Consumidores e empresários vão se beneficiar com o PIX, diz CEO da Movile
Em entrevista à EXAME, Patrick Hruby falou sobre o novo sistema de pagamentos brasileiro e os planos da Movile para os próximos meses
Carolina Ingizza
Publicado em 23 de julho de 2020 às 18h54.
Última atualização em 24 de julho de 2020 às 10h57.
Há uma grande expectativa de que o ecossistema financeiro do Brasil se transforme em 2020. Essa mudança, em parte motivada pela pandemia, deve ser catalisada pela chegada da plataforma de pagamentos instantâneos (PIX), disponibilizada para registro a partir de outubro deste ano, conforme anunciado pelo Banco Central na quarta-feira, 22.
A PIX permite que os pagamentos entre usuários sejam feitos sem intermediários, o que possibilita transferências quase instantâneas, 24 horas por dia, todos os dias do ano. O usuário poderá ser identificado por meio do número do celular, CPF, CNPJ, QR Code ou outras tecnologias que permitem a troca por aproximação, como a NFC.
O ecossistema todo está animado com a chegada do novo sistema. O Grupo Movile , de empresas como iFood, Sympla e PlayKids, vê a nova tecnologia com bons olhos e está trabalhando ativamente para estar preparado para o lançamento da tecnologia em outubro. Segundo seu presidente, Patrick Hruby, a vertical de fintechs é uma das apostas do grupo para o futuro.
Para discutir o novo sistema de pagamento e os planos da empresa para os próximos meses, Hruby falou com a EXAME. O executivo assumiu o posto em março, em plena pandemia, após o cofundador da Movile, Fabricio Bloisi, deixar a posição para se tornar presidente do iFood em tempo integral.
Confira a entrevista abaixo:
O que a Movile espera do PIX?
O PIX é uma disrupção do statu quo liderada pelo Banco Central, que fez um ótimo trabalho em envolver a indústria no processo. Essa nova forma de inovação abre muitas possibilidades, mas, como toda nova tecnologia, ela precisa entrar em prática para o mercado sentir para onde ela vai nos levar. Acreditamos que essas inovações são oportunidades de trazer algo novo e mudar a forma que estamos operando, trazendo mais funcionalidades. O PIX deve beneficiar os consumidores com mais opções de pagamentos e os pequenos empresários, que terão acesso a soluções mais específicas.
Como a Movile enxerga o mercado de fintechs?
Há um volume grande de investimentos em fintechs no Brasil. É um mercado grande, não só pelas pessoas bancarizadas mas principalmente pela possibilidade de trazer os desbancarizados para o sistema financeiro. Qualquer mercado grande e concentrado tem muito potencial, no caso das fintechs, não é diferente. Hoje, a Movile tem no grupo a Zoop, que possibilita que outras empresas se tornem fintechs, e a Movile Pay, que oferece serviços financeiros para restaurantes, como crédito e conta digital. A estratégia da Movile para fintechs é crescer os negócios atuais e também investir nas aquisições. É uma vertical ampla.
Como a Movile se adaptou à pandemia?
Por sermos um grupo internacional, com parceiras na China e na Europa, acompanhamos o impacto em outros mercados e estávamos discutindo com seriedade o possível impacto do coronavírus nos nossos negócios. Após o Carnaval, já havia um comitê pré-covid trabalhando em possíveis medidas a tomar. Em março, colocamos todos os funcionários para trabalhar de casa e buscamos dar clareza a todos de que, naquele momento, a prioridade era a saúde dos colaboradores e de seus familiares como um todo. Em segundo lugar, nos preocupamos com a saúde das empresas e do ecossistema. Adotamos medidas de congelamento de contratações e de redução de despesas. Fizemos tudo que podia ser feito para proteger o caixa. Além disso, quisemos assumir um papel de liderança para ajudar o ecossistema como um todo a atravessar o período da melhor forma possível.
Qual é a estratégia do grupo agora?
Estamos sendo proativos em pautar o futuro pós-pandemia. Queremos traçar nosso caminho e começar a pensar em como o mundo vai estar diferente. Nesse contexto, fizemos investimento na startup colombiana de entregas Mensajeros Urbanos, e, em abril, fizemos uma fusão com a Domicilios.com [ plataforma colombiana semelhante ao iFood ], mas estamos aguardando a autorização do regulador local. Ainda não estamos no pós-pandemia, mas começamos a virar a página. Nesse processo, precisamos investir no crescimento de nossas empresas e expandir em novas verticais.
Quais são os planos da empresa até o final do ano?
Nosso foco tem sido os planejamentos mais de curto prazo. Temos um norte, mas focamos os tiros mais curtos, de três meses. Assim conseguimos uma visibilidade maior e mais velocidade para adaptar planos. Até o final do ano, esperamos ter atravessado esse período difícil e estar de volta ao normal, ou no novo normal, com novas empresas como parte do grupo e investindo de forma agressiva para o crescimento das empresas que temos hoje.
Qual é o principal desafio para a Movile hoje?
O desafio para todos é a pandemia que seguimos atravessando. É algo que tem potencial de impactar a saúde de todos e que impacta a economia como um todo. É nosso desafio maior e primordial, gera incertezas e demanda muitas decisões que precisam ser tomadas com somente 50% de informação. Em uma empresa de tecnologia, nosso oxigênio é sempre crescimento, estamos sempre buscando nos reinventar e inovar, mas é difícil focar isso quando estamos preocupados com a saúde das pessoas e com a situação de cada um em casa. Estamos fazendo o melhor para atravessar esse período para que possamos voltar a buscar atingir o sonho de impactar 1 bilhão de pessoas no mundo.