Conheça a startup que renegocia R$ 40 mi em dívidas todo os meses
A BLU365 é uma plataforma digital para negociar dívidas que cresce em um mercado muito fértil: o de 65 milhões de negativados brasileiros.
Mariana Fonseca
Publicado em 19 de janeiro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 19 de janeiro de 2018 às 11h26.
São Paulo – A crise econômica só piorou a situação já dramática da inadimplência no Brasil. Hoje, o país conta com 65 milhões de pessoas negativadas, que não encontram formas simples de conseguirem renegociar suas dívidas e voltarem a ter o nome limpo.
Onde há dor, há espaço para a criação de novos negócios. A plataforma digital BLU365, antes conhecida como Kitado, nasceu para ajudar instituições financeiras e prestadoras de serviços a alcançar clientes inadimplentes – e, por outro lado, ajudar tais consumidores a resolverem sua vida financeira.
Mensalmente, a startup atende 45 mil famílias e renegocia 40 milhões de reais em dívidas. Hoje, já fechou parcerias com importantes players do setor, como o Itaú Unibanco.
Ideia de negócio
Os empreendedores por trás da BLU365 são o engenheiro de computação Alexandre Lara e o estatístico Paulo de Tarso. “A gente navegou na área financeira em nossa carreira e vimos algumas dores na relação dos clientes com sua vida financeira”, afirma Lara.
Eles perceberam que, em um período de crise, há uma boa parcela da população com dificuldades orçamentárias. “Hoje o país possui 65 milhões de pessoas negativadas, o que az da inadimplência um problema social.”
O trabalho de reorganização das contas é complexo e, diante de uma falta de atendimento consultivo dos bancos, tais pessoas não sabem de alternativas para reaver seus controles financeiros. Para prestar essa consultoria nasceu a Kitado (agora BLU365), em fevereiro de 2014.
“Nós nos apresentamos como parceiros. Poucos bancos e prestadoras de serviço se interessam por esse mercado, mas a gente tem mostrado que logo esses consumidores voltarão a ser clientes.”
No caso de uma prestadora de serviços de telefonia e televisão atendida pela BLU365, por exemplo, 8% dos clientes antes negativados procuraram a startup para reativar os serviços de TV por assinatura.
Diferencial de atendimento
A BLU365 se posiciona não apenas como um serviço financeiro, mas como uma startup de relacionamento com os negativados.
O primeiro passo é encontrar o cliente negativado e gerar um contato com ele, afirma Lara. Para isso, a startup entende os hábitos digitais do consumidores – como redes de preferência – esse apresenta de forma 100% online, intitulando-se um parceiro.
Para entender esse comportamento do público-alvo, a BLU365 incorporado conceitos como inteligëncia artificial e machine learning: os “robozinhos” do negócio catalogam e interpretam conteúdos e informações geradas pelo usuário antes e durante as conversas com ele – obviamente que, após o próprio usuário começar a falar diretamente com o negócio, a abordagem fica bem mais eficiente.
Após esse contato, o segundo momento é de engajamento. “Nossa conversa tem de ser muito boa e relevante, com um nível de confiança alto a ponto de ele nos procurar para fazer o pagamento. Para isso, oferecemos facilidades gratuitas, como um canal no YouTube, ações offline em comunidades e apresentação de nossos parceiros de renda extra.”
Um exemplo de parceiro é a startup DogHero, na qual o usuário pode se tornar um anfitrião de pets em sua casa, em troca de dinheiro dos donos. Depois de quatro meses, 30% dos clientes atendidos pela BLU365 que usaram o DogHero continuam sendo anfitriões.
Depois desse engajamento, chega o momento de apresentar as alternativas para os negativados parcelarem melhor suas dívidas e finalmente se sentirem aliviados. Um diferencial da BLU365 é oferecer diversos canais de atendimento, afirma Lara.
“As tentativas tradicionais de falar com o cliente não costumam dar certo por muito tempo: muitos, por exemplo, deixam de atender ao telefone. É um modelo que invade a privacidade do consumidor e não respeita horários. Conosco, ele pode falar pelo site, pelo Facebook e pelo WhatsApp, por exemplo, escolhendo seu canal preferido.”
Entrando na plataforma, o usuário pode ver seus pagamentos pendentes e as opções de renegociação. Os próprios bancos costumam oferecer operações incentivadas, com parcelamentos e mais descontos dados se o pagamento for feito em menores parcelas.
Fechando com a melhor proposta, ele recebe informações específicas para seu pagamento e recebe os boletos bancários. O processo demora cerca de quatro minutos, diz o empreendedor, e é feito integralmente de forma online.
O Net Promoter Score (NPS) da BLU365, índice que mede a satisfação com o atendimento, é de 53%. Acima de 50%, o serviço é considerado “bom”.
Como forma de monetização, a startup cobra uma taxa de sucesso da empresa contratante. A taxa depende muito do tamanho da dívida, dos dias de atraso e do perfil do cliente – mas costuma girar em torno de 10% do valor total. O ticket médio de dívida é de dois mil reais.
Todo mês, o empreendimento atende 45 mil famílias e ajuda a renegociar 40 milhões de reais em dívidas.
Algumas das empresas que usam o serviço da startup são Casas Bahia, Itaú Unibanco (a mais nova parceria, fechada em dezembro de 2017), Magazine Luiza, Ponto Frio e Santander. São 20 instituições com a plataforma já operando e outras três em fase de inicialização.
Aportes e planos futuros
Em junho de 2016, a BLU365 recebeu seu primeiro aporte, de valor não revelado, do conhecido fundo de investimento Monashees. Após esse investimento seed, o plano é obter um aporte série A.
“É um momento positivo em termos de mercado, ao menos para nosso nicho, mas ao mesmo tempo temos uma agenda política complicada. Se iremos captar em 2018 dependerá das condições conjunturais”, afirma Lara. “Provavelmente deixaremos para 2019, com o objetivo de acelerar nosso crescimento.”
Mesmo com o investimento postergado, a BLU365 tem metas agressivas para este ano. Nos próximos meses, planeja bater a marca de um milhão de famílias atendidas, intensificar parcerias e dobrar o faturamento. A startup não revela quanto fatura em números absolutos.