justiça do Trabalho.

Relativamente, as complicações encolheram. Sob esse ponto de vista, hoje também enfrento  bem menos problemas com clientes inadimplentes e fornecedores problemáticos do que no passado.

Não dá mais para saber tudo o que acontece no negócio, nem conhecer todo mundo pelo nome, mas e daí? Isso só seria possível se minha empresa continuasse pequena — e, em vez de fácil de administrar, se tornaria frágil como uma formiga, correndo o risco de ser esmagada a qualquer momento pela concorrência, pelo mercado ou pela vida.

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Meu pai às vezes enfrentava problemas no circo. Nessas ocasiões, ele visitava meu avô, que também tinha sido dono de circo, para pedir conselhos. As conversas dos dois podiam durar horas, e eu quase sempre as acompanhava.

Um dia, meu avô quis registrar para a posteridade tudo o que pensava sobre o negócio - e mandou para nossa casa um envelope cheio de bilhetinhos com recomendações para meu pai. Estava tudo escrito a lápis, com uma letra tremida, no verso de embalagens de cigarro. (Meu avô morava num asilo e, não sei bem por que, quase não tinha papel para escrever.)

Guardei alguns desses bilhetes por muitos anos. Num deles, meu avô nos aconselhava a nunca deixar nosso pequeno circo crescer, ou então correríamos o risco de perder o controle do negócio. "Sei que seu sonho sempre foi ter uma grande trupe de artistas e muitos animais exóticos, mas isso não é um bom negócio", escreveu ele para meu pai. "É melhor um circo pequeno, simpático e adorável, para não dar muitos problemas. O ideal é que, ao caminhar em volta da tenda, dê para saber tudo que está acontecendo."

Não sei quanto meu pai levou o conselho a sério — mas o fato é que, com o tempo, o circo foi encolhendo, encolhendo, até fechar. O público preferia ir a circos maiores e cheios de atrações, e as crianças relutavam em deixar de lado divertimentos modernos, como o videogame era na época, para ver uma versão reduzida do que deveria ser, como anunciava o locutor, o maior espetáculo da Terra.

Hoje, conheço muitos empreendedores que pensam exatamente como meu avô. Eles parecem ficar assombrados pelo peso da responsabilidade de gerenciar uma empresa maior. Quanto maior o negócio, dizem eles, mais caótica sua gestão - como se a felicidade estivesse em ter uma empresa pequenininha, que dê algum dinheiro e ande sozinha.


Falam também na existência de certas "dores do crescimento", que acometem as empresas em expansão, como se elas fossem insuportáveis.

Eu também já pensei assim. Quando tinha três filiais, me perguntava como meu principal cliente, dono de dez lojas, não enlouquecia. Hoje, tenho 17 filiais e posso afirmar: louco era eu. Descobri que, quanto maior a empresa, menores os problemas.

Quer ver um exemplo? Quando eu tinha dez funcionários, se um deles entrasse com uma ação trabalhista, seria 10% do pessoal me processando. Hoje, emprego bem mais gente, e menos de um 1% tem alguma questão a resolver comigo na Justiça do Trabalho.

Relativamente, as complicações encolheram. Sob esse ponto de vista, hoje também enfrento  bem menos problemas com clientes inadimplentes e fornecedores problemáticos do que no passado.

Não dá mais para saber tudo o que acontece no negócio, nem conhecer todo mundo pelo nome, mas e daí? Isso só seria possível se minha empresa continuasse pequena — e, em vez de fácil de administrar, se tornaria frágil como uma formiga, correndo o risco de ser esmagada a qualquer momento pela concorrência, pelo mercado ou pela vida.

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