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Conheça o avião anfíbio brasileiro que já está em 30 países

A pequena empresa Seamax apresenta tecnologia e números gigantes: em 18 anos de história, vendeu 150 aeronaves e é avaliada em US$ 12 milhões

O avião M22, da Seamax: aeronave anfíbia brasileira já teve 150 unidades vendidas em 30 países diferentes (Seamax/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 27 de julho de 2017 às 06h00.

Última atualização em 27 de julho de 2017 às 06h00.

São Paulo – Quando se fala em empresas aéreas brasileiras, o primeiro nome que vem à mente é o da gigante Embraer. Porém, as inovações tecnológicas de peso podem estar onde menos imaginamos. Por exemplo, nas pequenas empresas .

É o caso do empreendimento carioca Seamax. A empresa, nascida a partir da ideia de um designer-engenheiro no começo dos anos 2000 e hoje com sede em São Paulo, desenvolveu seu próprio modelo de aeronave anfíbia. Chamado de M-22, o avião pode pousar na água, no gelo e na terra.

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De lá para cá, a Seamax vendeu 150 unidades do M-22 para 30 países diferentes. Avaliado em 12 milhões de dólares (cerca de 38 milhões de reais, na cotação atual), o negócio firmou parceria com uma universidade americana e abrirá uma montadora no país, começando sua expansão internacional de produção.

O avião anfíbio

O projeto da aeronave M-22 começou em 1998, quando o designer e engenheiro Miguel Rosário recebeu a encomenda de um pequeno avião experimental que pousasse na água. Com o sucesso do projeto para o primeiro cliente, os pedidos foram crescendo por boca a boca.

No ano seguinte, o aporte de investidores portugueses faria com que o M-22 (batizado assim por ser 22º projeto de Miguel Rosário) pudesse ser produzido de forma serial.

Segundo a Seamax, seu diferencial em relação a outros concorrentes com aviões anfíbios vem da experiência em fuselagem com materiais compostos, como fibra de carbono.

“O destaque da nossa aeronave é oferecer a união entre leveza, resistência e capacidade de carga, o que dá mais autonomia de voo e melhora a performance do avião”, defende Shalom do Amaral, diretor de operações da Seamax nos Estados Unidos.

O avião M22, da Seamax, na praia (Seamax/Divulgação)

No início da empresa, o mercado nacional representava a grande maioria dos pedidos. O cenário mudou com o tempo: hoje, o negócio possui certificações em 19 países diferentes e 60% das unidades vendidas vão para exportação.

Isso porque a Seamax aproveitou um bom momento do mercado americano para expandir logo nos primeiros anos de empresa. O país regulamentou a categoria Light Sport Aircraft (“aeronave leve esportiva”) em 2004 e, poucos anos depois, a empresa brasileira conseguiu ser certificada. “A nossa aeronave foi a primeira aeronave anfíbia do mundo todo a ser certificada nessa categoria americana”, completa Amaral.

Enquanto isso, até pouco tempo a categoria era considerada experimental no Brasil. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) colocou regulamentações nos últimos anos que tornaram a aeronave leve esportiva uma categoria formal. As empresas, agora, devem passar por processos de auditoria e inspeção para serem certificadas – a Seamax está em fase de inspeção, que deve ser concluída no próximo mês.

Crescimento e expansão para os Estados Unidos

Nos 17 anos de produção serial da Seamax, 150 unidades do M-22 foram vendidas para 30 países. O avião anfíbio custa 150 mil dólares em seu modelo com asas dobráveis (na cotação atual, cerca de 470 mil reais).

A empresa diz enfrentar problemas tanto para fabricar quanto para vender o M-22 em território nacional, por conta da cotação do dólar. “Como grande parte das nossas peças são importadas, nosso preço é indexado ao dólar. Com a moeda tão valorizada e a tributação, o preço final é alto e fica complicado para as pessoas adquirem algo desse porte”, diz Amaral.

Foto de cliente com o avião M22, da Seamax, na neve (Seamax/Divulgação)

Diante disso, a Seamax firmou uma parceria com a Embry-Riddle Aeronautical University, uma das maiores universidades aeronáuticas e aeroespaciais do mundo, localizada na Flórida. Segundo o diretor da Seamax, a Embry-Riddle já formou vários profissionais da NASA.

O acordo inclui o uso gratuito das instalações da universidade, em troca de a empresa também funcionar como uma espécie de laboratório para os estudantes fazerem pesquisa e desenvolvimento.

No local, a Seamax vai montar uma fábrica para fazer a montagem final de seus aviões: o motor e outras peças podem ser mandadas direto para os Estados Unidos, evitando a tributação brasileira e reduzindo o custo de produção. “Um motor que usamos nas aeronaves vem da Suíça. No Brasil, o custo final fica em 26 mil dólares. Nos Estados Unidos, fica em 15 mil dólares”, exemplifica o diretor.

Além do benefício financeiro, a montadora irá facilitar a expansão da Seamax no mercado americano – que é o maior no setor de aviação leve esportiva. “Hoje, apenas 10% dos nossos pedidos são para os Estados Unidos. Agora poderemos agregar um selo ‘Made in USA’ na aeronave, o que é bem valorizado por aqui.”

A previsão é de que tal operação de anexação do motor e das partes do avião nos Estados Unidos comece em janeiro de 2018.

O grande dilema da Seamax, agora, é continuar dividindo sua operação ou se instalar de vez no novo país. “Eu não gostaria de ver nossa empresa sair por completo, gostaria que continuasse sendo um produto do Brasil. Por isso, nossa intenção é melhorar nosso custo de produção na montagem final, mas manter a fuselagem brasileira”, explica Amaral.

O avião M22, da Seamax, em terra (Seamax/Divulgação)

Números e projetos

A Seamax está atualmente avaliada em 12 milhões de dólares – o negócio não abre números de faturamento. Segundo Amaral, a empresa está em negociação com investidores para aportar na expansão da nova fábrica de montagem final.

A meta é produzir mais 30 aeronaves no próximo ano. A partir daí, o negócio irá expandir gradualmente sua produção anual, chegando a 90 aeronaves em 2021. O alvo das próximas vendas também são os Estados Unidos.

Em termos de pesquisa e desenvolvimento, a Seamax está prototipando uma segunda aeronave nos moldes da M-22 e também um avião anfíbio para até cinco lugares – ambos ainda sem previsão de lançamento.

Em longo prazo, nem os carros voadores escapam do planejamento do negócio. "Estamos pesquisando como usar a regulamentação das aeronaves anfíbias como um possível modelo de regulamentação para os futuros carros voadores. Afinal, daqui a uns quinze anos, isso pode ser uma realidade", conclui Amaral.

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